Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, REDD: Incentivos para preservação são falhos, dizem lideranças
Um eclético grupo de ambientalistas, empresários, indígenas e executivos do Banco Mundial (Bird) apontam a maior falha da vedete atual nas discussões internacionais sobre mudanças climáticas e florestas, o REDD, e sugerem sua correção. A sigla se refere à Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, um mecanismo financeiro que poderá garantir recursos para quem desmatou no passado, mas vem conseguindo reduzir a taxa de derrubada de florestas – diminuindo, assim, a emissão de gases-estufa na atmosfera. O problema é que é preciso que existam recursos que recompensem também países e comunidades que já estão preservando, fazendo manejo sustentável e até expandindo suas florestas. Por Daniela Chiaretti, de São Paulo, do Valor Econômico, 08/10/2008.
“Uma das principais críticas que se faz ao REDD é que ele acaba premiando quem mais desmatou e pode ser injusto com quem mais preservou”, esclarece Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e um dos co-presidentes do chamado Diálogo das Florestas – Iniciativa Florestas e Mudanças Climáticas.
Quem desconfia do REDD enxerga uma perversidade no mecanismo. Ele premiará, com recursos financeiros, quem conseguir diminuir suas taxas de desmatamento, e assim, reduzir a emissão de gases-estufa – uma espécie de Bolsa-Desmatamento, segundo seus críticos mais ácidos. Por esta lógica, Estados campeões de desmatamento, como o Mato Grosso, que reduzissem a derrubada no futuro, seriam recompensados; mas Estados até agora campeões na preservação, como o Amazonas, não ganhariam nada. “Esta é uma discussão muito delicada. Alguns países africanos perguntam assim: “então, eu que nunca desmatei tenho que começar logo, para depois reduzir e então ganhar algo com isso?”. Por isso recomendamos que, em paralelo ao REDD, também se encontrem mecanismos que remunerem o estoque existente de florestas”, diz Smeraldi.
Este grupo diverso de lideranças vem discutindo clima e florestas há um ano, desde a Conferência de Báli, por iniciativa da Universidade de Yale. Junta executivos do Bird, da Aracruz Celulose e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), por exemplo. Hoje, durante o megacongresso de conservação promovido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que reúne 8 mil pessoas em Barcelona, o Diálogo das Florestas (The Forests Dialogue) divulgará um documento que sugere alguns princípios que deveriam guiar as negociações internacionais em mudanças climáticas em curso para o pós-2012, quando expira o primeiro período de compromissos do Protocolo de Kyoto.
Depois, eles encaminharão o documento à presidência da próxima conferência do clima, em Poznan, na Polônia, em dezembro. “Estamos procurando entender o que é REDD e dizer que não se deve tratar de políticas de florestas sem passar pelas organizações indígenas. São os índios, afinal, os que mais preservaram as matas e queremos participar da discussão”, disse, em Barcelona, o vice-coordenador da Coiab Marcos Apurinã.
[EcoDebate, 09/10/2008]
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