Porto Alegre, linda e ‘virgem’, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] A capital gaúcha é tão rica em belezas naturais – com morros à beira do Guaíba, ilhas, áreas rurais e de preservação ambiental – que cabe perguntar porque não é um ícone turístico no país. Será que a queremos só para nós, linda e intocada por estranhos? Porque nada fazemos para incluí-la nos roteiros obrigatórios de viagens?
Valinhos (SP) chegou a criar uma cascata artificial como atrativo, para aumentar os motivos para ser visitada. Poços de Caldas (MG), com seus singelos 150 mil habitantes (dez vezes menos que Porto Alegre) mostra aos hóspedes a sua vista aérea com um teleférico até o topo de um morro. Iniciativas simples mas objetivas, indicam que suas cidades querem ser percorridas, invadidas, por aquelas hostes de viajantes em busca de prazeres visuais. Porque desejamos Porto Alegre só para nós, linda e virgem de grandes fluxos turísticos?
Empreendedores que somos, conhecidos por termos desbravadores que expandiram as fronteiras do Brasil com a conquista do Acre, não é de se supor que não investimos em qualquer área de atividades por simples inércia ou inaptidão. Só pode ser por escolha. Como a daquela bem humorada propaganda de cerveja local, poderíamos dizer que nossa Capital também é só para os daqui. A não ser por um que outro projeto, como o de revitalização do Cais, vamos ser sinceros e admitir que nossos investimentos em lazer foram feitos pensando em nós mesmos, tipo o Gasômetro ou a Casa de Cultura Mário Quintana.
O século XXI, porém, traz novos valores e desafios. Virgindade não é mais prova de virtude, só de falta de experiência. Não aproveitar o potencial econômico e cultural que temos para um desenvolvimento turístico sustentável é um absoluto desperdício de oportunidades. Considerando a rara beleza natural de PortoAlegre, é mais que egoísmo a mantermos só para nós, é negar a sua própria vocação de uma autêntica Capital do Mercosul, que não decorre apenas de sua localização, mas do conjunto todo de sua geografia – como atesta seu belo Atlas Ambiental.
Há entraves culturais a superar, para que esta vocação se realize. O nível de investimentos necessários poderia ser um óbice, se não houvesse a possibilidade de iniciativas conjuntas entre entes públicos e privados, capazes de gerar negócios com garantias de preservação dos interesses públicos, nos mais diversos sentidos. Sendo inaceitável privatizar nossos tesouros naturais, que devem ser acessíveis à visitação organizada de todos, é ao mesmo tempo ilógico deixar de pensar em possíveis parcerias pontuais.
Áreas públicas tem sido invadidas de modo desordenado e irresponsável, comprometendo a preservação de nosso patrimônio ambiental e paisagístico, sem que o Estado tenha, hoje, capacidade de fiscalização e controle de áreas vitais do seu próprio território. Não nos cabe assistir a isso impassíveis, lamentosos, sem buscar soluções viáveis. Também não podemos nos pautar por modelos de gestão pública que gerem apenas novas despesas ao Estado, sem receitas que o sustentem, como aconteceu no caso da Grécia.
Conciliar a preservação dessas áreas vitais, o interesse público e a possibilidade de investimentos com gestão pontual de algumas funções pela iniciativa privada, com licitações para tais concessões, é uma alternativa para Porto Alegre resgatar a sua vocação de patrimônio paisagístico internacional, que insistimos em lhe negar.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 11/04/2012
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amo o @ecodebate e repasso todos os dias artigos desse e de outros ótimos articulistas publicados aqui. mas li esse texto sobre POA e achei desnecessária a metáfora da ‘virgindade’. nem neura, ok? mas valores machistas se consolidam assim, em coisas bem pequenas, até “evoluirem” para uma votação como a de hoje (direito à interrupção de gravidez por saúde e dignidade humana = crime). só comento pq adoro o site. parabéns sempre.