Espanha: Vazamento radioativo pode resultar em multa de até 22,5 milhões de euros
Endesa e Iberdrola ocultaram vazamento radioativo nas instalações Ascó I, perto de Tarragona
O vazamento radioativo na central nuclear de Ascó I, localizada no noroeste da catalunha, foi ocultada pelos responsáveis das instalações. Agora, o Conselho de Segurança Nuclear daquele país propõe multas pesadas.
O vazamento, ocorrido em 26 de Novembro de 2007, só foi descoberto em abril de 2008 e quase por mero acaso, quando um funcionário da central comentou o acidente com um inspetor de segurança que terminava a sua visita. Mas as investigações posteriores mostraram ter havido dispersão de partículas radioativas para o exterior da central, principalmente cobalto-60. Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com Agências.
Os dois principais responsáveis das instalações da unidade Ascó I, propriedade de uma filial da Endesa e da Iberdrola, já foram afastados. O jornal “El País”, edição de 19/8, indicava como confirmado o valor das multas propostas pelo órgão de fiscalização estatal de segurança nuclear. Elas podem oscilar entre 9 e 22,5 milhões de euros, cabendo ao Ministério da Indústria decidir a quantia definitiva. O ministro já avisou que se decidiria pela sanção mais pesada. Há dois anos, a central nuclear de Vandellòs II, propriedade das mesmas empresas, havia sido multada em 1,6 milhões de euros.
Os conselheiros de segurança nuclear consideraram que a central implantada em Tarragona cometeu seis tipo de erros. No topo da gravidade, eles colocam a minimização dos riscos por parte de quem geria a instalação. A gestão negligente chegou ao ponto de, no período imediato ao vazamento de radiação, até visitas escolares foram autorizadas.
Análises feitas posteriormente em centenas de pessoas, do entorno da central nuclear, não revelaram doses mais elevadas que as definidas como toleráveis pelo organismo humano, mas a atitude de ocultação de risco foi censurada pelo Conselho. A central, após o vazamento, não estabeleceu um programa de controle para verificação de pessoas afetadas, nem mesmo chegou a isolar o acesso ao local.
A regulamentação internacional de segurança nuclear exige que mesmo a menor não conformidade seja registrada e anotada. Mas a administração não registrou/documentou o acidente, violando o exigido pelas normas internacionais e ordenou aos funcionários que não anotassem a eventual detecção de radioatividade no ambiente. O Governo espanhol vai ouvir ainda as alegações da empresa.
O Conselho de Segurança Nuclear (CSN) propos ao Ministério da Indústria, Turismo e Comércio a abertura de um inquérito contra a central de Tarragona. O parecer do CSN incluiu quatro propostas de sanções graves e duas de sanções leves.
Segundo estipula a legislação espanhola, a sanção grave situa-se entre os 4, 5 e os 9 milhões de euros, as infrações médias entre os 1,5 e os 4,5 milhões e a multa mínima corresponde a 15 mil euros.
O CSN afirma que, apesar de nem a população nem o meio ambiente terem sido prejudicados e a estimativa de danos secundários, em termos de riscos, ser remota, ocorreram falhas significativas no controle de segurança da central.
A denúncia do acidente partiu do Greenpeace, mas só cinco meses depois é que a central nuclear reconheceu que tinha ocorrido um vazamento radioativo. Como consequência de uma comunicação deficiente, o diretor da central e o chefe da proteção radiológica foram demitidos.
Desde 2006 o governo espanhol avalia o descomissionamento progressivo das sete centrais nucleares em operação. A maioria da população espanhola rejeita a energia nuclear, o que levou o governo a concentrar os investimentos no desenvolvimento de energias renováveis, principalmente solar e eólica.
[EcoDebate, 21/08/2008]