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Estudo analisa impacto do mercado de carbono na biodiversidade

 

Modelo, ainda incipiente, poderia reduzir em mais de 75% a perda de biodiversidade nas florestas tropicais

Um mercado de créditos de carbono realmente eficiente poderia diminuir em mais de 75% a perda de biodiversidade nas florestas tropicais. É o que mostra um estudo divulgado na última edição da revista Nature Climate Change. Matéria de Alexandre Gonçalves, em O Estado de S.Paulo.

A moeda desse mercado é cada tonelada de gás carbônico que deixa de ser emitida ou é retirada da atmosfera, comprovada por certificados que podem ser comercializados. A estratégia é conhecida como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD).

Na prática, as empresas adquirem os créditos para compensar sua própria contribuição para o aquecimento global. O dinheiro é então usado para iniciativas que diminuam o efeito estufa, como a conservação das florestas.

Até agora, nenhum estudo tinha mostrado uma análise clara do impacto global do REDD para a biodiversidade. O trabalho publicado é o primeiro a quantificar os benefícios e a mostrar onde e quando eles virão.

O brasileiro Bernardo Strassburg, principal autor do trabalho e diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade, no Rio, explica que o grupo concebeu vários modelos para prever o ritmo de extinção das espécies caso a taxa atual de desmate permaneça constante.

Três modelos diferentes previram a extinção de 10% a 25% dos 4.514 mamíferos e anfíbios dependentes de florestas no decorrer deste século. Um quarto modelo, que utilizou uma base de dados com mais espécies, previu a eliminação de 36 mil plantas e animais que ocorrem em regiões de alta biodiversidade.

Incentivos financeiros para conservar estas florestas no valor de US$ 25 (cerca de R$ 43) para cada tonelada de gás carbônico evitariam de 84% a 94% dessas extinções, além de impedir a liberação anual de 4,3 bilhões de toneladas de CO2 (mais informações nesta página).

“Também previmos cenários em que a tonelada de carbono custaria US$ 3, US$ 7 e US$ 10”, diz Strassburg. “Em todos os cenários há benefício, mas obviamente ele é maior quando o valor do carbono é maior, o que torna mais interessante deixar a floresta de pé.”

Mas ele ressalta que algumas florestas exigiriam estratégias complementares de preservação, mesmo com preços elevados do carbono. “Normalmente, são áreas com potencial agrícola, localizadas perto de grandes centros urbanos”, aponta o pesquisador. “Nesses casos, outros usos da terra podem ser economicamente mais vantajosos.”

Ele também recorda que a proteção das florestas por meio de mecanismos de REDD pode levar a uma maior pressão de expansão urbana e agrícola sobre outros biomas – como o Cerrado no Brasil. “Por isso, seria conveniente prever esse aumento de pressão e associar o REDD a estratégias para evitar a devastação de outros biomas.”

Futuro. Os autores do trabalho esperam que ele influencie as discussões sobre mudanças climáticas e contribua para mostrar a importância de um sistema sério e universal de REDD, não só para o aquecimento global mas para a preservação da biodiversidade.

Atualmente, o mercado de carbono está restrito a iniciativas particulares em que empresas contribuem com a preservação de reservas florestais e, com isso, ganham o direito de ostentar os créditos que legitimam a imagem de negócio ambientalmente responsável.

Também há negócios entre países. A Noruega, por exemplo, tem comprado créditos de carbono de diversos países latino-americanos e africanos.

Mas o biólogo brasileiro José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente global da Conservação Internacional, diz que o mercado ainda está muito imaturo. “Esbarramos em um duplo problema”, explica. Em primeiro lugar, um mercado exige um arcabouço legal e institucional que dê segurança aos investidores. “Na maioria dos lugares, isso ainda não existe ainda”, pondera Silva.

No Brasil, embora alguns Estados contem com boa legislação de compensação por serviços ambientais, falta uma estrutura legal federal – o que gera insegurança e desestimula investimentos.

“O segundo problema foi a crise internacional que fez com que as empresas buscassem alternativas mais seguras para investir seu dinheiro”, recorda Silva.

Tanto ele como Strassburg veem a consolidação de um mercado de carbono como uma tarefa de décadas. “Mas para mim é inevitável”, afirma Strassburg.

EcoDebate, 07/02/2012

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