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Contaminantes emergentes e o cheiro do café, artigo de Efraim Rodrigues

 

café
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

[EcoDebate] Quando crescer quero ser como o Professor Perry Anderson da Universidade da California que só dá entrevistas quando tem algo novo a dizer.

Como ainda tenho o compromisso de escrever esta coluna toda santa semana, nem sempre posso trazer uma grande novidade, mas felizmente não é o caso hoje.

Faz tempo que venho preocupado com a presença de hormônios e outras substâncias na água, e com o fato que nenhum tratamento de esgoto é capaz de retirá-los. Como o esgoto, mesmo tratado, termina nos rios, estamos bebendo, tomando banho e cozinhando nisto. Hormônios são medidos em microgramas por litro, algo como diluir um sachezinho de sal em 1000 caixas de água, mas mesmo assim são importantes porque a contagem de espermatozoides não para de cair desde 1960, assim como a idade da primeira menstruação, ambos fenômenos associados com o aumento de exposição ao estrogênio.

A novidade é que um estudo da UNICAMP mostrou que a situação é muito pior. Há centenas de novas substâncias sendo empregadas na medicina, agricultura e indústria cujos riscos são desconhecidos e que igualmente aos hormônios humanos, podem atuar em concentrações muito baixas de partes por milhão, bilhão e até trilhão.

Por causa disto, os métodos analíticos para determinar estas substâncias são caros e ainda pior não sabemos direito o que procurar porque são milhares de substâncias novas a cada ano, muitas com potencial contaminante.

Os hormônios na água não vêm só do xixi de mulheres que usam pílula anticoncepcional. O xixi de todos mamíferos tem hormônios. O tratamento de esgoto retira o nitrogênio e a carga orgânica, mas o hormônio fica lá. Imagine o hormônio de milhões de pessoas sendo lançado em um rio, como ficam as cidades rio abaixo ?

Ainda pior, muitas das novas substâncias têm atividade estrogênica, ou seja, seu corpo responde a elas como se hormônio feminino fossem.

A única boa notícia nisto tudo vem do indefectível café. Mesmo não conhecendo direito o coquetel de poluentes emergentes na água, já sabemos que água que tem concentração de cafeína, tem também dos outros contaminantes emergentes. Os contaminantes como que falam para nós; quando você cheirar café, eu estarei por perto.

Do jeito que estamos perdidos com isto, ter descoberto um indicador da presença de hormônios na água já é boa notícia.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

 

** Nota: sobre o tema Contaminantes Emergentes, sugerimos que leia, também:

Os Contaminantes Emergentes – O Que Os Olhos Não Veem E O Corpo Todo Pode Sentir

Contaminantes Emergentes: Difíceis De Remover Nas Estações De Tratamento De Água, Fármacos, Cosméticos E Outros Compostos Contaminam Recursos Hídricos

Contaminantes Emergentes: Uma Ameaça Real Na Água Usada Para Consumo Humano

A Ameaça Dos Contaminantes Emergentes Na Água

Contaminantes Emergentes E O Cheiro Do Café

Pesquisa Detecta ‘Contaminantes Emergentes’ Na Água De 20 Capitais

Pesquisa Acusa Presença De Contaminantes Emergentes Na Água Fornecida Em 16 Capitais Brasileiras

Antibióticos, pesticidas, hormônios e componentes de plásticos são encontrados na água de abastecimento

Pesquisa detecta ‘contaminantes emergentes’ na água de 20 capitais

Disruptores endócrinos remanescentes após tratamento de águas residuais podem feminizar peixes

Pesquisadores se mostram preocupados com o excesso dos chamados interferentes endócrinos na água

Cientistas alertam que a água tratada contém restos de café e de remédios

 

Citação:

Rodrigues, E. (2014). Quando a água cheirar a café, os contaminantes estão por perto. Revista Cidadania & Meio Ambiente [Impressa]. Ano IX, número 50, 2014. Disponível online em <http://ecodebate.com.br/pdf/rcman50.pdf> [PDF] .  Acesso em xx/xx/201x

Rodrigues, E. (2013). Contaminantes emergentes e o cheiro do café. Portal EcoDebate [Online]. Ano IX, número 1961, 2013. Disponível online em http://www.ecodebate.com.br/2013/11/14/contaminantes-emergentes-e-o-cheiro-do-cafe-artigo-de-efraim-rodrigues/ [HTML].  Acesso em xx/xx/201x

EcoDebate, 14/11/2013


contaminantes emergentes
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One thought on “Contaminantes emergentes e o cheiro do café, artigo de Efraim Rodrigues

  • Gideão Santos

    Os comentarios do Efraim são excelentes…..parabens!!!

Fechado para comentários.