A População do Egito em 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O Egito teve, no passado distante, a civilização mais avançada da Terra. Dez mil anos antes de Cristo (a.C.) havia uma sociedade de caçadores-coletores e pescadores. Há cerca de 6 mil anos a. C. houve o desenvolvimento de uma agricultura e de núcleos sedentários no Vale do Nilo. Por volta de 3 mil anos a.C. o rei Menés estabeleceu um governo unificado e iniciou uma sequência de dinastias que dominariam o Egito nos 3 milênios seguintes. As pirâmides de Gizé foram construídas por volta de 2.500 anos a.C. O último faraó egípcio, Nectanebo II, foi derrotado pelos persas em 343 a.C. Em seguida, o Egito foi conquistado pelos gregos, depois pelos romanos, pelos árabes e pelos otomanos, num total de mais de dois mil anos de controle estrangeiro.
A República Egípcia foi proclamada em 1953, presidida pelo General Muhammad Naguib. Em 1954, Gamal Abdel Nasser assumiu a presidência e declarou a completa independência do Egito em relação ao Reino Unido, em 1956, nacionalizando o canal de Suez. Nasser morreu em 1970, três anos após a Guerra dos Seis Dias, na qual Israel invadiu e ocupou a península do Sinai. O sucessor Anwar Al Sadat, afastou o país da órbita da União Soviética e o aproximou dos Estados Unidos. O tratado de paz de 1979, garantiu a retirada israelita do Sinai. Um soldado fundamentalista islâmico assassinou Sadat no Cairo, em 1981. Subiu ao poder Hosni Mubarak que governou de forma autoritária durante 30 anos. Em 25 de janeiro de 2011, protestos contra o regime de Hosni Mubarak começaram em todo o país, com as massas populares ocupando a Praça Tahrir. Em 30 de junho de 2012, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, se tornou o primeiro presidente civil do Egito. Mas os desafios econômicos, sociais, demográficos e ambientais são enormes e o país está divido entre aqueles que querem impor uma legislação islâmica e aqueles que querem a construção de um Estado Democrático e Laico.
O Egito tinha uma população de 21,5 milhões de habitantes em 1950, passando para 81,1 milhões em 2010, quase quadruplicando de tamanho em 60 anos. A divisão de população da ONU estima, para o ano de 2050, uma população de 141,8 milhões na hipótese alta, de 123,5 milhões na hipótese média e de 106,7 milhões, na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 198,4 milhões de habitantes, na hipótese alta, de 123,3 milhões, na média, e 71,9 milhões na hipótese baixa. Ou seja, o Egito apresentou um grande crescimento populacional na segunda metade do século XX e ainda vai crescer na primeira metade do século XXI (mesmo na hipótese baixa), podendo estabilizar na segunda metade do atual século.
A densidade demográfica do Egito era de somente 21 habitantes por km2, em 1950, passou para 81 hab/km2, em 2010, e deve chegar a 123 hab/km2 em 2050. Atualmente, o Egito é o 16º país do mundo em termos de tamanho populacional, mas deve subir para o 15º lugar até 2050.
A taxa de fecundidade total (TFT) estava em 6,4 filhos por mulher no quinquênio 1950-55 e caiu para 2,9 filhos por mulher no quinquênio 2005-10. A divisão de população da ONU acredita que as taxas de fecundidade vão cair para abaixo do nível de reposição no quinquênio 2045-50, devendo ficar em 1,9 filhos por mulher. A idade mediana estava em 20,4 anos em 1950, passou para 24,4 anos em 2010, deve chegar a 37 anos em 2050 e a 46,5 anos em 2100.
As taxas de mortalidade infantil estavam em 202 por mil no quinquênio 1950-55, passou para 26 por mil no quinquênio 2005-10 e deve atingir 11 por mil no quinquênio 2045-50. Já a esperança de vida subiu de 42,9 anos, para 72,3 anos e deve atingir 79 anos, nos mesmos quinquênios. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) era de 0,407 em 1980 e passou para 0,661 em 2010 e se manteve estagnado em 2011 e 2012, período de grandes transformações políticas e de crise social.
A pegada ecológica egípcia era de 2,06 hectares globais (gha) em 2008, de acordo com o relatório Planeta Vivo, da WWF, para uma biocapacidade de somente 0,65 gha. Além deste alto déficit ambiental o país tem déficit de energia e déficit de alimentos, precisando importar insumos fundamentais para a sua economia. Mas o Egito não tem uma estrutura produtiva que garanta aumento das exportações. Consequentemente, a população jovem e em crescimento não encontra emprego e esperança de melhoras na qualidade de vida.
Além da pobreza e da desigualdade social, as questões imediatas que podem comprometer o futuro da população são a falta de água, a escassez de energia e as consequências do aquecimento global. O Egito precisa disputar água com os países que controlam as cabeceiras do rio Nilo e tem que enfrentar o processo de desertificação. Uma diminuição no fluxo da água terá graves consequências na redução da produção de energia da represa de Assuã, além de reduzir a produção agrícola egípcia.
Não custa lembrar que a Primavera Árabe começou devido ao aumento do preço dos alimentos.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 19/04/2013
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