Fiocruz lança documento ‘Saúde na Rio+20’ e defende a inclusão do tema na conferência
Não existe desenvolvimento sustentável sem saúde. Esse é o debate que a Fiocruz quer levar à Rio + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente que será realizada em junho, no Rio de Janeiro. A Fundação acaba de lançar o documento Saúde na Rio+20: desenvolvimento sustentável, ambiente e saúde e convoca a sociedade para oferecer suas contribuições.
Lançado durante o Seminário de Mobilização da Fiocruz para a Rio + 20 (12/4), na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), o documento articula a questão da saúde com os três principais temas de discussão da Rio+20: a economia verde, a sustentabilidade e a governança global. Com isso, a Fiocruz busca preencher uma importante lacuna na agenda oficial da Rio+20, já que o chamado Esboço Zero, a primeira versão do documento final O futuro que queremos, não faz nenhuma menção à saúde. O documento está disponível para download aqui e as contribuições podem ser feitas no site www.sauderio20.fiocruz.br até a primeira semana de maio.
O presidente Paulo Gadelha ressaltou o objetivo da Fiocruz não se restringe à luta por um melhor documento final da conferência, mas pela promoção de um debate que leve a ações concretas. “Um país que se coloca como anfitrião gera responsabilidades imensas em relação à realização de transformações na realidade nacional”, afirma. Gadelha ressaltou a atuação da Fiocruz no momento que antecipa a conferência. Além do mapeamento da ausência da saúde nos debates oficiais, a Fundação tem realizado estudos do impacto de grandes empreendimentos, como o monitoramento do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), feito pela Ensp. Durante a conferência, a Fundação estará presente nos espaços oficiais, quanto nas discussões tecnológicas, além dos debates da sociedade civil. “Muitas contribuições virão da Cúpula dos Povos”, acredita o presidente, se referindo ao evento paralelo à Rio+20 organizado pelos movimentos sociais.
O presidente do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Paulo Buss, lidera o grupo de trabalho da Fiocruz na Rio+20, que produziu o documento. Buss alertou para o risco de que a Rio+20 seja reduzida a um cumprimento de tabela, se não houver um posicionamento firme da sociedade civil, da academia e dos governos. “Por isso, a Fiocruz entra no jogo, sem perder a inserção da saúde no social e no ambiental, para garantir que não haja esvaziamento e fazer uma crítica transformados da realidade”, afirma. “Queremos que o debate que promovemos gere mudanças no país”. Buss também discutiu as controvérsias da economia verde, um dos aspectos abordados no documento. “É preciso evitar um simples esverdeamento do capital”, afirma. “A Fiocruz está preocupada em questionar o modo de produzir e consumir”.
Fundação quer estender o debate para além da Rio+20
O grupo de trabalho se apoiou na vasta produção de profissionais de saúde e pesquisadores da área de saúde coletiva brasileira para produzir o documento, muitos da própria Fiocruz. Foram utilizados trabalhos do Ministério da Saúde, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e documentos de agências da ONU. O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, ressaltou que o documento é uma das estratégias da Fiocruz para dar a centralidade necessária à questão da saúde. A outra é a mobilização “Queremos fazer barulho, cutucar as agendas formais da Rio+20”, afirma. Rangel lembrou que a Fiocruz quer estender o debate para além do término da conferência. Em 2015, será feita a revisão dos Objetivos do Milênio, instituídas na Cúpula do Milênio, organizada pela ONU em 2000. “Nossa ênfase é no processo posterior à Rio+20”, ressalta Rangel.
Outro objetivo da Fiocruz é a interlocução com instituições de saúde e pesquisa. A presidente do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), Ana Costa, foi uma das convidadas do evento. Ana colocou a instituição como parceira da Fundação no processo. “Não podemos despolitizar a situação do meio ambiente e encarar a tecnologia como a grande e única salvadora da crise”, defende. “Junto com a Fiocruz, queremos redirecionar nossas forças e tornar a produção de saúde mais eficaz.” O Cebes está produzindo um documento que será apresentado na Cúpula dos Povos, além de uma edição especial da revista Saúde em Debate.
Matéria de Tatiane Leal, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 17/04/2012
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