Decrescimento com prosperidade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A humanidade já ultrapassou os limites planetários sustentáveis e a pegada ecológica antrópica esta 50% acima da biocapacidade da Terra. Por conta disto, o ser humano precisa se adequar aos espaços cabíveis do Planeta, necessitando aprender a conviver com as demais espécies vivas do mundo na única casa existente e conhecida do Universo.
O mundo moderno ficou viciado em crescimento. Em 250 anos, desde o início da Revolução Industrial e do começo do uso maciço dos combustíveis fósseis as fronteiras planetárias sustentáveis foram ultrapassadas. Desta forma, nos dias atuais, o DECRESCIMENTO passou a ser uma palavra chave e cada vez mais utilizada, pois está se constatando que não há saida para a continuidade ou mesmo a manutenção indefinida do atual modelo de produção poluidor e que visa principalmente o lucro e só sobrevive com base em um consumismo desregrado.
Tem aumentado a consciência de que a humanidade precisa urgentemente mudar a maneira como está tocando sua economia. Para evitar um desastre ecológico, o ser humano precisa reduzir a emissão de gás carbônico derivado da queima de combustíveis fósseis. Precisa reduzir a emissão de gás metano derivado da criação dos 60 bilhões de animais terrestres que vão todos os anos para os abatedouros para saciar o apetite humano. Precisa interromper a curva ascendente do aquecimento global. Precisa reduzir a exploração de metais e outros recursos naturais que sugam as entranhas da Terra e deixam cicatrizes cada vez mais profundas.
A humanidade precisa parar de poluir e superexplorar as fontes limpas de água doce, parar de usar as reservas de água subterrâneas mais rapidamente do que elas podem ser repostas e parar de matar os corais e sujar e acidificar os oceanos. Precisa parar de desmatar e destruir as florestas. Parar de ameaçar a vida marinha e danificar os ecosistemas. Precisa eliminar o crime do ecocídio. Precisa parar de produzir tanto luxo e tanto lixo.
Portanto, o ser humano precisa interromper sua corrida em direção ao precipício e dar uma marcha à ré no ritmo frenético do crescimento econômico. Tem aumentado o número de pessoas que acredita que o decrescimento econômico e populacional pode ser uma maneira de interromper o desastre. Já existem vários países que estão experimentando redução da população, tais como Rússia, Ucrânia, Japão, Cuba, etc.
Mas o crescimento econômico ainda é um mito e uma meta muito desejada pelas pessoas, pelos sindicatos, pelas empresas e principalmente pelos políticos e pelos governos populistas. Isto porque o crescimento econômico do passado estava relacionado com prosperidade, redução da pobreza e avanços da qualidade de vida, enquanto recessão estava e está relacionado com desemprego, fome e sofrimento.
Porém, o progresso humano tem se dado às custas do regresso ambiental. Neste sentido, cada vez mais pessoas passam a defender a ideia de que é possível haver decrescimento com prosperidade.
Para tanto seria necessário implantar mudanças de concepção e uma verdadeira revolução nos paradigmas, tais como os óctuplos exemplos abaixo:
1) Desmaterializar a economia aprofundando a sociedade do conhecimento e da informação sustentada por fontes de energia renováveis, ao invés de investir na energia fóssil e na sociedade do consumo material, conspícuo e descartável;
2) Interromper o processo de destruição ambiental e aumentar a biodiversidade do Planeta;
3) Reduzir as desigualdades sociais e erradicar a fome e a pobreza, além de reduzir a obesidade e incentivar uma dieta vegetariana;
4) Investir mais na qualidade de vida saudável, incentivar a virtude e a autonomia e valorizar mais os prazeres intelectuais e menos a posse de bens materiais;
5) Erradicar o classismo, o escravismo, o racismo, o sexismo, o homofobismo o xenofobismo e o especismo;
6) Eliminar os gastos militares, reduzir as atividades improdutivas e poluidoras, acabar com as guerras e implementar o pacifismo mundial;
7) Educar as pessoas para ter um meio de vida correto, evitando as más ações e avançando na construção de uma sociedade convivial que incentive a solidariedade interpessoal e ecocêntrica;
8) Incentivar a polidez, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a gratidão, a simplicidade, a tolerância, o humor e o amor desprendido e confluente.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 02/01/2013
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Precisamos urgentemente cultivar estas ideias. A humanidade já deveria ter dado este salto em direção a evolução enquanto espécie. Avançamos muito tecnologicamente, porem continuamos na idade média em termos de respeito ás outras espécies, ao planeta e ao outro. Excelente artigo.
A excelência dos artigos do Doutor José Eustáquio Diniz Alves é tão evidente que nos dispensa de quaisquer comentários a respeito.
Sobre esse artigo que ora pretendo tecer algum comentário, direi simplesmente: encontra-se no rol dos trabalhos em que o autor se supera, e, da minha parte, a título de clareação, quase redundância, acrescento que todas as propostas ali alencadas não encontrarão guarida sob o domínio do capitalismo.
Parabéns ao Doutor José Eustáquio Diniz Alves.
Excelente artigo! Somente acrescentaria, no exemplo nº 3, o que segue em caixa alta:
3) Reduzir as desigualdades sociais e erradicar a fome, a pobreza E A RIQUEZA EXTREMA…
Parabésn e obrigada pelo texto!
Olá José Eustaquio,
Algumas dúvidas:
1) Quem implementa as medidas propostas? Ou são apenas temas para discussão?
2) É válido pensar em políticas que explicitamente objetivem mudar as pessoas (obesidade, dieta, polidez, etc.)?
3) É a sociedade que muda e com ela o ser humano, ou é ao contrário?
Christopher.
Obrigado pessoal pelos comentários e o incentivo.
Acredito que a riqueza extrema pode ser reduzida por meio de um sistema tributário progressivo e por altas taxas de transmissão intergeracional da herança.
As transformações sociais geralmente acontecem em nível individual e coletivo. O avanço do sistema educacional, por exemplo, acontece para as pessoas, as famílias e a sociedade. Assim deve acontecer as outras transformações, como a transição para uma economia de baixo carbono que tem que acontecer nos níveis: individual, domiciliar, comunitário, nacional e internacional.
Abs, JE