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Alto consumo e ocupação das dunas podem levar à falta de água para consumo no litoral do Nordeste

 

‘Em dez anos faltará água no litoral do Nordeste’ – Ocupação desordenada das dunas causa poluição e salinização do Barreiras, diz especialista de instituto do Ceará

O sistema Barreiras, que vai do Espírito Santo à Região Norte, margeando o litoral, é outra reserva estratégica com problemas. A salinização e a contaminação por nitrato, oriundo de fossas e esgotos, são as mais graves. Reportagem em O Estado de S.Paulo.

Especialistas alertam que, se o consumo e a ocupação das dunas continuarem, em cerca de dez anos faltará água para consumo no litoral do Nordeste.

“As dunas que existem nas praias protegem a reserva em algumas localidades. O problema é que as elas são muito sensíveis e todo mundo quer ocupá-las: o turismo, a indústria de energia eólica etc. E tudo o que vaza pelas dunas cai direto no aquífero”, explica Luis Parente Maia, diretor do Instituto de Ciências do Mar, da Universidade Federal do Ceará.

Ele afirma que as partes mais sensíveis do sistema ocorrem onde ele é mais arenoso e há menos argila. O Barreiras é pouco espesso: em suas áreas mais largas tem cerca de 60 metros de espessura. Maia estuda uma região próxima a Fortaleza, onde ficam os balneários de Icaraí e do Pacheco.

“Tem pontos em que já há níveis de coliforme bastante elevados. Você tem poluição possível direta por efluentes líquidos e por resíduos sólidos, porque não se recolhe lixo. Ou se joga nos montes ou se enterra no fundo das casas”, explica ele.

O pesquisador diz que na localidade de Icaraí não existe abastecimento por rede. “Só se usa água de poço.”

Salinização. A ocupação desordenada e a explotação sem cuidados estão acentuando a salinização das reservas litorâneas do Barreiras.

“Só temos água boa onde há duna, pois aqui, nessa região, não temos bacia sedimentar. O fundo é granito e lá já há água salgada por natureza. Mas há um problema adicional: a superexploração da água. Todo mundo bombeia sem nenhum controle. O espaço antes ocupado pela água doce, que foi retirada, acaba invadido pelas águas salgadas do mar”, explica Maia.

Ele afirma que a situação deve piorar, pois as obras do complexo industrial e portuário do Pecém, que está sendo ampliado, já pressionam as cidades de Icaraí, Cumbuco e Pacheco. “O que antes era um problema isolado nas temporadas, pois estes eram locais de veraneio, pode se tornar uma dificuldade crônica.”

O dentista Aldemir Arruda teve uma casa de veraneio na Praia do Pacheco por 30 anos. “O meu poço tinha 34 metros de profundidade e a água era salobra. Então eu tive de desativar”, explica.

Arruda afirma que precisou cavar o poço durante um período de seca muito forte, na década de 1980. “Foram cinco anos seguidos de seca. Nós tínhamos cacimbas, que são poços mais superficiais, mas todos secaram. Então, tive de cavar este, mais fundo. Mas a água não servia para cozinhar nem para banho. Só para limpeza mesmo. Tínhamos de levar água de Fortaleza, em galões, para poder usar na praia”, conta.

Arruda afirma que sua casa ficava bem próxima a uma antiga salina desativada, entre Caucaia e Fortaleza. “Ali a salinidade é imensa. Aquilo foi desativado, mas as casas ao redor ainda sofrem as consequências”, diz Maia. “Um vizinho tinha uma casa mais próxima da praia, das dunas. Ele possuía um poço de água excelente”, lembra.

Norte. O Barreiras abastece várias cidades litorâneas no Nordeste e chega até o Amapá, na Região Norte. A região metropolitana de Belém (PA) usa 30% de águas subterrâneas para abastecimento público, parte do Barreiras e parte de um outro aquífero que ocorre no local: o Pirabas.

“É um excelente reservatório. Um poço produtivo no Pirabas tem vazão média de 600 m³/hora, o que é ótimo”, explica o geólogo Milton Matta, da Universidade Federal do Pará. Ele alerta, porém, para a ocorrência dos chamados “poços Amazonas”, vetores de contaminação local da água subterrânea.

“Em Belém há mais de 30 mil poços desses. São buracos cavados no chão, sem proteção. A água é puxada para cima em latas de manteiga enferrujada. Um caos.” / K.N.

EcoDebate, 27/10/2011

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