Teoria de Gaia – um olhar diferente sobre a nossa morada, artigo de Marcos Paulo Gomes Mol
Teoria de Gaia – um olhar diferente sobre a nossa morada, artigo de Marcos Paulo Gomes Mol
[EcoDebate] Registros da história do imperador Marco Aurélio, publicados na obra Guia do Imperador, apontam dentre as várias reflexões propostas, a ideia de que o universo é um organismo vivo individual, que tem uma substância e uma alma, mantendo todas as coisas sustentadas por uma única consciência e criando todas as coisas com um único propósito de poderem trabalhar juntas, fiando, tecendo e ligando tudo o que venha a passar por ali.
Sob um ponto de vista científico, um congresso da União Europeia de Geofísica, realizado em 2001, atestou que “o sistema Terra comporta-se como um único sistema autoregulador formado de componentes físicos, químicos, biológicos e humanos”. Este foi um dos sinais de que a Hipótese de Gaia, proposta por hipótese de Gaia, estava próxima de ser aceita por parte dos cientistas mundiais.
A hipótese proposta por Lovelock indica que a Terra tem o comportamento equivalente a um organismo vivo, como uma unidade em maior proporção. Esta descoberta foi iniciada através de observações atmosféricas, em especial nas concentrações de oxigênio e nitrogênio, correlacionadas direta ou indiretamente com as atividades de organismos vivos, que indicam um possível poder de autoregulação da Terra em busca de um ideal ecossistema.
Sob a ótica proposta pela hipótese de Gaia, o ser humano representa uma parte deste todo, que conjugado com os demais seres vivos, garante o funcionamento de um sistema complexo que se encerra no planeta Terra.
Segundo o teólogo e pesquisador Leonardo Boff, a Terra é um gigantesco superorganismo que se autoregula, fazendo com que todos os seres se interconectem e cooperem entre si.
Nada está à parte, pois tudo é expressão da vida de Gaia, inclusive as sociedades humanas, seus projetos culturais e suas formas de produção e consumo.
A autonomia do ser humano, ser racional dentre os demais organismos vivos, proporciona a ele grande potencial de interferência no sistema Gaia, que, dependendo das tomadas de decisão, podem gerar efeitos positivos ou negativos em grandes proporções. Nossa responsabilidade neste contexto é evidente.
Daí, o desafio de reverter o conceito desenvolvido pela sociedade atual de que o ser humano necessita do meio ambiente para seu desenvolvimento, e dessa forma, o meio ambiente passa a ser “aquilo que está do lado de fora das cidades”. Perdeu-se a noção de que o ser humano é parte integrante da natureza, e este conceito é fundamental para a criação de uma sociedade equilibrada ambientalmente.
Observa-se na sociedade contemporânea elementos como a valorização da imagem, do “ter”, que leva inevitavelmente a um padrão de comportamento ligado à descartabilidade tanto dos produtos já consumidos, ou a serem consumidos, quanto das pessoas que não têm acesso a estes bens.
Compreender o funcionamento do planeta Terra tem sido um desafio dentre pensadores e pesquisadores da humanidade, com vistas a alcançar um nível de conhecimento amplo acerca da função dos seres humanos e dos elementos naturais neste contexto. O rumo destas reflexões ainda é incerto. O fato é que a prática do ser humano tem se mostrado pífia no que diz respeito ao cuidado com a nossa atual morada.
Marcos Paulo Gomes Mol é Doutorando em Saneamento pela UFMG.
Nota do EcoDebate: Sobre James Lovelock e a Teoria de Gaia sugerimos que leiam, também:
A Terra ardente, artigo de James Lovelock
A vingança de Gaia, por James Lovelock
O futuro da vida na Terra, segundo James Lovelock
‘Quem corre perigo são os homens, não a Terra’. Entrevista com James Lovelock
EcoDebate, 17/09/2013
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O planeta não está doente. A humanidade está doente.
A percepção de gaia como um organismo é muito reducionista demais.
o planeta é uma biosfera, que é um conjunto de biomas, que são conjuntos de ecossistemas, que são conjuntos de comunidades, que são conjuntos de populações, que finalmente são conjuntos de organismos.
Cada nível nessa visão ecológica apresenta características únicas em relação ao nível inferior. ou seja a biosfera é muito, mas muito mais complexo que um organismo.
Gaia só serve como um modelo didático, que como todo modelo está suscetível à nossa simbologia metonímica-metafórica que nos define humanos.
A ideia de que o ser humano é racional em contraponto a outros não o serem é um conceito religioso que desde a década de 1950 a ciencia tenta desconstruir e apesar das evidências, é muito pouco absorvido pela sociedade.
O planeta está doente.
A humanidade é doente.