Futuro da Amazônia é teste político para Dilma, diz o diário econômico britânico Financial Times
Projeto de novo Código Florestal prevê anistia para desmatamento até junho de 2008
As disputas em torno do novo Código Florestal brasileiro, já aprovado pela Câmara dos Deputados e ainda aguardando votação pelo Senado, representam um “teste político prematuro” para a presidente Dilma Rousseff, na avaliação de reportagem publicada nesta segunda-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.
Para o jornal, a promessa de Dilma de vetar uma anistia ao desmatamento prevista no projeto poderá colocá-la em rota de colisão com a bancada ruralista no Congresso e ameaçar o controle da coalizão governista.
A reportagem observa que as discussões sobre o novo Código Florestal opõem fazendeiros a favor da anistia, preocupados com o custo do cumprimento das normas ambientais, e ambientalistas preocupados com os danos provocados pela anistia, além de “um nascente setor da indústria de investimentos que procura monetizar a proteção da floresta”.
“Para a presidente Dilma Rousseff, que prometeu vetar a anistia, enfrentando o poderoso lobby agrícola do país, a questão significa um teste precoce. Sua habilidade para controlar uma coalizão rebelde ao tentar se igualar ao desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva, seu bem sucedido e popular antecessor, será acompanhada de perto tanto pelos eleitores quanto por investidores”, diz o texto.
Monitoramento
O jornal comenta que “um dos sucessos do Brasil nos últimos anos tem sido uma significativa redução no desmatamento da Amazônia, combinada com um aumento na produção agrícola alcançada por meio de avanços tecnológicos”.
A reportagem observa que 17% da floresta já foi desmatada desde os anos 1960, principalmente para abrir espaço para a criação de gado. “Mas após atingir um pico de cerca de 27 mil quilômetros quadrados em 2004, a taxa de desmatamento anual caiu para quase 6.500 quilômetros quadrados no ano passado”, diz o jornal.
“O monitoramento das florestas por satélite, apoiado por um fortalecimento da fiscalização, particularmente contra os grandes fazendeiros, foi usado para conseguir a redução”, afirma o texto.
O jornal observa que o projeto do novo Código Florestal, que teria o objetivo declarado de proteger os pequenos produtores de terra, mantém as metas para a proteção das florestas – de 80% da área da floresta amazônica e 20% em outras florestas -, mas estabelece uma anistia para aqueles que desmataram ilegalmente até 22 junho de 2008.
Hidroelétricas
Plano de hidroelétricas na Bacia Amazônica vem gerando protestos no país e no exterior
Para a reportagem do Financial Times, Dilma terá que avaliar se a batalha política sobre o novo Código Florestal vale a pena. “Ela já enfrenta problemas para controlar sua coalizão multipartidária indisciplinada, depois de perder quatro ministros desde sua posse, em janeiro, em meio a escândalos éticos e de corrupção”, afirma.
O jornal observa ainda que, além de tudo isso, a presidente “também tem seus próprios planos para a região”, incluindo a construção de um sistema de hidroelétricas para aumentar a capacidade de geração de energia e fomentar o crescimento econômico.
Para o diário, a presidente terá que equilibrar essas preocupações com as preocupações ambientais tanto no Brasil quanto nos mercados de exportação nos países desenvolvidos.
“Ainda assim, independentemente de como será alcançado, o melhor manejo da terra na Amazônia brasileira é uma prioridade urgente não apenas para o ambiente, mas também para os 24 milhões de habitantes da região, uma mistura de índios, fazendeiros, pequenos produtores e peões pobres que vêm vivendo em constante conflito por décadas”, diz o texto.
Reportagem da BBC Brasil, publicada pelo EcoDebate, 31/08/2011
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