Transgênicos e agrotóxicos X caminhos para uma alimentação saudável, entrevista com a nutricionista Claudia Witt
Para a nutricionista Claudia Witt os produtos transgênicos contribuem negativamente para a alimentação das pessoas
Ao refletir sobre os perigos dos alimentos transgênicos e sobre os caminhos para uma alimentação mais saudável e sustentável, a nutricionista da Unisinos, Claudia Witt, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, afirma que “os alimentos orgânicos são uma excelente forma de alimentação saudável, pois são livres de agrotóxicos. Esses alimentos contribuem para a saúde das pessoas, prevenindo doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, por exemplo. Mas sabemos que esse caminho ainda está longe de acontecer, pois o plantio desses produtos ainda é muito discutido devido a questões financeiras e de sustentabilidade”.
Claudia Witt é mestranda em Saúde Coletiva na Unisinos e nutricionista do Projeto Alerta da mesma universidade. O Projeto Alerta da Unisinos tem o objetivo de trazer informações sobre diversas áreas da saúde como cuidados com o corpo, importância dos exercícios físicos, alimentação saudável, entre outros assuntos. O blog do projeto é www.unisinos.br/blogs/projeto-alerta/
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais os maiores impactos dos transgênicos para a alimentação?
Claudia Witt – Acredito que os produtos transgênicos possam contribuir negativamente para a alimentação das pessoas, pois esses alimentos têm sua estrutura modificada geneticamente em laboratórios, sendo que alguns nutrientes importantes para o organismo não estão presentes na quantidade adequada, além ter a possibilidade de causar algumas alergias e participar no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer. Muitas empresas produtoras de agrotóxicos também produzem essas sementes modificadas, as quais são resistentes a estas substâncias, aumentando seu lucro, vendendo pacotes de agrotóxicos + sementes. Os transgênicos têm como característica o fato de que não podem ser replantados, pois não conseguem mais germinar, fazendo com que o agricultor tenha que comprar novas sementes para um novo plantio, em vez de utilizar sementes orgânicas ou crioulas, como muitos agricultores as denominam.
IHU On-Line – Como seria um uso “adequado” de agrotóxicos?
Claudia Witt – Acredito que, se os agrotóxicos fossem utilizados nas quantidades adequadas, sem extrapolar seus limites, e que obviamente fossem utilizados apenas os que são permitidos pelos órgãos competentes, afinal hoje existem substâncias proibidas e que ainda são administradas nas lavouras, os problemas decorrentes do seu uso seriam reduzidos.
IHU On-Line – Quem é mais prejudicado pelos agrotóxicos: os próprios agricultores ou os consumidores?
Claudia Witt – Na verdade, os dois são prejudicados, pois todos estão expostos a estas substâncias. Os agricultores estão mais expostos, porque são eles que administram os produtos nas lavouras e porque, de certa forma, se obrigam a utilizá-los para poder conseguir financiamento e conseguir seu sustento através da agricultura. Mas a população em geral está ingerindo esses alimentos diariamente, os quais estão contaminados, causando riscos à saúde. Muitas vezes a população não é alertada sobre essas questões e desconhece os perigos dessas substâncias.
IHU On-Line – Quais são os alimentos mais contaminados pelo uso de agrotóxicos?
Claudia Witt – Segundo a Anvisa, vários alimentos contêm grande quantidade de agrotóxicos. Entre os que mais contêm estão: pimentão (80%), uva (56,4%), pepino (54,8%), morango (50,8%), couve (44,2%), abacaxi (44,1%), mamão (38,8%), alface (38,4%), tomate (32,6%) e beterraba (32%).
IHU On-Line – Que tipo de doenças pode acometer as gerações futuras em função do uso de agrotóxicos na alimentação?
Claudia Witt – Essas substâncias têm papel importante no desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, problemas reprodutivos, neurológicos e de desregulação hormonal.
IHU On-Line – Quais os caminhos para a produção de alimentos saudáveis?
Claudia Witt – Os alimentos orgânicos são uma excelente forma de alimentação saudável, pois são livres de agrotóxicos. Esses alimentos contribuem para a saúde das pessoas, prevenindo doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, por exemplo. Mas sabemos que esse caminho ainda está longe de acontecer, pois o plantio desses produtos ainda é muito discutido devido a questões financeiras e de sustentabilidade.
IHU On-Line – Como você vê a agroecologia?
Claudia Witt – A agroecologia é uma maneira de proporcionar alimentos produzidos em uma agricultura ecologicamente sustentável, justa e viável, ou seja, respeitando a natureza, a ecologia, onde esta produção seja socialmente justa com as diversidades culturais e economicamente viável para a vida dos agricultores no campo e para o consumo da população. Acho que esta proposta deve ser difundida no país, visto que nosso meio ambiente está sofrendo devido a várias mudanças climáticas, e tornar a produção de alimentos mais sustentável pode ser um meio de reverter muitos problemas ambientais. A agroecologia também tem como foco a segurança alimentar, ou seja, os alimentos devem trazer benefícios à saúde e satisfazer as necessidades diárias de nutrientes em quantidade e qualidade adequadas.
IHU On-Line – Podemos conceber a possibilidade de alimentar todo o povo brasileiro com alimentos orgânicos?
Claudia Witt – Acredito que possa ser possível. Para isso o caminho a ser percorrido ainda é muito longo, uma vez que a população brasileira é muito grande e a tendência é aumentar. Então teremos que ter políticas muito fortes para realizarmos mudanças.
IHU On-Line – Como podemos conceituar a soberania alimentar?
Claudia Witt – Soberania alimentar é quando um país tem condições para garantir a segurança alimentar de sua população, respeitando as características e diferenças culturais do seu povo, isto é, garantir o direito a todo o ser humano a uma alimentação e nutrição adequada tanto em quantidades como na qualidade.
(Ecodebate, 01/11/2011) Entrevista realizada por Graziela Wolfart e publicada pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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Se transgênicos e a agrotóxicos fazem mal para saúde
nossa, a quem interessa continuar usando?
Com muita clareza foram expostos os caminhos da a produção de alimentos saudáveis, principalmente quando se constata na entrevista que está longe de acontecer, e mais ainda por causa de questões financeiras e de sustanbilidade e portanto, os obstáculos estão para além da disponibilidade de espaço e/ou técnica/tecnologia.
Ressalto que, ao meu ver não há uso adequado de agrotóxico, ainda que sejam autorizados pelos órgãos “competentes”, já que o termo denota a quem compete, não que tenham de fato condições para tanto, vide a liberação dos feijões transgênicos.
Maria Lourdes,
Se permite minha opinião, acho que a questão da saúde é a última na escala de análise no que tange os agrotóxicos, isto quando perpassa pelos debates.
Antes dela vem questões políticas e econômicas e quem gestiona e a quem interessa a produção com agrotóxicos.
Muitas pesquisas, inclusive internacionais, mostraram que lavouras sem agrotóxicos produzem mais do que aqueles que se utilizam do produto.