EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Água: um direito de todos os seres vivos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Água: um direito de todos os seres vivos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

As guerras do passado eram por terra,

As guerras do presente são por petróleo

As guerras do futuro serão por água.

[EcoDebate] A água é a base da vida. Nenhum ser vivo pode viver sem ela. Embora na superficie do globo tenha mais água do que terra, a quantidade de água potável e limpa é pequena e não se renova integralmente no ciclo hídrico. Nas últimas décadas, além de sugar e reduzir a capacidade dos aquíferos, a humanidade tem acelerado o processo de destruição das nascentes e aumentado a poluição dos rios, lagos, geleiras e oceanos. O acesso à água é um direito humano básico. Mas este direito só será eticamente justificável se a humanidade garantir o acesso à água para as demais espécies do Planeta. A água é de todo mundo e não pode haver exclusividades.

De toda a quantidade de água da Terra, apenas 2,5% são potáveis. Desta pequena parcela, 69% estão congeladas nas regiões polares e 30% misturadas no solo ou estocadas em aquíferos de difícil acesso. Só resta 140 mil quilômetros cúbicos de água para serem utilizadas por toda a biodiversidade do Planeta.

Uma fonte excelente de conhecimentos sobre os problemas hídricos do Brasil e do mundo está no livro do jornalista e ambientalista Henrique Cortez: “Cidadania ambiental: Água” (Editora Baraúna, 2010). Outra fonte é a Revista Cidadania & Meio Ambiente, que no número 37, do primeiro trimestre de 2012, traz excelente reportagem sobre “Como cuidar dos recursos hídricos”.

O primeiro parágrafo já mostra o quadro dramático da situação: “Todos os dias, milhões de toneladas de esgoto inadequadamente tratado e efluentes industriais e agrícolas são despejados nas águas do mundo. Todos os anos, lagos, rios e deltas absorvem o equivalente ao peso de toda a população humana – cerca de sete bilhões de pessoas – na forma de poluição. Anualmente, morrem mais pessoas pelas consequências de água imprópria que por todas as formas de violência, incluindo as guerras. Além disto, a cada ano, a contaminação das águas dos ecossistemas naturais afeta diretamente os seres humanos pela destruição de recursos pesqueiros ou outros impactos sobre a biodiversidade que afetam a produção de alimentos. Ao final, a maior parte da água doce poluída acaba nos oceanos, onde provoca graves prejuízos a áreas costeiras e recursos pesqueiros, agravando a situação de nossos recursos oceânicos e costeiros, e dificultando sua gestão” (p. 6).

Ninguém vive sem beber água e, sem água, não haveria comida e nem biocombustíveis (e nem chachaça e nem cerveja). Sem água não há segurança alimentar. Segundo a WWF, utiilizando a metodologia da pegada hídrica, são necessários 15,5 mil litros de água para produzir um quilo de carne bovina, 2,7 mil litros para fabricar uma camisa de algodão, 2,4 mil litros para um hanbúrger, 2,4 mil litros para 100 gramas de chocolate, 1,5 mil litros para um quilo de açucar refinado, 140 litros para uma xícara de café e 120 litros para uma taça de vinho. Um litro de etanol produzido a partir de cana-de-açúcar precisa de 18,4 litros de água e 1,52 metros quadrados de terra. Para alimentar os humanos, a agricultura já capta 70% da água doce do globo e para 2050 é previsto um aumento de mais 70% da produção agrícola e 19% de seu consumo mundial de água, para atender a demanda demográfica e econômica.

Reportagem recente da agência EFE mostrou que: “120 milhões de europeus não têm acesso à água potável. No sul da Europa, certas partes da Europa central e do leste europeu os cursos de água podem chegar a perder até 80% de seu volume no verão. Na África, onde a taxa média anual de aumento da população ronda 2,6%, 1,4 pontos a mais que a média mundial, a demanda implícita de água acelera a degradação de seus recursos hídricos. Uma parcela de 66% do continente africano é árido ou semi-árido e mais de 300 milhões dos 800 que habitam a África Subsaariana vivem em um entorno pobre em água, equivalente a menos de mil metros cúbicos por habitante por ano. A Ásia e o Pacífico, por outro lado, abrigam 60% da população mundial mas não possuem mais que 36% dos recursos hídricos”.

Reportagem do Le Monde mostra que “A guerra da água” é uma possibilidade cada vez mais próxima e comenta, por exemplo, os conflitos geopolíticos causados pela diminuição dos recursos hídricos em uma região já muito instável como o triângulo Paquistão-Índia-China. Expostos a necessidades crescentes em energia, os Estados situados em torno do Himalaia – sobretudo a China e a Índia que apresentam altas taxas de crescimento econômico – embarcaram em ambiciosos projetos de barragens hidrelétricas, causando tensões inevitáveis com os países situados na direção da foz dos principais rios asiáticos. O derretimento de algumas geleiras himalaias, que aumenta os riscos de inundação a curto prazo, contribuem para agravar os problemas.

Ainda segundo o Le Monde, a Índia se situa no centro de um quebra-cabeça “hidropolítico”. Além de suas brigas ideológicas com seus vizinhos, a divisão das águas do Himalaia aparece como uma grande fonte de atritos. Com a China, a controvérsia só tem aumentado nos últimos anos. Ela se concentra nos projetos chineses ao longo do Brahmaputra (também chamado por seu nome tibetano Yarlung Zangbo pelos chineses), que começa no Tibete, bem como a maior parte dos grandes rios da Ásia. Saindo do Tibete, o Brahmaputra atravessa os Estados indianos de Arunashal Pradesh e do Assam (nordeste), antes de percorrer Bangladesh. O governo de Nova Déli também vê com bastante desconfiança a construção de tais barragens, que podem alterar o curso do rio em suas terras do nordeste. Recentemente houve polêmicas a respeito de rumores sobre um suposto projeto faraônico de Pequim visando desviar a água do Brahmaputra para canalizá-la na direção das sedentas regiões do Norte da China. O Nepal, apesar de ser um país situado na direção da nascente, devido ao seu atraso tecnológico teve de cooperar com a Índia para a construção de suas barragens em virtude de acordos acusados de serem “desiguais” por alguns partidos nepaleses.

O exemplo da Ásia pode ser completado com vários exemplos de conflitos “hidropolíticos” na África, pois a bacia do rio Nilo não comporta o crescimento populacional e econômico dos países que dependem de suas águas. Nestes aspectos, o continente americando é privilegiado, pois possui mais água e menos conflitos. Mas a disputa pela água juntamente com a disputa territorial possibilitou, por exemplo, que o Brasil e o Paraguai resolvessem seus conflitos inundando a maravilha da natureza que era Sete Guedas, no rio Paraná, para dar lugar ao atual lago de Itaipú. Este é um dos maiores crimes ambientais da história brasileira.

Mas com ou sem guerras, o fato é que os recursos hídricos estão ficando cada vez mais escassos para a humanidade e ainda mais escassos para a biodiversidade. Principalmente falta políticas adequadas de gestão dos aquíferos e das bacias hidrográficas. Falta também questionar o crescimento econômico pelo crescimento que aumenta a demanda mundial pela água e agrava os problemas de poluição. O que o mundo precisa é mudar o modelo de desenvolvimento marron e dar início a uma Revolução Azul, para preservar as águas e a vida na água, reduzindo a acidez e ampliando a biodiversidade aquática. O mundo precisa oxigenar a vida política e oxigenar biologicamente a Terra, o Planeta Azul.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 09/05/2012

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

3 thoughts on “Água: um direito de todos os seres vivos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • É lamentável!

    E ainda falam em DESENVOLVIMENTO, em SUSTENTABILIDADE, em RIO+20 e não sei o que mais.

  • Vicente Lassandro Neto

    ÁGUA POTÁVEL E ESGOTOS

    Há um equívoco generalizado permeando a mente de pessoas privilegiadas e formadoras de opinião quando o assunto envolve o planeta Terra, a água e os humanos onde uma das frases que mais se ouve é a seguinte:

    A ÁGUA VAI ACABAR

    Trata-se de uma afirmação cômica, não fosse ridícula e, tecnicamente, errada. Vamos por partes, como diria o esquartejador.

    1 – VOLUMES DE ÁGUA EXISTENTES NO PLANETA TERRA

    LOCAL NATUREZA VOLUME EM Km3
    MAR SALGADA 1.372.000.000
    GELEIRAS CONTINENTAIS DOCE – GELO 23.000.000
    SUB SOLO DOCE – CORRENTE 450.000
    RIOS E LAGOS DOCE – CORRENTE 50.000
    AR – VAPOR DOCE – VAPOR 15.000
    TOTAL 1.395.515.000

    RELAÇÃO – MAR / RIOS E LAGOS 27.440

    Fonte – Princípios de Geoquímica – Brian Mason – página 206

    Como, segundo a crença da humanidade, a água vai acabar, surge a seguinte pergunta: E para onde irá todo este volume de água, 1.395.515.000 Km3? É, exatamente, como o dilúvio. Água não faz escada. Como a arca de Noé atingiu o cume do pico de Ararat que tem 5.165 metros de altitude é de se imaginar que este volume de água cobriu todo o planeta Terra não ficando restrito à região do monte de Ararat.

    Uma casca esférica ao redor da Terra com 5.165 metros espessura tem um volume de 2.632.389.126 Km3, mais ou menos, quase, o dobro do volume de toda a água existente no planeta Terra. Vem, novamente, a pergunta. De onde veio e para onde foi toda a água do dilúvio ?

    Como se pode notar, são fatos, sistematicamente, citados mas que não resistem à uma simples análise técnica. Ficam, à luz dos paradigmas e conhecimentos atuais, sem respostas.

    Entretanto, quando a humanidade afirma que a água vai acabar, ela está querendo dizer que o acesso à água potável vai acabar pelo fato de que, a cada dia que passa, os riachos, rios e lagos ficarem mais sujos, poluídos, como conseqüência do lançamento, neles, dos esgotos domésticos e industriais e, pelo andar da carruagem, o problema não tem solução. Há um alarme que vai faltar água e muita gente vai morrer de sede. Precisamos e vamos acabar com este TERRORISMO HIDRO-AMBIENTAL.

    Como se pode notar, as fontes de água potável, próximas, vão terminar mesmo e teremos que ir buscá-la, cada dia, mais distante, quando em superfície, ou em sub superfície, nos chamados aquíferos subterrâneos que exige a construção de poços, hoje rasos e amanhã mais profundos o que, em quaisquer dos casos, encarece o custo da água.

    Assim sendo, à luz dos paradigmas atuais, o problema não tem solução. Vamos morrer por falta de água ou teremos água muito cara cujo consumo será privilégio de ricos. Mas o problema é solúvel e, para tal, é preciso mudar paradigmas quando teremos água abundante, por tempo infinito, para toda a humanidade e independente do número de habitantes desta BOLA.

    Primeiro, temos que entender que o MAR é a LIXEIRA NATURAL da BOLA e ele é a maior usina de tratamento de esgotos, a custo zero, pois decanta os sedimentos e só permite a evaporação de água doce.

    Segundo, em lugar da captar a água cada vez mais distante deveremos lançar os esgotos, cada vez mais distante o que exige a construção de dutos que são, em última análise, os mesmos dutos que seriam usados na captação. Ganhamos com esta atitude pois não será preciso tratar os esgotos. O mar, gratuitamente, nos fará este serviço do tratamento. E, como dizia o artista, não me venham com CHORUMELAS. De um modo ou de outro, todos os esgotos, domésticos e industriais têm como destino o MAR mas só que de um modo não planejado.

    O lançamento do esgoto deverá ser feito junto às correntes marinhas em pontos onde elas se afastam dos continentes para não sujarmos as praias. Isso é feito hoje, por exemplo, na cidade de Salvador – Bahia, onde há dois emissários submarinos que operam sem problema algum. Um para parte do esgoto doméstico e industrial da cidade de Salvador e outro proveniente do Pólo Petroquímico da Cidade de Camaçari que lança, no mar, todos os resíduos líquidos industriais do pólo. Já está sendo preparado um terceiro, para esgoto doméstico.

    Assim sendo, a União e/ou os Estados têm que lançar grandes dutos, desde o interior do Brasil até pontos estratégicos ao longo da nossa costa. É assim que se inicia um projeto para nos livrarmos dos esgotos. Nestes pontos, junto à costa, irá chegar um grande volume de água e com uma pressão tal que poderá, em certos casos, acionar uma hidrelétrica. Exemplo semelhante a este é a famosa usina Henry Borden, na cidade de Cubatão em São Paulo.

    Agora viria outra pergunta. E não vamos poluir o mar ? Não, não vamos poluir a água do mar porque o volume de água do mar é 27.440 vezes maior do que o volume das águas dos rios onde nem toda ela é poluída.

    Esse dutos coletariam os esgotos domésticos e industriais das várias cidades por onde passariam. Este esgoto das cidades deve sofrer, apenas, um tratamento primário, filtração e mais nada. Nada de tratamentos químicos que são caros e de eficiência questionada. Esta separação primária é, apenas, para isolar a parte sólida da líquida. Como, normalmente, a parte líquida é a que está em maior quantidade sobra menos para a parte sólida o que facilita o seu gerenciamento.

    Quanto à esta parte sólida, se for de natureza orgânica, queima-se num local apropriado, junto com o lixo sólido, com uso de filtros especiais nas chaminés e podendo, a depender do volume, até gerar energia elétrica. As cinzas do processo da queima podem ser usadas como adubo.

    Se a parte sólida for de natureza não orgânica tenta-se reciclar ou, quando impossível, tritura-se até que se tenha partículas de tamanho reduzido para serem utilizadas em pavimentação, construção e outras destinações. Neste particular, como já dissemos, a criatividade humana é imbatível.

    Não devemos, jamais, lançar estas partículas finas nos dutos, junto com a fase líquida dos esgotos. Digo isto, pelo fato desta atitude criar a possibilidade de ocorrer a decantação desta parte sólida nas selas dos dutos, provocando redução do diâmetro do duto, dificultando o fluxo, podendo chegar ao entupimento.

    Com estas atitudes não vamos mais poluir a água dos rios próxima às cidades criando condições para que ela possa ser captada, em cada cidade, o mais próximo do centro urbano onde será consumida. Vamos captar uma água de melhor qualidade que, na maioria dos casos, dispensará qualquer tratamento químico. Uma simples decantação ou filtração para eliminação de sólidos em suspensão. Vamos buscar a água cada vez mais perto e lançar os esgotos, cada vez mais longe.

    Por outro lado, tratar os esgotos para permitir seu lançamento nos rios, além de caro, é prejudicial à saúde. Vejam o que acontece.

    A cultura atual é que lançamos no rio um esgoto tratado e tecnicamente perfeito. Numa outra cidade à jusante do local onde o esgoto foi lançado a água do rio será captada e tratada. Atualmente, as regras que normalizam a potabilidade da água dizem, as mais importantes, que a água para consumo humano, além de passar por uma rigorosa análise química, tem que estar isenta de coliformes fecais e não apresentar partículas em suspensão.

    Não há exigência alguma quanto à presença de fármacos na água porque a investigação sobre a existência destes fármacos é muito cara e mais caro, ainda, é o processo para sua eliminação caso ela seja, tecnicamente, viável.

    Nos dias de hoje não há esta preocupação com os fármacos e este fato já está causando problemas na Europa onde as águas do rio Ródano entram e saem do corpo humano em catorze oportunidades. Estão surgindo, lá nesta região, desarmonias inimagináveis na saúde das pessoas.

    Com o uso abusivo de remédios, pela população, o volume destes fármacos, nos esgotos, aumenta, dia após dia o que torna um perigo, para a população, o consumo desta “água tratada” onde os critérios de potabilidade são, em princípio, ausência de coliformes fecais e de sólidos em suspensão. Desarmonias, novas na saúde das pessoas, começaram a surgir na Europa deixando a classe médica numa situação difícil.

    Por enquanto é isso, mas não há muito mais para se escrever de modo a acabar com este terrorismo HIDRO- AMBIENTAL, involuntário e inconsciente.

    Esclarecimentos adicionais podem ser obtidos pelo “e mail” – vilanet@terra.com.br ou vilanet@petrobras.com.br

  • José Eustáquio Alves

    Olá Vicente,

    Obrigado por seu longo comentário. Acho realmente que é importante as pessoas se manifestarem sobre os principais problemas da humanidade agora na véspera da Rio + 20.
    Concordo com voce que é preciso acabar com o “terrorismo hidro-ambiental” que existe tanto do lado daqueles que dizem que a água potável vai acabar, quanto daqueles que dizem que não tem problema nenhum acontecendo.
    Veja que no meu artigo, em momento algum eu falei que a água potável vai acabar. Apenas disse que ela vai ficar mais escassa (devido à crescente poluição) e vai haver mais disputa pela água, como o que acontece entre China, Índia, Vietanam, etc.
    Também falei que a água não é só para o ser humano. Outras espécies animais e vegetais precisam da água e estão sendo extintas por falta de água limpa e pura
    Acho que voce concorda que precisamos cuidar melhor dos nossos recursos hídricos, não?
    Abs, JE

Fechado para comentários.