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Ribeirinhos no AM têm excesso de mercúrio

 

Garimpo ilegal, embargado pelo Ibama, em foto de arquivo
Garimpo ilegal, embargado pelo Ibama, em foto de arquivo

 

As populações ribeirinhas do rio Negro, no norte do Amazonas, estão expostas à contaminação por mercúrio num nível superior ao tolerável à saúde humana, aponta estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

A contaminação ocorre pela ingestão prolongada de peixes piscívoros, como tucunaré e piranha. Essas espécies concentram mais mercúrio porque comem outros peixes, também intoxicados.

Os sintomas incluem problemas neurológicos e perda da coordenação motora.

A reportagem é de Kátia Brasil e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 30-09-2012.

A pesquisa foi feita em 2011 com mechas de cabelo de 50 pessoas, de 14 comunidades, e apontou uma concentração de mercúrio de 3,14 ppm (partes por milhão) a 58,35 ppm durante o ano. Os níveis mais altos foram registrados de novembro a maio, quando o consumo de peixes é maior.

A Organização Mundial da Saúde considera tolerável uma taxa de 50 ppm para a população em geral e 10 ppm para grávidas.

Segundo a bióloga Graziela Balassa, 32, autora do estudo, a situação das mulheres em idade reprodutiva é a mais preocupante: 85% delas apresentaram concentrações de mercúrio superiores a 10 ppm. “É um nível que aponta efeitos neurológicos em fetos”, afirma.

Balassa diz que são necessárias campanhas que orientem as mulheres a consumir menos peixes piscívoros durante a gestação e a amamentação. Ela defende a proibição de garimpos na bacia do rio Negro – a atividade foi regulamentada em junho pelo governo do Amazonas.

O solo do rio Negro é naturalmente rico em mercúrio, mas o garimpo de ouro e a atividade industrial fazem com que as chuvas despejem três vezes mais metal no rio hoje do que há cem anos, segundo Bruce Forsberg, orientador do estudo.

Na água, bactérias transformam o mercúrio em sua forma mais tóxica, o metilmercúrio, iniciando um processo de contaminação que atinge micro-organismos, plantas e peixes.

A reportagem visitou 3 das 14 comunidades pesquisadas e constatou que peixes piscívoros são consumidos do café da manhã ao jantar.

A índia baniua Maria Ivanete Souza Andrade, 29, tem dois filhos e cedeu mechas para o estudo. “A alimentação que a gente tem é peixe, é difícil comer carne.”

Em Bacabau, a duas horas de barco de Barcelos, no rio Araçá, o agente de saúde Evanildo Martins, 49, não sabe quais os danos do mercúrio à saúde nem como tratar pessoas contaminadas. A última vez que um médico passou por lá foi em 2006.

Em Samaúma, no rio Demini, a professora baniua Marinete dos Santos, 41, mãe de quatro filhos, se diz assustada. “Se tem mercúrio na água e no peixe, também contaminou a gente.”

Efeitos podem se tornar irreversíveis

Estudioso dos ciclos químicos do mercúrio na bacia amazônica há 30 anos, o norte-americano Bruce Forsberg diz que pessoas contaminadas sofrem uma queda gradual na capacidade motora.

“São pessoas que sobrevivem da pesca e estão perdendo a destreza das mãos”, afirma.

Segundo o pesquisador, os estudos não apontam quanto tempo leva para os sinais aparecem, mas, segundo Vinícius Marques Gomes, do Instituto de Química da Unesp Vinícius Marques Gomes, a falta de coordenação motora é o mesmo primeiro sintoma clínico da intoxicação.

O principal alvo do metilmercúrio é o sistema nervoso. Surdez e perda visual, olfativa e do paladar são consequências da intoxicação e, dependendo do tempo de exposição, os sintomas são irreversíveis.

Forsberg diz que há efeitos neurológicos permanentes, que podem ser passados de mãe para filho.

“Há casos de retardo mental de crianças. Quanto maior a concentração no organismo da mãe, maior a carga passada para a criança”, diz Gomes.

(Ecodebate, 01/10/2012) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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