A encruzilhada fóssil do século 21, artigo de Ana Paula Carvalho
[EcoDebate] Mais uma vez e ainda que o assunto possa parecer maçante, vamos tratar do petróleo, ouro negro que move o mundo e cria economias e devasta sociedades. Afinal, o petróleo sempre esteve aqui durante não milhares, mas sim milhões de anos, apenas não sabíamos ou não tínhamos utilidade prática para ele. Já foi uma importante arma de guerra chamada Fogo Grego, mas era colhido na superfície da terra e assim mesmo era misturado com outros componentes químicos pelos extraordinários alquimistas da antiguidade.
A verdade de tudo isto é que o petróleo é essencial para a sobrevivência da humanidade nos dias atuais, assim como uma droga que é já que somos dela dependentes, nos vicia no seu uso indiscriminado. Se remontarmos ao inicio do Séc. XX, poderemos observar alguns aspectos curiosos do desenvolvimento humano através dos tempos. Alguns filmes interessantes sobre como essas alterações mudaram fronteiras, países e sociedades são “Laurence da Arábia” e “O Príncipe do Deserto”, este último mais recente, mas mostra de forma muito clara a transição do mundo tradicional árabe para o ocidental econômico.
A grosso modo, podemos dizer que os árabes na sua maioria viviam da areia do deserto, extremamente pobres por não terem meios mais efetivos de subsistência devido ás condições geográficas e climáticas onde se encontram. Na maior parte destes países reinava a miséria absoluta até que as grandes companhias de petróleo, mais precisamente a TEXACO (Texas Company), descobriram que ali existia o ouro negro de alta qualidade, quase tão refinado que não precisaria ser destilado. Isso fez e faz com que aquelas economias prosperassem a olhos vistos, e alguns países atentaram para investir em tecnologia e turismo como a Arábia Saudita, Kwait, Omã e outros. Dubai é um excelente exemplo de investimento no setor de turismo. Alguns se tornaram mais belicistas, Irã, Iraque, Jordânia, etc…
Neste caso, estas nações são obrigadas a viver do petróleo até que criem alternativas sustentáveis, por não terem outras riquezas que possam explorar. Aqueles que durante os períodos de exploração não tiverem a visão de que precisam criar novos segmentos de exploração quando o ouro negro acabar estarão fadados ao fracasso, á fome, guerras e tudo o mais que a miséria atrai.
Faço um comparativo com a localidade onde moro para chegar ao cerne da questão que aqui coloco para debate que é o seguinte: existem vários comércios ao meu redor, num primeiro momento todos vendem basicamente as mesmas coisas e possuem os mesmos fornecedores variando uma ou outra coisa não muito significativa. Ainda que todos tenham os mesmos produtos e façam um equilibro de forças quanto aos preços, procuro dividir a minha renda entre eles, ou seja, compro água num, gás em outro, pão num terceiro, ração num quarto e assim por diante. Desta forma procuro manter o comercio ativo e competitivo, não gerando um desequilíbrio comercial que leve este ou outro à falência do seu negócio.
Na indústria do petróleo é a mesma coisa, existe o bloco da OPEP que são os países produtores de petróleo dos quais na América do Sul apenas a Venezuela e o Equador fazem parte de um total de 13 membros. E existem os demais países que produzem petróleo, alguns de alta qualidade e outros de tão baixa qualidade que muitas vezes nem compensa extrai-lo. O Brasil ficou muito tempo nesta última posição com um petróleo pesado e extremamente caro para minerar, sendo forçado a comprar compulsivamente petróleo no exterior, ainda que tivesse reservas consideráveis. Hoje somos autossuficientes nesse produto, mas nem por isso temos os derivados de petróleo mais baratos em função dessa autonomia, pelo contrário pagamos senão o mais caro preço pelo produto o valor mais aproximado.
Com isso chegamos numa encruzilhada econômica. Dubai cidade do emirado com o mesmo nome e que constrói verdadeiras maravilhas turísticas com o dinheiro do petróleo (estima-se que 25% de toda a mão de obra da construção civil estão concentradas lá) tem picos de desenvolvimento da seguinte forma: Quando o barril de petróleo está num patamar favorável, com preço atraente, o país investe em infraestrutura e cresce no sentido de fazer do turismo uma nova fonte econômica, porém quando o valor do barril não é favorecedor, em baixa, todas as obras param por tempo indeterminado, ficando assim á mercê do mercado flutuante do valor do barril de petróleo.
Como em qualquer equação econômica, estes países são regidos pela lei da oferta e da procura e contam com isso para o seu desenvolvimento. Quando escasseamos um produto essencial do mercado, os valores tendem a subir e se tornar até inalcançáveis. O mesmo acontece quando injetamos uma grande quantidade de produtos do mesmo segmento nesse mesmo mercado, o valor fica tão baixo por conta da excessiva demanda, que muitas vezes chega a perder o valor financeiro. O petróleo também é assim, se houver uma demanda excessiva da produção a nível mundial, estaremos condenando algumas nações à pobreza, talvez algumas à pobreza extrema, por estarmos reduzindo seus principais produtos a pó, se é que podemos chamar assim. Ninguém em sã consciência quer uma maior discórdia futura no mundo árabe além da já existente.
O mundo em que vivemos é muito volátil e de difícil equilíbrio, é preciso termos cuidado com o que desejamos e com aquilo que podemos e temos capacidade de fazer. A exploração indiscriminada de qualquer tipo de riqueza ou reservas naturais traz o caos e desequilibra a aparente paz mundial. Mesmo com tanta riqueza que os países produtores de petróleo possuem, ainda assim a pobreza e a miséria persistem ficando evidente que não é a solução para todos os males. Talvez nem esteja perto!
Volto a comentar que: independente das riquezas naturais que possuímos precisamos de alternativas a elas. Se tivermos petróleo para mais 200 anos não pode significar que precisamos ficar presos ás tecnologias inerentes a esse produto. Se precisarmos travar infinitas guerras para desta forma podermos desenvolver novos medicamentos e similares, acabaremos por nos extinguirmos na tentativa de achar as soluções. A solução sempre estará no Plano B, antes que o Plano A chegue ao fim!
Ana Paula de Carvalho é Engenheira Civil; Mestrado em Gestão e Perícia Ambiental. Barlavento & Sotavento
EcoDebate, 26/11/2013
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