Gusa Nordeste, Açailândia, MA: Há dois anos e meio, 21 famílias entraram na justiça com ações individuais contra a siderúrgica
‘Não agüentamos mais!’ ‘Nós queremos é sair!’ Associação de Moradores do Piquiá
Adital – ‘Quem vai nos ajudar a sair daqui? Estamos esperando a ajuda do Município, do Estado, de Deus! Nas siderúrgicas ninguém confia mais: nunca se fizeram presentes…`
São algumas das colocações do povo de Piquiá de Baixo, município de Açailândia, MA. Há dois anos e meio, 21 famílias entraram na justiça com ações individuais contra a siderúrgica Gusa Nordeste, pela poluição do ar e da água que as pessoas estão sofrendo.
A Gusa Nordeste é somente uma das 5 siderúrgicas instaladas desde 1988 na região de Piquiá de Baixo, próximas ao pátio de descarregamento de minério da Vale, outra responsável pela poluição do brejo.
Mais de 300 famílias moram no bairro de Piquiá de Baixo, muitas moram no lugar há 30 ou 40 anos, bem antes que as siderúrgicas se instalaram. A luta das 21 famílias, portanto, foi logo assumida por todas as outras que moram nos arredores e que querem envolver na discussão a administração pública, o governo do Estado e as 5 empresas, Gusa Nordeste, Simasa, Pindaré, Viana e Fergumar.
As famílias estão organizadas através de uma associação de moradores, muito ativa, e são assessoradas pela Paróquia São João Batista e o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia.
O povo está coordenando-se, discutindo e avaliando propostas e encaminhamentos, além de acompanhar o processo das 21 famílias, que deverá encerrar-se com uma decisão antes do fim desse ano.
No entanto, o movimento está recolhendo documentação e discutindo com profissionais e instituições de grande credibilidade, no sentido de ampliar o apoio as justas reivindicações de direitos desta comunidade.
Nesse sentido, no dia 23 de agosto de 2008 realizou-se o primeiro seminário ‘Piquiá pede socorro’, com a participação de mais de 100 pessoas entre moradores e membros de outras comunidades de Açailândia, solidários a essa luta.
O seminário teve a assessoria do biólogo Ulisses Brigato, professor da UEMA de Imperatriz, que meses atrás entregou aos juízes da Comarca de Açailândia um laudo sobre a poluição das siderúrgicas na região. A participação do Promotor de Justiça da Comarca, Dr. Marco Aurélio Fonseca Ramos, reforçou a luta popular na sua busca pelos direitos coletivos e orientou o povo nas muitas perguntas que foram levantadas.
O ciclo de mineração, transporte do ferro, siderurgia, queima do carvão, monocultura e corte dos eucaliptos traz trabalho para nosso povo, mas também poluição, desertificação, urbanização desregulada e, infelizmente, ainda hoje trabalho escravo e desmatamento de árvores nativas.
As siderúrgicas e a Vale estão lucrando muito em cima dos recursos da terra e do povo; a situação de miséria, doença e precariedade de muitas de nossas famílias contrastam com o dinheiro que a cada dia entra no bolso dessas grandes empresas. O descaso para com a população é total.
Mas, a organização popular está crescendo e a pergunta roda: ‘Quem é responsável por tudo isso? As siderúrgicas? A Vale? O Município? O Estado? …O povo?!’
* Paróquia São João Batista. Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia – Maranhão
Originalmente publicado pela Agência de Informação Frei Tito para a América Latina, Adital
[EcoDebate, 03/09/2008]