Breve histórico da bacia hidrográfica do rio dos Sinos, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] O rio dos Sinos nasce no município de Caraá, no litoral norte do estado do Rio Grande do Sul, em altitudes superior a 600m em relação aos níveis do mar e percorre aproximadamente 190 km até desembocar no delta do Jacuí no município de Canoas a uma altitude de apenas 5 metros acima do nível do mar.
A importância histórica do Rio dos Sinos, que tem esta denominação devido a sua sinuosidade elevada ao longo da maior parte de seu percurso, é que foi o berço da imigração alemã para o estado do Rio Grande do Sul, em 1824. Os alemães se estabeleceram na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, utilizando este curso de água como a sua principal via de acesso e transporte por muito tempo.
Os peixes mais comuns registrados nas águas do rio dos Sinos são Cará, Lambari, Grumatã, Mussum, Barrigudinho, Viola, Joaninha, Cascudo, Cascudo dourado, Cascudo branco, Voguinha, Plava, Mandi, Limpa Fundo, Voga, Peixe-Lápis, Piava, Pintado, Dentudo, Sardinha, Jundiá, Limpa-vidro, Tambota.
Na bacia hidrográfica do vale do rio dos Sinos são registradas as seguintes aves: Gavião carijó, Caracará, Pica-pau do campo, Socó boi, Tico tico, Tesourinha, Suiriri, Bem-te-vi, Andorinha doméstica grande, Quero-quero, Martim pescador verde, Martim pescador grande, Biguá, Rolinha, João de barro, Corruíra, Besourinho-verde, Sabiá-laranjeira, Anu-branco Coruja-do-campo, Maçarico-preto, João-grande, Martim pequeno, Galinhola, Garça branca, Urubu de cabeça vermelha, Urubu de cabeça amarela, Gavião carrapateiro, Tucano, Papagaio, Garça, Coruja.
Os animais mais comuns na área da bacia hidrográfica são Jacaré, Cágado, Ratão do banhado, Tatu, Quati, Onça, Tamanduá, Cobra, Tartaruga, Anta, Macaco, Baiano e Vini.
As espécies arbustivas ou arbóreas mais comumente integrantes e descritas nas matas ciliares do rio dos sinos são Inguá, Salgueiro, Sarandi, Açoita-cavalo, Corticeiros, Chapéus-de-couro, Bromélias, Orquídeas, Trepadeiras, Unha de gato, Chá-de-bugre, Paudarco, Cipós, Gramíneas, Ervas arbustivas.
Portanto o rio dos Sinos que é parte da região metropolitana de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul é um ecossistema dos mais ricos existentes no país, detentor de uma biodiversidade invejável.
Sua importância histórica é intangível. A maior parte da imigração de origem alemã, se estabeleceu no Brasil a partir do rio dos Sinos. Desenvolveu inicialmente atividades agrícolas e pastorias, mas a partir do final do século XIX como forma de ampliar e complementar a renda familiar começou o desenvolvimento de artefatos de couro, evoluindo rapidamente para uma grande cadeia empresarial coureiro-calçadista que foi extremamente impulsionada pelos mecanismos de incentivos fiscais obtidos durante a década de 70 do século XX.
Atualmente o pólo coureiro-calçadista se espalhou por todo o Brasil, mas ainda permanece nesta região um “cluster” muito importante de curtumes, acabamentos de couro, empresas calçadistas e todo um conjunto de empresas auxiliares, desde componentes para calçados, passando por metalúrgicas e chegando em gráficas para produção de embalagens.
A evolução da cadeia coureiro-calçadista e das empresas a elas associadas fez com que houvesse o desenvolvimento de tecnologias de ponta na área, e hoje existem vários pólos curtumeiros e calçadistas no país, mas o vale dos Sinos continua sendo referência tecnológica na área.
Atualmente, tanto em função de momentos cambiais desfavoráveis como em função de elementos mais ligados a globalização e internacionalização dos negócios, o vale do rio dos Sinos é constituído por médias e pequenas cidades cujas empresas alcançaram um índice de diversificação bastante elevado, com grande importância e destaque para atividades ligadas a logística. Estas atividades se desenvolveram desde as necessidades da época em que a exportação de calçados exigia soluções de transporte para grandes volumes ou amostras que exigiam grande rapidez de remessa.
O rio dos Sinos se encontra bastante impactado, principalmente pelas atividades antrópicas. O despejo de esgotos “in natura” que ocorre praticamente ao longo de todo rio, é o fato mais responsável pelos baixos níveis de oxigênio dissolvido das águas do Rio dos Sinos e pelos eventos catastróficos de mortandade de peixes.
A maior parte das empresas já dispõe e opera convenientemente estações de tratamento de efluentes para despejar as águas apenas após tratamento adequado no curso principal do rio dos Sinos. Os sistemas de fiscalização deste tratamento ainda são insuficientes, mas tecnologias de monitoramento “on line” e outras iniciativas deste tipo tendem a remediar esta realildade.
A maior poluição do rio dos Sinos advém dos despejos de esgotos, particularmente dos grandes municípios. Agora pela primeira vez na história, num intervalo de tempo relativamente curto, inferior a 4 ou 5 anos, os principais municípios da bacia hidrográfica do rio dos Sinos já tomaram iniciativas e encontram-se com obras de implantação de modernos e adequados sistemas de saneamento para tratamento de esgotos e iniciativas bastante coerentes em planejamento integrado do gerenciamento de resíduos sólidos.
Desta forma, sem falso otimismo, é possível prever que num horizonte de tempo de curto prazo, a qualidade da água do rio dos Sinos seja muito melhorada, assim como a qualidade ambiental da bacia e portanto a qualidade de vida de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas que vivem na sede ou nas áreas rurais de municípios integrantes da bacia hidrográfica do rio dos Sinos.
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 26/04/2012
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Seria muita inocência acreditar que a maioria das empresas tratam seus efluentes antes de jogá-los no Rio dos Sinos. Talvez isto até aconteça durante a fiscalização da FEPAM, mas logo que vão embora a rotina de poluição continua. Trabalho na área há quase 20 anos e sei que, infelizmente, a maioria das empresas engana os fiscais. Embora o esgoto doméstico seja apontado como o maior causador das mortandades de peixes, na última ocasião ocorreu o fato da água mudar de cor, 1 ou 2 dias antes. E mudou não por problemas do esgoto e sim por conter substâncias químicas desconhecidas, que poderiam ter vindo dos curtumes situados à montante. É imperativo que a atual administração de Novo Hamburgo e São Leopoldo, construam centros de tratamento de esgoto, bem como outras cidades do vale, processo este , tão solicitado pela Agenda 21, porém se a fiscalização junto às empresas, que intensificam a poluição química de nossa água, não for eficaz, continuaremos bebendo água contaminada. Poucos sabem, mas o tratamento feito pela Comusa ou Corsan, limpa apenas os coliformes fecais, ou seja, nossa água dita potável continua apresentando altos índices de contaminação química e um grupo enorme de hormônios, muito prejudiciais à saúde humana.