Pegada Ecológica: e se eliminarmos os Estados Unidos? artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A Terra é um Planeta finito. Isto significa que os seres vivos possuem um espaço comum e delimitado para a sobrevivência conjunta. O crescimento exponencial de uma espécie significa a redução do espaço para a vida de outras espécies. Da mesma forma, o crescimento ilimitado de cada país aumenta a demanda global por matérias-primas e commodities e contribui para o sobre-uso dos recursos naturais.
A Pegada Ecológica é uma metodologia que mede o impacto humano sobre as áreas terrestres e aquáticas, consideradas biologicamente produtivas e necessárias à disponibilização de recursos ecológicos e serviços, como alimentos, fibras, madeira, terreno para construção e para a absorção do dióxido de carbono (CO2) emitido pela combustão de combustíveis fósseis etc. A Pegada Ecológica mede a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade.
Segundo o Relatório Planeta Vivo, da WWF, com dados de 2007, as atividade antrópicas já haviam ultrapassado a biocapacidade da Terra, que é de 13,4 bilhões de hectares globais (gha). A Pegada Ecológica da humanidade atingiu 2,7 gha por pessoa para um população de 6,7 bilhões de habitantes em 2007. Isto significa que a humanidade já estava utilizando 18,1 bilhões de gha, 35% a mais do que a capacidade de regeneração do Planeta.
Os países do mundo com maior pegada ecológica, em 2007, eram Emirados Árabes e Qatar, com mais de 10 gha por pessoa. Porém, como são países com baixo número de habitantes, o impacto global é pequeno. Já os Estados Unidos da América (EUA) tinha uma população de 308 milhões de habitantes e uma pegada de 8 gha por pessoa, em 2007. Isto quer dizer que o impacto global dos EUA foi de 2,46 bilhões de gha.
A população dos EUA que representava 4,6% da população mundial, estava utilizando 18,4% dos 13,4 bilhões de hectares globais disponíveis no Planeta, naquele ano. Se a população mundial adotasse o mesmo padrão de produção e consumo dos Estados Unidos seria preciso 5 (cinco) Planetas para dar conta do tamanho da Pegada Ecológica, em 2007. Ou seja, o “American way of life” (o modelo americano de vida) é insustentável e não pode servir de referência para o resto do planeta.
Porém, se não devemos copiar o modelo americano, também não devemos culpá-lo por todos os males do mundo. A título de exemplo, vamos, matematicamente, eliminar os EUA dos cálculos da Pegada Ecológica global.
Como apresentado anteriormente, a Pegada Ecológica global foi de 18,1 gha em 2007. Toda a Pegada dos EUA foi de 2,46 bilhões de gha. Eliminando os Estados Unidos do cálculo mundial, o resultado é que a Pegada Ecológica do Planeta (sem os EUA) foi de 15,6 bilhões de gha, ou seja, 17% superior aos 13,4 bilhões de gha disponíveis.
Portanto, mesmo eliminando os EUA do cálculo da Pegada Ecológica mundial as atividades antrópicas do resto da população continuam superiores à capacidade de regeneração da biosfera. A China, por exemplo, tem Pegada Ecológia per capita relativamente baixa (de 2,2 gha). Mas como tem uma população muito grande, apresentou uma Pegada Ecológica total de 2,92 bilhões de gha, representando 22% dos 13,4 bilhões de gha disponíveis no mundo. A China já é o país com maior impacto ecológico do globo.
Os cálculos acima não tiram as responsabilidades dos EUA como um dos maiores poluidores do Planeta. Apenas mostram a real dimensão dos problemas causados pelos tamanhos do consumo e da população mundial. Os EUA não são um modelo a ser seguido. Mas também não são os únicos culpados pelos danos ambientais do mundo.
Seguindo o princípio das “Responsabilidades comuns mas diferenciadas” a Rio + 20 deve cobrar dos Estados Unidos e dos demais países desenvolvidos suas dívidas pelos danos causados ao meio ambiente global. Mas, acima de tudo, é preciso que toda a comunidade internacional se engaje na luta pela mudança de atual modelo marron de desenvolvimento e de consumismo exacerbado. Só uma economia de baixo carbono, verde, limpa e socialmente inclusiva pode mitigar o desastre do aquecimento global e os danos mais impactantes da degradação ambiental.
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 30/11/2011
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Parabéns ao autor do artigo por tantas informações valiosas.
Excelente, consubstanciada e persuasiva essa abordagem com dados quantitativos e qualitativos.
De há muito, eu já tinha para comigo – embora sem a riqueza de comprovação do artigo – que, apenas em termos de energia, o planeta não comportaria outros “EE.UU.” com seus padrões de espoliação planetária.
Fiquei sabendo também, de outra fonte, que o acumulativo bélico dos “States” é superior à totalidade da soma de todas as outras nações o que me leva a juntar aos argumentos do artigo também o absurdo dos padrões de domínio hegemônico pelo poder de guerra.
Estive na Eco-Rio-92 lutando contra esse aspecto e estarei também no Rio+20, para reafirmar essas informações que nos agridem, tanto pelo absurdo como pela “continuidade impune”.
É o modelo americano de gastronomia fast-food, da geração de gordos pela comilança, que faz uns poucos consumirem absurdamente demais em detrimento de muitíssimos outros.
Estou vivenciando uma experiência de redução de variedades e quantidades em favor da qualidade real, mantenho uma saúde estável com menos de dois terços da quantidade e, o que é importante em termos ambientais e sanitários, sem consumo de carne de espécie alguma mantendo, também, o nível de peso total, com menos gorduras e colesterol no corpo, em um vegetarianismo preferencial de frutas tropicais de que o Brasil é afortunadamente abundante. Por minha causa já não desmatam para produzir carnes.
Apenas com o comedimento na alimentação se restabeleceria o equilíbrio ambiental, acho.
Ou algo perto disso. A contribuição seria enorme.
Não acredito que se atinja isso um dia!
Faço um último apelo: continue a bater nessa tecla e será um ótimo “samba de uma nota só…!”
Parabenizando, meus cumprimentos.
Por ordem crescente eliminamos os EUA, depois a China, a Rússia, Canadá e finalmente chegamos ao Brasil. Bem se torna sem efeito essa teoria do caos , pois não estão todos os fatores considerados e imensuraveis, já que o futuro à Deus pertendce!