Políticas de curto prazo para eficiência energética, artigo de Rodrigo Aguiar
[Correio Braziliense] As alterações no clima do planeta são concretas e o grande responsável pelo cenário é o setor de energia no mundo, por meio das emissões de gases do efeito estufa (GEE). As consequências vão de panoramas catastróficos a moderados, com perturbações que afetam e afetarão muito a vida do planeta. No Brasil, segundo especialistas, comprometerão sobretudo a agricultura, a saúde, a habitação, a economia e a segurança energética.
As emissões de CO2 em 2012 cresceram 1,4% em todo o mundo, mas foi considerada uma notícia positiva, pois a expectativa era de incremento muito maior. A China é o maior emissor do mundo. No entanto, o acréscimo de emissão em 2012 (300 milhões de toneladas) foi bem menor que nos anos anteriores, em função dos fortes investimentos em energias renováveis e eficiência energética. Nos Estados Unidos, o decréscimo de emissões fez o país chegar a 200 milhões de toneladas, nível apresentado em meados de 1990. Na Europa, a crise e a desaceleração econômica fizeram o continente reduzir em 50 milhões de toneladas de CO2 as emissões.
O Brasil de 2005 a 2010 conseguiu reduzir 38,7% das emissões. A Agência Internacional de Energia (AIE) aponta que, com o ritmo atual de emissões, a temperatura do planeta deve crescer entre 3,6ºC e 5,3ºC nas próximas décadas, o que é muito preocupante. Ainda, dois terços dessas emissões são provenientes do setor energético.
E aí está a preocupação, no setor energético. Em 2005, o Brasil fez seu primeiro inventário de emissões e o setor de florestas era responsável por 57% das emissões nacionais. Em 2010, com os progressos neste setor, a fatia caiu para 22%. Segundo o relatório, desde 2010 a agropecuária lidera o ranking (35%), seguido dos setores energético (32%), de processos industriais (7%) e de tratamento de resíduos (4%).
O setor de energia foi o que mais aumentou as emissões: +21,4%. O país conseguiu resultado importante na redução global da emissão dos GEE, mas, analisando detalhadamente, é possível ver que o forte aumento do setor de energia é preocupante. Ações objetivando frear essa elevação necessitam ser implantadas.
A presidente Dilma Rousseff, durante o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), realizado em Brasília, em junho de 2013, disse que a meta de emissões de CO2 do Brasil para 2020 é “extremamente passível” de ser cumprida. Afirmou que haverá uma tendência inexorável de aumento das térmicas na matriz decorrente de hidrelétricas a fio d’água e de energia eólica.
Para a presidente, são energias que não têm mecanismos de reserva e que mudam em relação ao clima; por isso são necessariamente voláteis e necessitam, portanto, ser firmadas por térmicas. A afirmação reforça, assim, a política do governo de manutenção da tendência atual na expansão da geração de energia elétrica por termoelétricas e, principalmente, carvão.
Segundo a PricewaterhouseCoopers (PwC), no relatório “Índice de economia de baixo carbono”, a eficiência energética foi a grande responsável pela diminuição na intensidade de carbono da economia mundial. Cerca de 92% da redução da intensidade de carbono atingida em 2012 foi em decorrência de melhoras na eficiência energética, enquanto apenas 8% foram de uma mudança para um mix energético mais limpo.
No Brasil, o Plano Nacional de Energia (PNE), o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) e o Decreto nº 7.390, que regulamenta a Política Nacional de Mudança do Clima, expressam claramente o compromisso brasileiro para o incremento da eficiência energética no país. Portanto, o norteamento sobre as políticas para incremento da eficiência energética para o país existe, bem como um mercado e fornecedores habilitados.
É sabido que o desperdício energético no Brasil é enorme e está praticamente estagnado nos índices ligados à eficiência energética na última década. Existe um descompasso entre a teoria e a realidade. Muitos projetos de eficiência energética são instalados nos diversos setores da economia brasileira, mas, pelas dimensões do país, ainda é muito pouco frente ao potencial e à necessidade. Se realmente o objetivo é conquistar resultados, é preciso tirar os planos das gavetas e ser mais arrojado na implantação de políticas de curto prazo.
Rodrigo Aguiar, Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco).
Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense e socializado pelo ClippingMP.
EcoDebate, 27/12/2013
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