O déficit ambiental dos Estados Unidos e o superávit ambiental do Canadá, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Os Estados Unidos da América (EUA) e o Canadá são dois países da América do Norte com aproximadamente a mesma dimensão territorial. Mas enquanto o Canadá enfrenta temperaturas muito baixas e grande volume de gelo durante o ano, os EUA possuem um clima mais diversificado e maiores oportunidades de recursos naturais.
Os EUA possuíam, em 2008, uma população de 305 milhões de habitantes, uma pegada ecológica per capita de 7,19 hectares globais (gha) e uma biocapacidade per capita de 3,86 gha. A biocapacidade total do país era de 1.177.000.000 gha (305 milhões vezes 3,86). Os EUA possuíam um déficit ambiental de 86%, ou seja, consumiam 86% mais do que a biocapacidade do país. No total os EUA consumiam 10% da biocapacidade da Terra. Se toda a população mundial adotasse o mesmo padrão dos EUA seriam necessários a existência de 4 Planetas.
O Canadá possuía, em 2008, uma população de 33,3 milhões de habitantes, uma pegada ecológica per capita de 6,43 hectares globais (gha) e uma biocapacidade per capita de 14,92 gha. A biocapacidade total do país era de 496.836.000 gha (33,3 milhões vezes 14,92). O Canadá possuía um superávit ambiental de 132%, ou seja, consumia 132% menos do que a biocapacidade do país. No total o Canada consumia quase 5% da biocapacidade da Terra. Se toda a população mundial adotasse o mesmo padrão dos canadenses seriam necessários a existência de 3,5 Planetas.
Mas qual é a razão básica para que estes dois países vizinhos com aproximadamente o mesmo padrão de consumo e produção possuam resultados tão dispares quanto ao déficit ou superávit ambiental?
A resposta está no tamanho da população.
Se EUA e Canadá tivessem a mesma população de 160 milhões de habitantes a situação ambiental se inverteria, pois os EUA, mesmo com alta pegada ecológica per capita, passariam a ter superávit, enquanto o Canadá passaria a ter déficit.
Vejamos os números.
Se a população dos EUA decrescesse para 160 milhões de habitantes a biocapacidade per capita subiria para 7,36 gha. Portanto, mesmo mantendo a pegada ecológica de 7,19 gha haveria um pequeno superávit ambiental.
Se a população do Canda aumentasse para 160 milhões de habitantes a biocapacidade per capita cairia para 3,10 gha. Portanto, mantendo a pegada ecológica de 6,43 gha haveria um grande déficit ambiental. Isto quer dizer que o volume da população importa e não pode ser desconsiderado na análise.
Neste sentido é, no mínimo, estranho a proposta do demógrafo Joseph Chamie que propõe que os EUA se tornem o país mais populoso do globo até 2100, com uma população de 1,6 bilhão de habitantes. Se isto, eventualmente, se tornasse realidade a biocapacidade per capita americana cairia para somente 0,73 gha e o déficit ambiental dos EUA seria de mais de 1.000 % (mil por cento). Os EUA sozinhos consumiriam mais do que toda a biocapacidade do Planeta.
É claro que a pegada ecológica poderia cair se houvesse uma mudança da matriz energética e no padrão de produção e consumo. Porém, dado a urgência da crise ambiental, somente uma redução conjunta do consumo e da população poderia acelerar a redução do déficit ecológico, evitando uma tragédia ambiental no Planeta Azul.
Referência:
CHAMIE, Joseph. US Could Be World’s Most Populous Country. YaleGlobal, 15/04/2013
http://yaleglobal.yale.edu/content/us-could-be-worlds-most-populous-country
Ecological Footprint Network (dados de 2008)
http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
ALVES, JED. Planejando o decrescimento demo-econômico. EcoDebate, Rio de Janeiro, 05/06/2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 09/08/2013
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