Sustentabilidade e o legado da copa III, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Quando foi realizada a primeira copa do mundo, no Uruguai em 1930 jamais o tema de sustentabilidade foi associado com a copa e esta visão prosseguiu praticamente até o fim do século passado. Neste século, todas as copas passaram a ter o tema da sustentabilidade vinculado, na medida em que a grandiosidade do evento passou a exigir um grande caderno de exigências em função das necessidades.
Quando a copa é realizada num pais de maior condição econômica, o tema de sustentabilidade associado com a infraestrutura necessária para a grandiosidade do evento passa desapercebido, pois geralmente o pais já dispõe de infraestrutura instalada em condições adequadas.
Mas quando o evento é realizado nos países em desenvolvimento, o cumprimento do caderno de encargos necessário para viabilizar a grandiosidade do evento, infraestrutura esta que se tornará permanente após a realização da copa, então a discussão da sustentabilidade se torna muito mais relevante e intensa.
As autoridades locais constroem, operam e mantêm a infraestrutura econômica, social e ambiental, supervisionam os processos de planejamento, estabelecem as políticas e regulamentações ambientais e contribuem para a implementação de políticas ambientais nacionais e subnacionais. As organizações traduzem tudo de forma muito pragmática.
Começam por estimular a disseminação do conceito de ecodesign quando aplicável. Ecodesign não é apenas inspiração com temas ecológicos. Significa planejar e produzir produtos que possam ser totalmente reciclados quando terminar sua vida útil. Ou no caso de embalagens de alimentos, que possam ser totalmente reaproveitadas ou recicladas. Aplicando inicialmente a prática dos 3R (reduzir a geração de resíduos, reutilizar no mesmo estado que se encontram, ou reciclar, quando o material serve de matéria prima para novo ciclo industrial), como as latinhas de alumínio dos refrigerantes (NAIME e GARCIA 2004 e NAIME, 2005).
Depois por reduzir os desperdícios de energia passaram a adotar programas de eficiência energética, calculando as iluminações e a potência dos motores que movimentam máquinas e produzindo energias alternativas, como solar e eólica. Ou criando programas permanentes de aperfeiçoamento e melhoria contínuas nesta área.
A seguir, passaram a cuidar da racionalização do uso de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos. Em todas as organizações que poluem água, a implantação de eficientes e eficazes sistemas de tratamento de efluentes foram implantados e o controle por padrões de descarga dos efluentes passaram a ser rigorosos.
Em conjunto com estas atividades, passaram a implantar cuidadosos sistemas de gestão de resíduos sólidos, tanto domésticos quanto industriais, privilegiando a prática dos 3R.
Ao mesmo tempo, começaram a ser muito controladas as emissões atmosféricas, de organizações que produzem grande quantidade de gases, como polos petroquímicos e organizações que utilizam caldeiras. Passaram a ser implantados filtros, lavadores de névoas e outros equipamentos de prevenção de poluição.
A seguir foram criados programas de responsabilidade socioambiental muito amplos, envolvendo todas as partes interessadas (fornecedores, colaboradores, clientes, ONGs, governo, etc.).
A sequência em geral inicia com a implantação de programas 5S, acompanhados de programas de treinamento de pessoal e melhoria contínuos, que logo evoluem para certificações de qualidade (série ISO 9000) e certificações ambientais (série ISO 14000).
A conscientização é igual nos setores público e privado. Mas por razões operacionais, os resultados que tem sido alcançados pelas organizações privadas é melhor. E muitas vezes estes resultados são compulsoriamente perseguidos, porque deles dependem muitas vezes os mercados, tanto interno quanto externo.
Estes itens de sustentabilidade mais operacional que hegemonizam ainda as prioridades nos países em desenvolvimento podem ser resumidos nos seguintes itens:
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Aplicação de conceitos de ecodesign aos produtos quando cabível;
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Incorporação de conceitos de tecnologias mais limpas a produtos ou serviços, quando aplicável;
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Eficientização energética;
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Otimização do uso de recursos hídricos;
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Tratamentos de efluente industriais e esgotos domésticos;
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Gestão de resíduos sólidos;
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Monitoramento atmosférico e
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Programas de responsabilidade e participação socioambientais.
Nos países avançados de maior industrialização, esta abordagem denominada “operacional” está muito mais resolvida e a discussão está centrada num crescimento com menor produção de carbono, principal componente dos gases de efeito estufa (CO2, CH4, etc) e na eliminação da pobreza.
Nos países em desenvolvimento o foco maior ainda é nas questões operacionais da sustentabilidade, enquanto nos países pobres a preocupação é a sobrevivência, não havendo hegemonia de nenhuma das duas abordagens anteriormente expostas.
NAIME, Roberto e GARCIA, Ana Cristina de Almeida Percepção ambiental e diretrizes para compreender a questão do meio ambiente. Novo Hamburgo: Feevale, 2004. 135 p.
NAIME, Roberto. Gestão de Resíduos Sólidos: Uma abordagem prática. Novo Hamburgo: Feevale, 2005. 136 p.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 18/12/2012
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