Conflitos no Campo Brasil 2007: Ação de milícias privadas agrava violência contra trabalhadores
A 23ª edição da publicação aponta a diminuição no número de conflitos no campo entre os anos de 2006 e 2007, com queda de 7%. Somente a região Sudeste apresentou aumento nesse número e também na quantidade de pessoas envolvidas. A diminuição no número de conflitos pode ser interpretada pela implantação de políticas sociais compensatórias, como a bolsa família, que mesmo insuficientes têm contribuído para a diminuição da mobilização social na luta por direitos.
No entanto, o que mais se destacou é que mesmo com a diminuição no número de conflitos, a quantidade de famílias expulsas entre 2006 e 2007 teve um aumento de 140%, passando de 1.809 para 4.340. Todas as regiões brasileiras apresentaram esse crescimento, principalmente o Sul, que de 30 expulsões em 2006, passou para 720 em 2007. A expulsão é uma ação direta do poder privado do proprietário, que faz justiça pelas próprias mãos e faz uso de milícias privadas para isso. Somente no Rio de Janeiro, Distrito Federal e Amapá não houve registro da ação de pistoleiros nos últimos dois anos.
Violência contra a pessoa
Já o número de pessoas assassinadas na luta pela terra e outros direitos humanos no meio rural registrou queda em 2007. Em 2006, eram 39 as mortes causadas por conflitos no campo, já em 2007 o número caiu para 28. O Pará, que em 2006 registrou 24 mortes e em 2007, cinco, contribuiu significativamente para essa diminuição. Enquanto isso, no restante do país, a violência contra a vida humana teve um aumento de mais de 50%. Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraná, Maranhão, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte apresentaram crescimento no número de assassinatos. Logo, embora seja positiva, a diminuição geral no número de assassinatos não pode levar à acomodação da sociedade, 28 pessoas mortas em conflitos no meio rural ainda é um número alto.
O número de pessoas ameaçadas de morte sofreu um aumento significativo de mais de 25%. Passou de 207 pessoas ameaçadas, em 2006, para 259, em 2007. A região Sul foi a que apresentou maior crescimento, passou de 1 para 20, seguida da região Centro-Oeste que de 10 passou para 19 pessoas ameaçadas.
Estados como Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins são estados, que praticam uma agricultura empresarial voltada especialmente para a exportação, sobressaíram nos níveis de violência. Os atos violentos não só se tornaram mais cruéis como também passaram a atingir outras localidades do Brasil.
Violência se espraia pelo país
A leitura dos dados de 2007, também mostra que a violência se espraiou pelo território brasileiro. Enquanto apenas oito unidades da federação apresentaram registro de pessoas assassinadas em conflitos no campo no ano de 2006, em 2007 o número chegou a 14.
O fenômeno de expansão também aconteceu em relação ao número de unidades da federação que registraram expulsão de famílias. Em 2006, 10 estados tiveram casos de famílias expulsas, já em 2007 foram 14. Os dados reunidos no Conflitos no Campo Brasil 2007 evidenciam que a conjuntura favorável no mercado internacional em relação à exportação de commoditties agrícolas e minerais leva ao aumento do número da violência no meio rural.
Deste modo, a publicação busca alertar a sociedade em relação as agressões que acontecem no meio rural devido à política do governo federal, que privilegia o agronegócio em detrimento da agricultura familiar e camponesa. Os dados levantados pela CPT mostram que não há como conciliar o agronegócio e a agricultura não-empresarial, já que por parte dos grandes proprietários o uso da violência aparenta ser indispensável.
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