População e consumo na Rio+20, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio/92) foi aberta oficialmente no dia 03 de junho de 1992. Naquela data a população mundial era de 5.478.595.455 habitantes. No dia 20 de junho de 2012, quando for aberta a Rio + 20 a população mundial deverá estar na casa de 7.052. 135.000 habitantes. Ou seja, em 20 anos a população mundial terá crescido em 1,6 bilhão de habitantes. Houve um aumento demográfico de 29% em duas décadas. Dá pra deixar as questões populacionais de fora da discussão do meio ambiente?
Em 1992, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB mundial – em poder de pardidade de compra (ppp) – foi de 27,9 trilhões de dólares. Isto representou uma renda per capita de 5 mil dólares no ano. Em 2012, o PIB mundial deve ficar em torno de 82,8 trilhões de dólares (ppp) com uma renda per capita mundial de 11,7 mil dólares. Houve um crescimento de 134% no poder de compra médio da população mundial em termos nominais. Deflacionando os números, o aumento foi de 98% em termos reais. Dá pra ignorar a dominação econômica sobre a natureza?
O crescimento do poder de consumo médio da população mundial foi três vezes maior do que o crescimento demográfico. Evidentemente, são as parcelas mais ricas da população que concentram a maior parte do luxo do consumo. Mas, mesmo que houvesse uma distribuição igualitária da renda, o impacto das presença humana na Terra não deixaria de ser ameaçador para o solo, as águas e a atmosfera.
Não há dúvidas de que o crescimento da população e dos bens e serviços têm aumentado o impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente. Uma forma de medir este impacto é através da metodologia da Pegada Ecológica.
De acordo com os dados da Global Footprint Network, a Pegada Ecológica da humanidade tem crescido de maneira acelerada nas últimas décadas e já atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, ultrapassando em 50% a capacidade de regeneração do Planeta.
Considerando o crescimento da renda per capita e seus potenciais efeitos danosos sobre o meio ambiente, os dados mostram que o desenvolvimento da economia foi mais impactante do que o crescimento demográfico. Mas, com braços e bocas, o aumento populacional alimenta o crescimento econômico. E para alimentar a população com comida e o sonho de consumo, quem paga o pato é o meio ambiente e as cerca de 30 mil espécies que são extintas a cada ano.
No ritmo atual a humanidade caminha para o suicídio e o ecocídio. Portanto, é urgente pensar um novo padrão de produção e consumo que torne viável e sustentável ambientalmente a vida dos mais de 7 bilhões de habitantes do mundo. A Rio + 20 precisa apresentar propostas concretas para uma mudança de rota, evitando uma possível queda no precipício. Precipíco que está sendo cavado, sem paz, com mãos, pés e pás.
Em artigo recente, o prestigiado demógrafo George Martine, mostrou qual é a primeira (e complexa) tarefa a ser agendada: “A solução passa pela revisão radical do nosso modelo de desenvolvimento e da sereia que o estimula – o consumismo”.
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 09/11/2011
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Diniz apresenta o tema de explosão demográfica e consumo de forma rápida e superficial. Mas ao final minimiza os problemas da explosão demográfica e prefere colocar mais peso na questão do consumo.
Porque não apontar diretamente a explosão populacional como causa real dos problemas sócioambietais?
Qualquer coisa que sete bilhões de consumidores utilizarem vai ser causa de destruição ambiental muito séria, independentemente do modelo de consumo.
Instituições internacionais alertam para a preocupante quantidade 7 bilhões de humanos, em expansão, destruindo o planeta. Entretanto, o documento brasileiro para o RIO + 20 é totalmente omisso quanto aos riscos da explosão populacional.