Dilma, ouça a Marina, por favor, artigo de Clóvis Rossi
A presidente tem a chance de ser estadista se liderar o sucesso da reunião Rio+20 no ano que vem no Brasil
[Folha de S.Paulo] Governantes, no mundo moderno, precisam ser animadores de auditório. Devem galvanizar plateias para programas, ideias, projetos, se possível utopias.
Barack Obama desempenhou esse papel com brilho, como candidato. Como presidente, perdeu o elã, o que ajuda a explicar a queda na popularidade e as dificuldades para reeleger-se.
Já Dilma Rousseff dá todas as indicações de que abomina esse tipo de comportamento.
Poder-se-ia dizer dela o que se diz, com certo desdém, de Obama: lidera da retaguarda. No caso de Dilma, comanda do gabinete, em vez de fazê-lo dos palanques, como preferia Luiz Inácio Lula da Silva, sucesso de público e de crítica.
Não estou criticando Dilma. É sua personalidade, seu jeito de ser, respeitável. O problema é que está chegando um momento em que a presidente terá que violentar sua aversão às luzes da ribalta para liderar um processo importante não só para o Brasil, mas para o mundo.
Refiro-me à Rio+20, a conferência programada para o ano que vem no Rio, 20 anos após a primeira grande reunião sobre ambiente do planeta.
Daquele ano até o fracasso da cúpula de Copenhague, em 2009, o mundo viveu um certo frenesi em torno de questões ambientais. Parece, no entanto, que o fracasso de 2009 subiu à cabeça dos líderes.
Perdeu-se o impulso, como constatou sexta-feira Moisés Naím em sua coluna nesta Folha: “A ideia de que é preciso agir urgentemente para evitar que o planeta continue a se aquecer até tornar-se inabitável desapareceu da agenda”.
Naím exagera um pouco. Desaparecer é forte. Mas que a ideia se enfraqueceu é evidente.
Aí é que deveria entrar Dilma, para anabolizar o tema. Concordo com Marina Silva, ambientalista internacionalmente reconhecida, quando ela escreve, como o fez também na sexta, para a Folha: “Verdadeiros líderes são os que se apresentam nas crises, que se dispõem a ajudar a sociedade a fazer o que precisa ser feito, em nome do bem comum e dos mais nobres valores humanitários. E uma política sem estadistas interessa a quem não quer mudanças”.
Completa a ex-ministra do Meio Ambiente: “Quantos presidentes ou chefes de Estado estiveram em Durban? Quantos dão importância ao tema em suas agendas? Infelizmente, a discussão da crise climática perde para assuntos menores. O exílio da ciência, a domesticação dos políticos e a burocratização das negociações são a melhor forma para se perpetuar a mediocridade no âmbito multilateral”. Dilma, como anfitriã da próxima cúpula, deveria colocar como prioridade na sua agenda romper o molde descrito com precisão por Marina Silva.
Ousaria dizer que o Brasil é o único país, entre os grandes, capaz de trazer China e Índia para a realidade. Não adianta esses dois países continuarem alegando que quem sujou o planeta foram os países ricos e, por isso, cabe a eles limpá-lo.
Por muito justa que seja a observação, não tem sentido prático, se os países emergentes continuarem no presente e no futuro a fazer sujeira.
Fácil, não é, claro. Mas Dilma pode ter seu momento de estadista se ocupar vigorosamente a cena.
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de “Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e “O Que é Jornalismo”.
Artigo publicado na coluna de Clóvis Rossi, na Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 19/12/2011
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