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Governo usa tecnologias diferentes de cisternas no Semiárido e gera debate sobre modelo mais conveniente

 

Cisterna de pvc ‘derretida’ pelo sol. Foto: ASA
Cisterna de pvc ‘derretida’ pelo sol. Foto: ASA

 

Modelo da cisterna de placa
Modelo da cisterna de placa

 

Meio milhão de famílias do Semiárido brasileiro já receberam cisternas de placas de concreto pelo Programa Cisternas, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Em outra frente de atuação, pelo Ministério da Integração Nacional, o governo pretende instalar 300 mil cisternas até 2014, mas adotando uma tecnologia diferente, a partir de um material plástico: o polietileno.

A falta de padronização, no entanto, tem gerado debate sobre a forma mais conveniente de se garantir o armazenamento de água. Há diferença de custo, velocidade e relação com a economia local na implantação do equipamento. Os problemas de manutenção também são diferentes.

Responsável por implantar as cisternas de concreto pelo programa do MDS, a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) questiona as cisternas feitas de polietileno, principalmente por apresentarem deformações. Consultado pela Agência Brasil, o Ministério da Integração diz que a margem de cisternas de polietileno que apresentam problemas é irrisória, e “está entre zero e 1%” do total já disponibilizado.

“Enquanto uma cisterna de concreto custa cerca de R$ 2,2 mil, a de plástico custa pouco mais de R$ 5 mil. Além de serem mais caras, as cisternas de plástico têm apresentado mais problemas do que as de concreto”, disse à Agência Brasil o presidente da ASA, Naidison Quintella. Entre os problemas apontados por ele, está a ocorrência de furos e deformações.

“Ainda que não façamos um monitoramento das cisternas de plástico, sabemos, por meio de queixas das comunidades, que elas apresentaram problemas em praticamente todos estados onde foram implementadas. Os problemas são semelhantes: elas afundam e apresentam deformações, principalmente na tampa”, disse Quintella. “Além disso, as de plástico não agregam muito à economia local porque, ao contrário das de concreto, não são construídas nem reformadas a partir de materiais e mão de obra das comunidades”, acrescentou.

Segundo o Ministério da Integração, as argumentações apresentadas pela organização não governamental (ONG) parceira do MDS não procedem, já que das 17,8 mil cisternas de polietileno instaladas no Semiárido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), apenas 134 apresentaram deformações.

“Os casos ocorreram apenas nas cidades de Paulistana (PI), Estrela de Alagoas (AL), Cedro e Araripina (PE). Todas já foram substituídas”, garantiu o Ministério da Integração Nacional, por meio da assessoria. Ainda segundo o ministério, as trocas foram feitas sem nenhum tipo de custo adicional para o beneficiado ou para o governo federal, já que os procedimentos de substituição delas estava previsto no contrato com a empresa fabricante.

A assessoria acrescenta que, para serem contratadas, essas empresas também tiveram de beneficiar a economia local por meio de contrapartidas, se instalando nas cidades-chave de Petrolina (PE), Penedo (AL), Teresina (PI) e Montes Claros (MG). Há, ainda a previsão de elas se instalarem em Feira de Santana (BA) e em cidade do Ceará a ser definida. Além disso, a implantação do modelo plástico é mais rápida, levando um dia, contra cinco da cisterna de concreto.

Para a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Maya Takagi, “ambas as tecnologias são boas, iguais no objetivo de garantir acesso à água, pela população do Semiárido”. Segundo ela, os dois tipos de cisternas são à prova de contaminação, havendo apenas ocorrências pontuais devido a algum “manuseio inadequado” pelas próprias famílias.

A secretária garante não haver qualquer divisão entre as duas frentes ministeriais de ação. “O que aconteceu é que, a fim de atingir a meta de 1 milhão de cisternas, foi aberto espaço para propostas da sociedade civil. Entre as propostas que traziam resultados, teve a da fossa de polietileno, iniciativa que já vinha sendo tocada desde 2000. O importante é a água da chuva ser armazenada para ajudar a combater os efeitos da seca”, disse Takagi à Agência Brasil.

A consequência disso, acrescenta a secretária do MDS, é que há menos famílias deixando o Semiárido para tentar a vida nas grandes cidades. “Isso é algo a ser considerado, se lembrarmos que esta é a pior estiagem dos últimos 50 anos”, disse a secretária. Ela associa a fixação do sertanejo a outras iniciativas do governo federal, como o Programa Bolsa Família e as garantias de safra, que amenizam os problemas vividos por pequenos produtores prejudicados pela seca.

Os dois sistemas permitem, além da coleta de água pela chuva, o armazenamento de água por meio de caminhões-pipa. “Como a água vinda do solo nordestino costuma ser muito salinizada, é importante deixarmos claro que o melhor é que, não havendo água encanada, se consuma apenas a água vinda da chuva ou do caminhão-pipa”, completa a secretária.

Reportagem de Pedro Peduzzi, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 05/09/2012

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