Carnaval no Rio: entre o samba e o lixo no pé, artigo de Bruno Rezende
[Deutsche Welle] O lixo gerado pelos foliões, blocos e escolas de samba é um dos maiores problemas do Carnaval do Rio de Janeiro. Faltam campanhas de conscientização e, sobretudo, mudança de comportamento das pessoas.
Nos últimos anos, acompanhando de perto a ascensão da maior e mais esperada festa popular brasileira no Rio de Janeiro, especialmente o Carnaval de rua, constata-se o aumento dos problemas ocasionados pelo evento, principalmente no que se refere à poluição e falta de conscientização da população e das autoridades locais.
Os problemas durante o carnaval de rua no Rio de Janeiro são inúmeros, mas o incômodo mais notável é o volume de lixo gerado e que a cada ano apresenta números recordes. De acordo com os dados da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), em 2011 foram recolhidas durante os quatro dias de Carnaval 850 toneladas de lixo em todo o município, 90 toneladas a mais que em 2010.
Só na região do Sambódromo, onde acontecem os desfiles das escolas de samba, foram recolhidas 408 toneladas de lixo. Nas vias públicas da cidade, onde ocorrem desfiles de aproximadamente 425 blocos de rua, os garis da Comlurb recolheram o total de 316,7 toneladas de resíduos.
Recicláveis mais rentáveis
O acréscimo do volume do lixo é justificável quando se leva em conta o aumento do número de pessoas que passam o Carnaval na cidade. Em 2011, a prefeitura estimava essa cifra em 3 milhões de foliões, mas o número real alcançou 5 milhões, quase o dobro de foliões presentes em 2010. No último carnaval, a Comlurb desenvolveu uma ação positiva em relação ao recolhimento de resíduos das ruas. Os blocos maiores que desfilaram pelas ruas foram seguidos por garis e caminhões que passavam recolhendo o lixo e lavando a rua. Esta ação ajudou muito, mas não resolveu o problema.
Muitas vias adjacentes às ruas dos desfiles ainda permaneceram, todavia, muito sujas. A quantidade de lixo realmente impressiona, mas ao observar os tipos de resíduos descartados percebe-se que é possível reduzir este volume. Nas andanças pelas ruas, encontram-se materiais que deveriam ser proibidos pelas autoridades, como copos e garrafas de vidro, além de muitos espetos de madeira usados para churrasquinhos.
Felizmente os copos e garrafas de vidro não marcam mais presença do que os resíduos recicláveis, principalmente plásticos. A maior parte das bebidas vendidas nas ruas são envasadas em latas de alumínio, material que é constantemente recolhido por catadores, portanto é difícil encontrar uma lata de alumínio jogada no chão. Já objetos feitos de plástico, incluindo garrafas, copos e embalagens de um modo geral, não são recolhidos por catadores para reciclagem. A explicação para isso é óbvia: o alumínio é mais rentável.
Comportamento das pessoas
Tonéis usados como apoio
Qualquer mudança na organização do Carnaval depende também da mudança de atitude da população. Por exemplo, é comum observar lixeiras transbordando devido à imensa quantidade de lixo, enquanto outras são utilizadas como mesa para apoiar bebidas. Atitudes como esta são comuns e evidenciam a urgente necessidade de se lançar campanhas de conscientização.
No Carnaval de 2011, por exemplo, o Rio lançou uma campanha contra o xixi na rua, que resultou na prisão de 777 foliões, entre homens e mulheres, que urinavam pelas ruas e praças da cidade.
As autoridades afirmam que a população precisa se conscientizar e urinar no lugar certo, mas estas mesmas autoridades precisam também aprender a mensurar suas demandas.
Em 2011, havia filas intermináveis nos 13 mil banheiros químicos espalhados pela cidade, com uma média de 375 pessoas para cada banheiro. Em 2012, a organização promete apenas 2 mil banheiros a mais que no ano passado, mas desta vez serão itinerantes, ou seja, vão se movimentar junto com os blocos para facilitar o acesso dos foliões.
Além das plumas e paetês
Caminhões recolhem lixo após passagem da Banda de Ipanema na Av. Vieira Souto
Durante o Carnaval, neste ano haverá novamente a campanha contra o xixi na rua, além de outras, como a de prevenção do HIV/AIDS, contra o preconceito e também outra para estimular a doação de sangue. Mas não haverá uma única campanha que incentive a população a não levar para as ruas garrafas de vidro ou qualquer outro objeto que provoque acidente, a evitar desperdícios e a estimular a criatividade de reuso das fantasias de carnavais anteriores.
Nem todos sabem que as escolas de samba reciclam ou reutilizam muitos materiais utilizados nos desfiles de carnavais anteriores, embora façam isso mais por uma questão econômica do que ambiental. Por mais que o foco seja a redução de custos, esse é um exemplo que deve ser difundido através de campanhas, pois em longo prazo pode despertar na população o interesse por assuntos referentes à sustentabilidade e ao consumo consciente.
A prefeitura não esconde que deseja frear o crescimento do Carnaval carioca, mas os organizadores deveriam perceber que os problemas encontrados na organização desse evento servem como um preparo para eventos maiores que estão por vir, como a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Está na hora do Rio de Janeiro se preocupar com outras coisas além das plumas e paetês.
Bruno Rezende é autor do Blog Coluna Zero, vencedor do Prêmio Tópico Especial Mudanças Climáticas, no concurso internacional de blogs da Deutsche Welle The BOBs, em 2010.
Autor: Bruno Rezende
Revisão: Carlos Albuquerque
Artigo socializado pela Agência Deutsche Welle, DW e publicado pelo EcoDebate, 22/02/2012
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