Proibidos, falsificados e perigosos, agrotóxicos são vendidos descontroladamente
A venda descontrolada de agrotóxicos ganhou na internet um novo canal para driblar a lei, dificultando a fiscalização e ampliando o risco à saúde de consumidores e agricultores. A novidade agrava um cenário em que uso exagerado dos químicos na lavoura o consumo cresceu muito acima da área plantada , contaminação da água e dificuldade de identificar eventuais excessos de veneno nos alimentos que chegam à mesa se combinam para elevar o perigo escondido nos alimentos.
A reportagem é de Caio Cigana, publicada pelo jornal Zera Hora, 24-11-2013.
Zero Hora flagrou a venda ilegal de agrotóxicos pela internet. A reportagem negociou a compra e a entrega de três produtos com comercialização e uso proibidos no Estado, apresentando-se como agricultor ou dono de agropecuária em e-mails e ligações telefônicas gravadas. Questionado sobre o risco de a carga de ser apreendida, o vendedor que se identifica como Mauricio, de Monte Aprazível (SP), não mostra receio com a venda ilegal:
– Se eles (a fiscalização) travar (sic), o pessoal dá um jeito de recolher a mercadoria, mas se passar entrega tranquilo – garante.
Sem regras, a negociação online de defensivos aumenta a brecha para irregularidades que vão de crimes ambientais a infrações mais graves, como derrame de produtos falsificados, contrabandeados e roubados. No Estado, a venda pela internet permite que agricultores e donos de lojas negociem herbicidas e inseticidas proibidos por terem sido banidos em seus países de origem devido ao alto teor tóxico e ao perigo à saúde e ao ambiente. Gramoxone 200 e Gramocil são feitos à base de paraquat, princípio ativo que, apenas entre 2005 e 2011, causou 165 envenenamentos e 35 mortes conforme registros do Centro de Informações Toxicológicas (CIT) do Estado.
Outro produto proibido é o Mertin 400. Mesmo alertados de que o produto era proibido no Rio Grande do Sul, vendedores confirmam a entrega no Estado. A multinacional Syngenta, fabricante dos três produtos, tenta liberar esses agrotóxicos na Justiça gaúcha.
Flagrante detecta produtos ilegais e sem origem
No dia 14 de novembro, a partir das investigações de ZH, fiscais da Secretaria da Agricultura deram uma batida em uma agropecuária de Venâncio Aires citada por um dos vendedores como cliente antigo. Além de o estabelecimento sequer ter licença para vender agrotóxicos, foram encontrados produtos proibidos, sem registro no Ministério da Agricultura (Mapa) e sem origem comprovada. Apenas ano passado, a Secretaria da Agricultura flagrou 73 estabelecimentos sem autorização para a venda de agrotóxicos e outros 26 com agrotóxicos ilegais.
O chefe da divisão de fiscalização de agrotóxicos do Mapa, Álvaro Ávila, ressalva que a comercialização de defensivos pela internet, apesar de não ter regulamentação, não é proibida – desde que obedeça a lei. O problema é que, mesmo quando fungicidas, herbicidas e inseticidas são legais, em regra as vendas são feitas por empresas sem licença para comercializar venenos agrícolas.
As ofertas aparecem em sites populares que abrigam anúncios de venda de todo tipo de produto, segmentado em agronegócio, e em portais especializados em defensivos criados por companhias reais ou fictícias. As especializadas dizem funcionar como uma espécie de bolsa de mercadorias, apenas aproximando fornecedores e compradores. Como não venderiam diretamente o produto, isso dificulta o enquadramento na lei. Mesmo assim, abrigam anúncios de interessados na compra de produtos vetados no Rio Grande do Sul. Quando a fiscalização vai até o endereço onde funcionaria o negócio, ninguém é encontrado. O que atrai, muitas vezes, é o preço abaixo do mercado, embora não exista a garantia de o produto ser legal. E, na hipótese de ser falso, o comprador sequer tem amparo para reclamar.
– Pela internet, não tem como checar se a empresa existe ou é fantasma. Nossa preocupação com isso é total. Abre brechas para que as pessoas que não tomam a cautela necessária sejam ludibriadas – alerta Fernando Marini, gerente de produto do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
Além de ignorar o receituário agronômico, instrumento semelhante ao usado em medicamentos controlados, o transporte do produto também afronta a legislação. Embora os agrotóxicos sejam classificados como carga perigosa, os vendedores prometem entregá-los até em veículos particulares. Se o volume adquirido for pequeno, mais duas ilegalidades: podem chegar ao destinatário pelos Correios e, ainda, fracionados.
(EcoDebate, 27/11/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
[ O conteúdo do EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.
Estamos cansados da insanidade em nome do lucro, estamos nos deixando envenenar indiscriminadamente, por isso meu aval a campanha…..
Tive a oportunidade de ver na região sul de Minas Gerais, onde se produz muito morango e batata, a recomendação de Temik e Brestan (Acetato de Trifenil Estanho) para pulverização nestas culturas.
Em um dos casos, o produtor queixou-se que depois de pulverizar o morango com fungicida a base de estanho, teve muita dor de cabeça e enjôo.
Segundo o vendedor, era muito fácil enganar a fiscalização. Tira-se a nota em nome de outro produtor ou com outra inscrição e pronto.
Sem falar nos produtos proibidos no Brasil, mas que entram livremente via Paraguai.
Onde a responsabilidade de nossas autoridades, que permitem atrocidades tais? Onde o respeito à saúde íntegra dos cidadãos brasileiros?