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Poluição do Delta do Níger expõe o lado sujo da indústria do petróleo

Vazamentos de petróleo poluem toda a região do Delta do Níger
Vazamentos de petróleo poluem toda a região do Delta do Níger

Cerca de dez milhões de barris de petróleo teriam escorrido nos últimos 50 anos para o Delta do Níger, envenenando a água e poluindo a terra. Recuperação ambiental pode levar 30 anos, diz relatório da ONU.

Quando faz sol, elas brilham numa mistura de cores, unindo lilás, amarelo e tons cinzas: são manchas de óleo, que flutuam lentamente nos riachos que correm para o Níger. Em muitas margens há grandes nódulos gordurosos pretos. Em Ogoniland, no sudeste da Nigéria, o lado feio da riqueza do petróleo mostra a sua cara. A área habitacional é mais ou menos do tamanho de Berlim e cheia de plataformas de petróleo e oleodutos enferrujados.

Cerca de dez milhões de barris de petróleo teriam escorrido nos últimos 50 anos para o Delta do Níger. Isso equivale a, todos os anos, aproximadamente a quantidade de petróleo que vazou no naufrágio do superpetroleiro Exxon Valdez no Alasca, em 1989.

Pela primeira vez, um relatório, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), comprova a dimensão dos danos ambientais provocados pelo ouro negro na região. A mensagem principal do documento: a luta contra a contaminação por petróleo poderá levar décadas e se transformar na maior ação de limpeza do mundo.

Vista aérea mostra mancha de petróleo, que atinge até a água que moradores bebem
Vista aérea mostra mancha de petróleo, que atinge até a água que moradores bebem

Danos podem perdurar por 30 anos

“O relatório confirma que a saúde e as condições de vida das pessoas estão em risco em Ogoniland. Embora a indústria do petróleo não esteja mais ativa no local, ainda há demasiados vazamentos de petróleo”, disse Ibrahim Thiaw, do Pnuma, ao apresentar o estudo na Nigéria, no começo de agosto.

Os especialistas inspecionaram 122 quilômetros de oleodutos e analisaram mais de 4 mil amostras de água, solo e de ar para realizar o estudo, financiado pela multinacional do petróleo Shell, que está há anos na lista negra dos ativistas do meio ambiente, e pelo governo nigeriano.

O Pnuma, no entanto, não poupa críticas. Todos os trabalhos de limpeza realizados até agora foram insuficientes, pois em muitos casos apenas danos superficiais ao meio ambiente foram eliminados. O meio ambiente não se recuperou, resumiu Thiaw. A estimativa dos especialistas é de que pode levar mais 25 a 30 anos para que o meio ambiente no Delta do Níger se recupere pelo menos parcialmente.

O estudo confirma o que os ambientalistas e ativistas dos direitos civis vêm criticando há anos. Mas alguns dos resultados chocaram até mesmo especialistas na questão. “Este relatório provou cientificamente que os moradores do Delta do Níger e de Ogoniland bebem água poluída. Não apenas a água dos rios e córregos, mas também o lençol freático está contaminado”, ressaltou Audrey Gaughran, da organização de direitos humanos Anistia Internacional.

Em pelo menos dez comunidades a água potável está envenenada com hidrocarbonetos. Num vilarejo, os cientistas constataram a presença do veneno cancerígeno benzeno em água de poço em concentrações que excedem em 900 vezes o limite permitido internacionalmente. As frondosas árvores dos mangues das margens não têm mais folhas, e há muito tempo que não há mais peixes nos rios.

Shell e governo nigeriano não respeitaram padrões

O relatório critica a Shell e o governo nigeriano, que durante anos simplesmente não fizeram nada diante do vazamento de petróleo. Embora a Shell tenha suspendido a produção em 1993, após protestos em massa da população de Ogoni, a empresa tem destacada participação na Shell Petroleum Development Company (SPDC), companhia que controla e faz a manutenção dos oleodutos, um trabalho realizado de forma negligente, conforme as críticas dos ambientalistas.

“O relatório mostra que a Shell e o governo nigeriano não respeitaram seus próprios padrões mínimos. Eles não respeitaram nem os padrões mínimos do governo nigeriano nem os padrões internacionais”, acusa o ambientalista nigeriano Nnimmo Bassey, que há anos luta contra a indústria do petróleo com a sua organização Friends of the Earth e que foi premiado em 2010 com o Prêmio Nobel Alternativo. Segundo ele, autoridades nigerianas fracassaram completamente no controle das companhias petrolíferas.

Habitação em manguezal poluído pelos vazamentos de petróleo
Habitação em manguezal poluído pelos vazamentos de petróleo

Petrolífera fala em roubos e sabotagem

Os culpados agora podem ter que pagar caro. O Pnuma pede um fundo especial para a recuperação do meio ambiente em Ogoniland. O capital inicial de 1 bilhão de dólares deve ser disponibilizado pela indústria petrolífera e pelo governo nigeriano. A Shell até agora somente quis comentar por escrito o relatório do Pnuma. “Embora não tenhamos mais extraído petróleo desde 1993 em Ogoniland, limpamos todos os vazamentos independentemente da causa e restituímos o solo às suas condições originais”, afirmou, em comunicado, o diretor da SPDC, Mutiu Sunmonuin.

Além disso, a empresa ressalta que a maioria dos casos de vazamento de petróleo no Delta foi causada por roubo e ataques de sabotagem praticados por moradores. Não é segredo algum que gangues criminosas costumam desviar oleodutos ou operar refinarias ilegais no Delta do Níger. No entanto, ninguém sabe o quanto isso contribuiu para agravar a poluição.

A data de início dos trabalhos de limpeza também depende do governo nigeriano. O presidente do país, Goodluck Jonathan, que é proveniente do Delta do Níger, só fez uma promessa vaga. Ele quer se reunir com a Shell e com outras companhias petrolíferas e prometeu que o relatório não irá sumir numa gaveta qualquer, o que é exatamente o maior medo dos ambientalistas. Eles querem aumentar a pressão para que o governo finalmente entre em ação e – como medida inicial – pelo menos tampe os vazamentos existentes.

Autora: Julia Hahn (md)
Revisão: Alexandre Schossler

Reportagem da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 12/08/2011

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