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Artigo

A última mulher, artigo de Efraim Rodrigues

 

[EcoDebate] Não seria pelos artigos científicos que o jovem Epaminondas atingiria a tão desejada imortalidade. A Academia de Letras não gostava de cientistas, por mais prolíficos que fossem. De toda forma, já há centenas de anos a Academia tinha deixado de ser a única alternativa para imortalidade.

Desde a publicação de Baker em 2011, que as sessões de terapia gênica para inibir os efeitos da proteína P16 ink4A viabilizaram a imortalidade. Sendo poucos os que podem pagar, o resto da população segue sua tendência de redução. Macau e Hong Kong já não existem desde 2100. A radiação atômica de Fukushima acelerou o fim destas ilhas pequenas e pouco prolíficas.

A imortalidade pela via de ter filhos é também difícil. As únicas mulheres que ainda os têm são as imortais. As outras preferem gastar seu tempo livre nos centros de terapia aquisitiva. Por pressões ambientalistas, desde 2090 os centros de terapia aquisitiva passaram todos a ter programas de reciclagem associados, onde o cliente imediatamente deposita os objetos comprados, processando-os de maneira ambientalmente limpa e isenta de impactos, podendo assim retornar imediatamente ao Trabalho.

Trabalho é o nome da companhia que sobrou da Joint Venture da Apple com a Google, Volkswagen, Alcoa e Nike, depois que já terem comprado todas as outras e também os países, especialmente estes uma barganha. Com suas dívidas enormes, eles custaram pouco e permitiram também o ganho adicional de reduzir gastos com o fim dos Departamentos Jurídicos. Além de suprir os centros de terapia aquisitiva, o Trabalho também gera lucros para seus donos pagarem o tratamento de imortalidade.

O sistema, no entanto, possui uma falha. Os mortais, além de sua óbvia finitude, também não se reproduzem. Está definhando até mesmo o gigantesco lugar que já se chamou Brasil. Em breve nascerá sua última mulher. Daqui a pouco tempo nascerá também a última chinesa. O Trabalho vem automatizando processos, mas sempre acaba precisando de alguém para apertar os botões. Mesmo a recém inventada máquina de apertar botões também precisa de alguém para acioná-la.

Tudo isso ficou menos importante quando aproximou-se uma mortal querendo praticar uma ancestral arte esquecida já há séculos, tal qual a falcoaria e a ‘contação’ de histórias. Parecia que ela queria conversar.

Quereria ela acesso às valiosas doses de P16 ink4A restrict, o valiosíssimo tratamento gênico que Epa controlava em seu laboratório ? Ou quereria ela, além de conversar, praticar a ainda mais antiga arte do sexo ? O que será que uma das últimas mulheres da Terra queria com ele ?

Em 2200 os seres humanos já se livraram até da morte (ao menos alguns), mas ainda não dos mais antigos dilemas gregos.

Veja o artigo publicado pelo Professor Baker na revista Nature sobre o controle da ação da proteína P16 ink4A neste link

http://www.nature.com/nature/journal/v479/n7372/full/nature10600.html

, assim como para a estimativa de quando nascerá a última mulher em diversos países.

http://www.economist.com/blogs/dailychart/2011/08/populations

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), colunista do EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. Publica o blogue Ambiente por Inteiro.

EcoDebate, 18/11/2011

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Alexa

One thought on “A última mulher, artigo de Efraim Rodrigues

  • Talvez o acúmulo de anos na minha vida já esteja reduzindo a minha inteligência, que nunca foi grande coisa.
    Sabem o que entendi deste artigo? Nada, nada, nada. Absolutamente NADA
    Se alguém puder me dar uma dica, ficarei grato.

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