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Notícia

O Direito de Escolha

As pessoas e as sociedades são livres para escolher o próprio destino. O governo das sociedades existe para oferecer informações e oportunidades para que possam fazer escolhas conscientes. Cumpre ao governo das sociedades oferecer informações e oportunidades que aumentem o bem estar.

Um exemplo simples de informação e oportunidade que aumenta o bem estar é a coleta urbana do lixo doméstico, pois a sociedade, ou as pessoas, não teriam condições de cuidar do lixo produzido numa cidade. Assim, o governo informa sobre os cuidados que devem ser tomados com o lixo e oferece serviço de coleta, para evitar que o acúmulo de lixo cause mal estar e doenças.

Outro exemplo de informação e oportunidade que aumenta o bem estar é o sistema de saúde. O governo cuida de informar sobre cuidados ambientais e alimentares, individuais e coletivos, que podem manter a boa saúde, e oferece serviços médicos para atender quem não se cuida.

Porém, as pessoas podem escolher amontoar o lixo dentro de suas casas ou adoecer por falta de cuidados ambientais ou alimentares, mas se essa escolha prejudicar outras pessoas o governo intervirá através do chamado “poder de polícia”.

O poder de polícia consiste em oferecer as melhores informações e oportunidades e corrigir aquilo que esteja causando prejuízo para outras pessoas.

Em Paracatu as pessoas são livres para conviver com os riscos da mineração a céu aberto em rocha que contém um veneno chamado arsênico.

Ao governo e às pessoas detentoras de conhecimento cumpre passar as informações para que as pessoas possam saber das consequências do que estão escolhendo.

O que os olhos não vêem o coração não sente é o ditado popular.

Os olhos não vêem o arsênico – mas poderão ver nos vídeos de http://www.alertaparacatu.blogspot.com – mas o coração, os pulmões, os rins, a pele etc. poderão sentir o arsênico na forma de alguma doença que poderá se manifestar somente depois de dez ou vinte anos de lenta ingestão de água ou alimentos, ou respiração do ar, todos contendo arsênico.

Os adultos podem decidir sobre suas vidas e sobre suas mortes, e podem ter razão quando dizem que precisam viver hoje e cuidar de suas famílias, mas nós temos o dever de esclarecer que não é correto escolher que seus filhos devam viver e morrer a vida e a morte que seus pais escolheram.

Em outros países com mineração em rocha de arsênico a céu aberto as pessoas estão pensando assim: A MINERAÇÃO DE METAIS NOS MATARÁ DE SEDE OU DE FOME, AINDA QUE AGORA NOS OFEREÇA EMPREGOS, DINHEIRO E DESENVOLVIMENTO.

As pessoas podem escolher o trágico destino, mas o governo não pode escolher para elas esse negro e mortal futuro, embora as pessoas possam escolher governantes que concordem em trocar empregos, dinheiro e desenvolvimento pela saúde e vida do povo.

Mas podem escolher governantes que estejam empenhados em garantir que as gerações futuras possam gozar a boa saúde e vida.

Na situação de envenenamento crônico por arsênico confirmada os que tiverem enriquecido com o emprego, dinheiro e desenvolvimento mudarão para lugares mais saudáveis, e ficarão apenas os empobrecidos, para acabarem de se arruinar no ambiente poluído e perigoso. Ficarão os empobrecidos e seus filhos e netos, ou se tornarão refugiados ambientais, carregando consigo a pobreza para outros lugares onde estarão mais excluídos do que já estão.

Não queremos forçar ninguém a mudar de opinião a respeito da mineração a céu aberto em rocha que contém arsênico, queremos apenas passar informações para que possam escolher o futuro de suas vidas. Porém, estaremos cobrando das autoridades municipais, estaduais e federais a atenção necessária para levantar o problema e resolvê-lo.

Lamentamos que algumas – ou muitas – pessoas estejam mais preocupadas em defender seus próprios interesses do que defender a saúde do povo de Paracatu. Lamentamos que essas pessoas – que ganham seu sustento às custas do povo de Paracatu – não se interessem pela própria saúde e vida, ou que se achem a salvo dos danos porque moram em zonas nobres e poderão cair fora a qualquer tempo.

Lamentamos, mas respeitamos o direito de escolha, o direito de escolher que uma transnacional – como outras transnacionais desde a fundação de Paracatu – crie a versão moderna do chicote no lombo dos escravos, agora na forma de benefícios sociais ilusórios e temporários, enquanto carreia o ouro para seus cofres no exterior e vai deixando no lombo da cidade e dos cidadãos as cicatrizes do vergalho.

Mas, se escolherem por informações e oportunidades que criem e aumentem o bem estar para se viver em Paracatu, contem conosco.

Fundação Acangaú – Instituto Serrano Neves