Agricultores do Paraná que preservam rios e florestas serão recompensados
Uma parceria inédita no Brasil será firmada nos próximos dias entre o Governo do Paraná e a Agência Nacional de Águas (ANA) para implementar no Estado o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) em propriedades rurais localizadas em áreas de mananciais de abastecimento público.
Com isso, o Programa Bioclima – desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos com o objetivo de promover a conservação da biodiversidade e conter os efeitos das mudanças climáticas – passará a replicar no Paraná as ações do Programa Produtor de Águas, da ANA. Esta será a primeira vez em 12 anos que a Agência Nacional de Águas irá descentralizar para um estado recursos financeiros e capacitação técnica com o intuito de estimular a política de Pagamento por Serviços Ambientais voltados à proteção hídrica no Brasil.
O anúncio da parceria aconteceu nesta quinta-feira (07), em Curitiba, durante o I Encontro Técnico de Programas Estaduais de PSA, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
“Assim como o Programa Bioclima Paraná, o programa Produtor de Águas tem como principal ferramenta de incentivo à conservação da qualidade e quantidade da água dos rios, a compensação financeira para agricultores que prestam serviços ambientais para a sociedade. O Paraná começará a pagar os agricultores em breve e estamos trazendo uma proposta que irá incrementar ainda mais esta iniciativa”, afirmou o gerente de Uso Sustentável da Água e do Solo da Agência Nacional de Águas, Devanir dos Santos.
Segundo ele, a iniciativa do Programa Bioclima e do Programa Produtor de Água de remunerar os produtores rurais que preservam nascentes e florestas segue uma tendência mundial. “É transformar os agricultores em agentes de preservação ambiental”, disse. Santos explicou que os custos da implantação de práticas e manejos sustentáveis não podem ficar restritos ao agricultor, uma vez que os benefícios dessas ações ultrapassam as fronteiras das propriedades. “Os ganhos não são somente dos produtores e, portanto, é justo a distribuição de custos entre eles e toda a sociedade”, completou.
ACORDO – Nos próximos dias, o governador Beto Richa e o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu, devem assinar um acordo de cooperação técnica em que a Agência Nacional de Águas transfere a titularidade da execução do Programa Produtor de Águas, no Paraná, para a Secretaria do Meio Ambiente, por meio do Programa Bioclima.
O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida, explica que a parceria só poderá ser concretizada devido ao andamento do Programa Bioclima.
“O Paraná possui uma política de conservação com capacidade de receber e absorver este programa da ANA, que já é referência internacional”, avalia Cheida.
O secretário acrescenta que com o acordo de cooperação o Paraná receberá recursos da ANA para fazer o diagnóstico das sub-bacias hidrográficas onde o Pagamento por Serviços Ambientais hídrico será implementado, bem como capacitação técnica para funcionários e arranjos institucionais locais nos municípios.
PROJETO PILOTO – O local para o projeto piloto de Pagamento por Serviços Ambientais da Água já foi escolhido. Será na microbacia do rio Miringuava, localizada na área rural de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, onde a Sanepar vai construir um novo reservatório.
“Nada mais justo do que compensar os proprietários que ajudam a conservar a água que beneficiará toda a população”, destaca Cheida. Ele explica que o Governo do Paraná está invertendo a lógica da preservação. Em vez de apenas punir quem degrada o meio ambiente, vai bonificar quem age corretamente.
O trabalho na microbacia do Miringuava já começou como parte do Programa Bioclima e somará ações do Programa Produtor de Águas. Lá existem 500 propriedades rurais que estão sendo avaliadas por meio de um diagnóstico realizado pela Secretaria do Meio Ambiente e pela Sanepar. O documento inclui informações hidrológicas, sociais, econômicas e ambientais como, por exemplo, a qualidade água do rio que corta as propriedades e as práticas agrícolas utilizadas.
Após esta etapa, será feito um projeto base com as intervenções necessárias para garantir a qualidade da água e aumentar a quantidade. O projeto também indicará o valor de recursos necessários para que cada proprietário consiga manter práticas sustentáveis. A etapa final prevê a publicação de um edital de chamamento para os agricultores que tiverem interesse de se cadastrar voluntariamente e, depois, assinar, o contrato de Pagamento por Serviços Ambientais com o Governo do Estado.
A Agência Nacional de Águas trará a sua experiência como o Programa Produtor de Água que visa a redução da erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas rurais. O programa, de adesão voluntária, prevê o apoio técnico e financeiro para ações de conservação da água e do solo como, por exemplo, a recuperação e proteção de nascentes, o reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal e o saneamento ambiental.
A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total, das ações e práticas conservacionistas previamente contratadas. Já os valores a serem pagos são calculados de acordo com os resultados: abatimento da erosão e da sedimentação, redução da poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo.
O diretor-geral da Secretaria do Meio Ambiente e coordenador do Programa Bioclima Paraná, Caetano de Paula Júnior, conta que a meta é implementar o Pagamento por Serviços Ambientais hídrico em outras três microbacias já em 2014.
“Ao desenvolver um sistema de PSA, o programa Bioclima Paraná tem como garantir a manutenção dos recursos hídricos e irá fomentar a manutenção das áreas de florestas existentes”, afirma Caetano.
Segundo ele, a metodologia e os critérios que os agricultores deverão seguir para se enquadrar no PSA de água e no PSA de florestas – que vai pagar para os agricultores que possuem remanescentes florestais conservados em suas propriedades – está sendo finalizado e será entregue até o dia 30 de novembro pelo Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) à Secretaria do Meio Ambiente.
Com essa ferramenta será possível determinar o valor a ser repassado, referente a três categorias – biodiversidade, reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) e conservação de recursos hídricos.
O ENCONTRO – O I Encontro técnico de programas estaduais de Pagamento por Serviços Ambientais, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza teve o objetivo de discutir o mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como estratégia para a conservação da biodiversidade na esfera estadual. No encontro foram abordados requisitos, normas, critérios, cálculos, recursos financeiros, responsáveis e marcos legais.
Apresentaram seus programas os estados de Goiás, Pará, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, e Tocantins.
Informe da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – PR, publicado pelo EcoDebate, 12/11/2013
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Não vejo motivo para recompensar os agricultores, empresários, na preservação de florestas e águas porque, a Constituição Federal em seu art.225, parágrafo 1o, incisos I a VII com parágrafos 2o. ao 6o., impõe ao poder público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações, uma vez que todos tem direito à sadia qualidade de vida.
Muito estranho e suspeito esse negócio.
O motivo Rembrandt, é que uma parte proporcionalmente mais alta do custo de se manter o meio ambiente equilibrado é arcado por esses produtores.
Terra é dinheiro, há mais tempo do que existe dinheiro. Esses agricultores estão concordando em reservar parte da sua terra para a preservação da natureza. Embora se possa argumentar que já há necessidade dessa separação colocada pela legislação (APPs, reservas legais, etc), mesmo que o uso dessas terras seja controlado pelo governo, elas não são terras públicas. São terras privadas.
Com o novo código rural, então, que anistiou boa parte dos desmatamentos anteriores, a necessidade legal de se recuperar essas terras para o meio ambiente diminuiu ainda mais.
Fora que há uma diferença entre o mínimo a ser feito para cumprir a lei e o necessário para se receber esse crédito.
O Paraná é uma região com vários desmatamentos antigos. Várias APPs e reservas legais certamente não existiam mais em 2006. A obrigação de recuperação que hoje há no código rural é no máximo (se fiscalizada) uma obrigação de não atrapalhar a regeneração natural da vegetação.
Dependendo da área, a regeneração natural da vegetação não consegue reabilitar os serviços ambientais de um local (mesmo ignorando o fato de que algumas das características de uma mata primária simplesmente não são recuperadas em uma escala de tempo humana).
Esse programa está recompensando a ativa tentativa de recuperar áreas desmatadas, com reflorestamento por plantio. Além disso, está recompensando o uso de práticas agrícolas sustentáveis. O agricultor NÃO é obrigado por lei a usar apenas práticas agrícolas sustentáveis, portanto, este é mais um passo extra, além do mínimo exigido em lei, que se está recompensando.
Esse tipo de programa pode ser a diferença entre o agricultor considerar o meio ambiente e o governo como seus inimigos (afinal, estão obrigando-o a separar uma parte das suas terras e perder dinheiro, mas o agricultor vê pouco sendo feito por outros para fazer o mesmo. Um morador da cidade não é obrigado a separar um quarto da sua casa para moradia coletiva, por ex.) e o agricultor considerar que a floresta ao lado é um dos seus trunfos.
Mesmo que conservar a terra seja menos rentável que desmatá-la (para o agricultor, bem entendido, pois para a sociedade é o extremo contrário), se a renda vinda da floresta for segura e constante, isso contrabalanceia os riscos inerentes da atividade agrícola, tornando-se uma boa opção.
Uma vez que a floresta seja renovada, o agricultor poderá ver os benefícios locais de sua existência também, com maior umidade relativa, maior facilidade de polinização, e maior biodiversidade diminuindo o número de pragas mesmo nos canteiros agrícolas próximos. Dados que não entravam na conta do agricultor antes, por serem demasiadamente teóricos, são testemunhados, e o “reservar parte da terra para floresta” começa a parecer menos com uma obrigação que lhe rouba dinheiro, e mais como algo útil por si só. Isso muda mentalidades, também.
Esse tipo de programa é uma forma de se estabelecer uma “trégua” na guerra que não deveria existir entre ambientalistas e ruralistas. Eu não acho que seja estranho nem suspeita, acho, pelo contrário, que é uma ótima notícia.