Deputados ruralistas querem rever demarcação de terras indígenas
Desde a demarcação da Raposa Serra do Sol, que foi contestada até o Supremo Tribunal federal (STF) decidir a favor de sua demarcação em 2009, os ruralistas têm tentado alternativas para rever a situação das terras indígenas. O presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, deputado Moreira Mendes (PSD-RO), disse que, depois da discussão do novo Código Florestal, este será o próximo embate legislativo do setor.
O deputado argumenta que está sento proposta a ampliação de áreas indígenas, quando a Constituição foi clara ao dizer que os índios têm direito às terras que ocupavam em 1988. “O que está acontecendo é que a Funai, ou alguém desconhecido, importa índios de um lugar para outro, com o objetivo de justificar a ação antropológica, e o Brasil precisa conhecer isso”, afirma.
A Raposa Serra do Sol, onde residem índios da etnia Macuxi, alguns considerados sem contato externo, tem 1,7 milhão de hectares e ocupa 7,7% do estado de Roraima. Na região, 6 mil hectares eram cultivados por arrozeiros, que foram obrigados a deixar a área.
Constitucionalidade
Ainda resta saber se a CCJ aceitará o adiamento da votação da PEC 215/00, mas o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) disse que todos os lados estavam representados na reunião com o ministro da Justiça e concordaram com a criação de novas regras de demarcação. “A comissão é soberana, mas, como relator, usarei todos os mecanismos possíveis para dar esse tempo ao ministro”, disse Serraglio.
Para o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), a PEC é inconstitucional porque a demarcação de áreas indígenas é apenas o reconhecimento de um direito constitucional, e esse tipo de ato administrativo é típico de atividades do Executivo. “Se fosse a criação de um novo direito, teria de passar pelo Congresso, mas o que querem com isso é desconhecer os direitos de indígenas e quilombolas que já estão assegurados”, defendeu.
O relator, no entanto, discorda dessa visão, e deu parecer favorável à admissibilidade da PEC. Segundo Serraglio, a CCJ só deve opinar de maneira técnica, decidindo se a mudança é possível ou fere a Constituição, e posteriormente será discutido se a mudança é boa ou ruim para o País.
Ele cita o caso da mineração em terra indígena, que precisa de aprovação exclusiva do Congresso, assim como a autorização para construir usinas elétricas. “São atos administrativos também, mas sem participação do Executivo, que só apresenta a proposta, mesmo caso das concessões de rádio e TV, em que o processo é feito pelos órgãos competentes e autorizado pelo parlamento”, explicou.
Reservas ambientais
O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Sarney Filho (PV-MA), ressalta que um dos problemas foi incluir na discussão sobre terras indígenas as áreas de conservação ambiental. A PEC original não prevê isso, mas outras foram apensadas incluindo essas áreas no mesmo tema.
Ele explica que para a criação de unidades de conservação há uma lei aprovada pelo Congresso, que prevê ouvir estados e municípios no processo, de forma democrática. “Mesmo a decisão de aceitar a PEC seria uma sinalização péssima para a comunidade internacional, e há muitas áreas de conflito em que invasores e não índios iriam aproveitar para impor seu ponto de vista”, disse.
Íntegra da proposta:
Edição – Marcelo Westphalem
Matéria da Agência Câmara de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 27/01/2012
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