Poluentes orgânicos persistentes (POPs) causam problemas neurológicos em fetos
Pesticidas e incineração de resíduos são fontes de substâncias tóxicas; risco de má-formação se torna 4 vezes maior
Níveis elevados de poluentes orgânicos persistentes (POPs) na placenta estão associados ao nascimento de crianças com problemas neurológicos graves, especialmente defeitos no tubo neural. É o que mostra um estudo [Association of selected persistent organic pollutants in the placenta with the risk of neural tube defects ] divulgado ontem pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Reportagem de Alexandre Gonçalves, em O Estado de S.Paulo, com informações complementares do EcoDebate.
Os POPs incluem certos pesticidas, além de gases eliminados por incineradores industriais e de resíduos. Já existiam evidências anteriores que mostravam a associação dos POPs com defeitos no desenvolvimento fetal de animais. Mas faltava comprovar que seres humanos também são susceptíveis a danos neurológicos graves.
Para afastar qualquer dúvida, pesquisadores chineses analisaram os níveis de POPs nas placentas de 80 fetos e bebês que nasceram com problemas no tubo neural. Compararam com amostras das placentas de 50 crianças saudáveis.
Demonstraram, por exemplo, que a presença na placenta de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos – um tipo de POP – aumenta em até 4,5 vezes o risco de danos no tubo neural.
Os cientistas chineses ficaram espantados com a presença do inseticida DDT na placenta de algumas mulheres grávidas. O produto, altamente tóxico, foi banido da China em 1983. Para os autores do estudo, a presença da substância demonstra como é difícil eliminar do ambiente os POPs, após sua liberação.
Acordo internacional. A diretora da organização não governamental Toxisphera, Zuleica Nycz, recorda que o Brasil, com outros 151 países, é signatário da Convenção de Estocolmo, tratado internacional elaborado para eliminar a produção e o uso de 12 POPs. Em 2010, outras 9 substâncias foram adicionadas à lista da convenção, mas o País ainda está longe de transformar a letra em realidade.
“Normalmente, o governo proíbe alguns produtos, como o agrotóxico endosulfan, mas não realiza uma vigilância ativa, muito mais difícil, para verificar a emissão de POPs em incineradores de lixo, por exemplo”, afirma Zuleica.
A diretora da ONG recorda que há um projeto, ainda em andamento, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) para analisar a presença dos POPs no leite materno.
PARA ENTENDER
Países querem banir pops
Os poluentes orgânicos persistentes (POPs) reúnem sempre três características principais. Em primeiro lugar, após décadas de interrupção da sua produção, eles permanecem no ambiente. Além disso, são bioacumulativos – concentram-se rápido e são excretados devagar. Por fim, podem ser levados por ventos ou correntes marítimas para regiões muito distantes de onde foram produzidos. Tais características fazem com que vários países adotem políticas cada vez mais agressivas para bani-los.
Association of selected persistent organic pollutants in the placenta with the risk of neural tube defects
PNAS 2011 ; published ahead of print July 18, 2011, doi:10.1073/pnas.1105209108
Abstract
Persistent organic pollutants (POPs) have been associated with a wide range of adverse health effects. Our case–control study was performed to explore the association between placental levels of selected POPs and risks for neural tube defects (NTDs) in a Chinese population with a high prevalence of NTDs. Cases included 80 fetuses or newborns with NTDs, whereas the controls were 50 healthy, nonmalformed newborn infants. Placental concentrations of polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs), organochlorine pesticides, polychlorinated biphenyls, and polybrominated diphenyl ethers were analyzed by gas chromatography–mass spectrometry. The medians of PAHs, o,p′-isomers of dichlorodiphenyltrichloroethane (DDT) and metabolites, α- and γ-hexachlorocyclohexane (HCH), and α-endosulfan were significantly higher in case placentas than in controls. PAH concentrations above the median were associated with a 4.52-fold [95% confidence interval (CI), 2.10–9.74) increased risk for any NTDs, and 5.84- (95% CI, 2.28–14.96) and 3.71-fold (95% CI, 1.57–8.79) increased risks for anencephaly and spina bifida, respectively. A dose–response relationship was observed between PAH levels and the risk of NTDs, with odds ratios for the second, third, and fourth quartiles, compared with the first, of 1.77- (95% CI, 0.66–4.76), 3.83- (95% CI, 1.37–10.75), and 11.67-fold (95% CI, 3.28–41.49), respectively. A dose–response relationship was observed for anencephaly and spina bifida subtypes. Similar results were observed for o,p′-DDT and metabolites, α-HCH, γ-HCH, and α-endosulfan, whereas no dose–response relationship was observed for the last two pollutants. Elevated placental concentrations of PAHs, o,p′-DDT and metabolites, and α-HCH were associated with increased risks of NTDs in this population.
EcoDebate, 20/07/2011
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