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Deseconomia de escala: carros trafegam na velocidade de carroças, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

Deseconomia de escala: carros trafegam na velocidade de carroças

 

[EcoDebate] Os carros e as grandes metrópoles são ícones do desenvolvimento econômico, segundo o imaginário coletivo. A transição de uma economia agrária e rural para uma economia urbana e industrial é um dos indicadores usados para medir o progresso e o avanço civilizatório. Em geral, se considera que a concentração econômica e populacional permite ganhos de escala e economias de aglomeração, fatores que possibilitam o aumento da produtividade e o incremento do excedente, fundamental para a elevação da qualidade de vida humana.

Porém, grandes cidades com deficiências no planejamento urbano, ao contrário de se beneficiarem dos efeitos positivos da aglomeração, podem apresentar deseconomias de escala, reduzindo a produtividade geral e piorando a qualidade de vida da população (pelo menos da parte que não tem condições de andar de helicóptero).

Um dos grandes problemas de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador (dentre outras) é que, ao invés de ganhos, está havendo perda na mobilidade urbana, na medida em que cresce a frota de carros, vans e ônibus. Os engarrafamentos são uma constante, enquanto os governos continuam dando incentivos fiscais para a produção e venda da industria automobilística.

Evidentemente, os carros trafegam a velocidades elevadas nas estradas brasileiras, mas o número de mortes ultrapassa 50 mil por ano, além daqueles e daquelas que ficam com sequelas dos acidentes, sobrecarregando o sistema de saúde e as famílias.

Os veículos automotores estão cada vez mais potentes. Os carros modernos possuem capacidade para fazer 200 quilômetros por hora (km/h). Mas, nos grandes centros urbanos, no horário de pico, não chegam a fazer 20 km/h. Essa velocidade é menor do que aquela das carroças puxadas por dois cavalos, que atinge 26 km/h.

Ou seja, em certos horários de pico nas metrópoles brasileiras, todo o avanço tecnológico na produção de veículos tem resultado em uma vantagem comparativa, não dos automóveis, mas dos veículos de atração animal. Além do mais, as carroças produziam esterco para a agricultura, enquanto os carros emitem gases de efeito estufa e contribuem com o aquecimento global.

Os dados do censo demográfico 2010, do IBGE, mostram que, entre as pessoas com alguma ocupação, 31,03% dos residentes na capital paulista e 25,3% dos fluminenses, demoram mais de uma hora no transporte para o trabalho. Ou seja, são pessoas que gastam mais de duas horas por dia para se locomover da casa para o emprego e do emprego para casa.

Estas mais de duas horas desperdiçadas no trânsito diariamente, não são apenas jogadas fora, mas representam um estresse muito grande para as pessoas, com reflexo negativo na dinâmica das empresas, das famílias e dos indivíduos. Duas horas perdidas por dia multiplicado por milhões de pessoas são um montante imenso de tempo que poderia ser usado para aumentar a produção
econômica, a educação, a saúde ou mesmo o lazer e o descanso.

O fato é que o desenvolvimento urbano-industrial não é uma estrada livre, em linha reta, rumo a um futuro próspero e feliz. A perda de mobilidade urbana, o custo excessivo do transporte, a poluição e o desperdício de tempo nos deslocamentos representam um retrocesso na qualidade de vida e podem comprometer o bem-estar geral das cidades e de seus estressados habitantes.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal Ecodebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 24/04/2013


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2 thoughts on “Deseconomia de escala: carros trafegam na velocidade de carroças, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Anchieta Mendes

    Amigos e amigas: a desgraça deste país, em questão de transprote, vem de muito longe, desde quando o poder politico americano, defedendo o capitalismo e o seu pior produto, o automóvel, empurrou no brasil e ideia e a politica do transporte por automóvel (caminhões, etc) Destruiram estradas de ferro, entupiram os rios, assorearam os portos, o que signfica que mudaram, inclusive a vida das pessoas.
    Somos o país que mais tem automóvel. Em Teresina, situada entre dois rios (PARAÍBA E POTI) faltam pontes, espaços nas ruas estreitas e sobram automóveis que se somam a cada mês com mais de mil. É uma tortura. O governo retira o IPI, prejucando o orçamento dos Estados e dos municícpios, e injeta recurss e concede prebendas às fábricas (todas de origem estrangeira) de onde saem os milhões de carros a arrolhar as estradas e as ruas. Ônibus, metrôs, não têm resolvido o problema. E as cidades crescem, os espaços dimimuen, a população explode e com todas essas desgraças, já explodiram a cabeça das pessoas, que continuam votando errado, em governantes irresponsáveis, quando não criminosos. Triste história.Péssima vida de um povo – anchieta

  • Eu leio essas coisas e penso no tempo em que eu era uma pessoa feliz sem carro. Consegui me livrar desse estorvo em minha vida por 4 anos. Tem aquele período da adolescência, em que “o carro” parece símbolo de toda a liberdade de ser adulto, aí depois que se tem o carro tem o desencanto, ver que a “liberdade” é de ficar preso em um engarrafamento com um bebê de uma tonelada que não se pode abandonar até ter um lugar para estacionar. Conseguir comprar uma casa próxima ao serviço, se livrar do carro, ver que o transporte público de Sampa não é tão ruim quanto dizem, muito pelo contrário, quem mora no centro expandido está bem servido.

    E aí começaram a colocar o eugenol, que antes era adicionado só aos cigarros aromatizados, a todos os cigarros, e tive que escolher entre me mudar ou deixar de respirar (sou estupidamente alérgica, já tive 4 choques anafiláticos e uma parada cardíaca). Morar em chácara, lindo, maravilhoso, mas aí não dá mais para se fugir de se ter um monstro comedor de combustível, pois é necessário chegar ao trabalho, e ônibus não chega nessas lonjuras não. E toca voltar ao stress de trânsito, aos gastos cabulosos (o monstro a àlcool leva quase 3000 por mês, entre combustível, revisão, seguro, IPVA, estacionamento…) e tudo o mais.

    Para quem mora no centro expandido de Sampa (e não tem nojinho de gente, sim, outras pessoas sentaram naquele banco, acontece) recomendo fazer a experiência. Não precisa se livrar do carro logo de cara. Deixe o carro na garagem por um mês. Olhe no Google maps como chegar nos seus lugares habituais (trabalho, escola, etc), que o site da SPtrans é uma droga. Dê preferência aos ônibus, que o metrô é lotado, especialmente em horas de pico. Descubra o milagre do teleporte dos corredores de ônibus, e como de repente, você, que foi parando a cada ponto, é a pessoa pontual do grupo, pois não teve que procurar lugares para estacionar, e o corredor andava e a rua não. Veja que fora dos horários de pico (que são menores para os ônibus que para os carros) e quando se está no contrafluxo se viaja confortavelmente sentado. Olhe para a paisagem e tenha mais tempo e dinheiro para gastar com as coisas que gosta, e não com transporte.

    E desculpe pela minha invejinha branda, mas como eu queria poder continuar sendo uma pessoa feliz sem carro.

Fechado para comentários.