A cruel honestidade do Presidente do IBAMA, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] Finalmente alguém no poder é honesto em suas declarações. Quando Curt Trennepohl, presidente do IBAMA, disse a jornalista australiana que seu trabalho “não é cuidar do meio ambiente, mas minimizar os impactos” e que o Brasil vai fazer “com os índios o que os australianos fizeram com os aborígenes” (F.S.P 15/07/11), foi de uma honestidade rara e cruel. A declaração é um horror, uma proclamação de genocídio.
Porém, é o que está diante de nossos olhos todos os dias. A tarefa do IBAMA é tentar pôr remendo novo em pano velho, isto é, amenizar os estragos feitos pelas grandes obras, seja de iniciativa particular ou oficial. A prevenção e a precaução não fazem parte do roteiro governamental.
A CPT, juntamente com o CIMI, sabe que anda muito só ultimamente nas suas lutas pelo campo. As populações mais vitimadas pelo modelo atual, e pelo governo atual, são exatamente os indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Os Movimentos da Via Campesina se defendem melhor, até por sua proximidade com o governo. Porém, na hora da luta concreta, as comunidades tradicionais estão enfrentando uma solidão cósmica.
Porém, a honestidade do Ministro não anula a dimensão cruel, anti-humana, que permeia a política desenvolvimentista atual. Antes, a prerrogativa do sacrifício humano pertencia às religiões. Os que têm descendência bíblica acabaram com essa crueldade quando o Deus bíblico não permitiu que Abraão sacrificasse Isaac. Ele não precisava do sacrifício humano, embora judeus e cristãos depois tenham sacrificado multidões ao longo dos séculos. Mas, Astecas, Incas e outras tradições religiosas sacrificaram pessoas enquanto seus impérios duraram.
Hoje a prerrogativa do sacrifício humano pertence ao capital. Ele decide quem deve morrer. E quem morre são indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e o meio ambiente.
Se quisermos manter um pingo de dignidade humana, devemos nos afastar não só da direita, mas também das esquerdas que aceitam o sacrifício humano em nome do desenvolvimento, da revolução, ou de qualquer outra causa onde a vida humana seja o combustível.
Na luta contra as mudanças no Código Florestal, Belo Monte, Transposição, enfim, contra o modelo predador imposto, podemos identificar perfeitamente quem é quem no Brasil de hoje.
Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano).
EcoDebate, 18/07/2011
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Roberto,
Parabens pelo artigo indignado. Eu tambem fique.
Só discordo dessa visão (a serviço do governo) segundo a qual desenvolvimento exige sacrificios sociais e ambientais.
Acho que o capital pode estar a reboque de consciencias éticas, sim. E que o respeito ao meio ambiente pode ser a chave para o desenvolvimnto economico.
Luiz Motta
Acho seu nome perfeito para a reportagem: GOGÓ. O vídeo está no You Tube e já da para perceber que o Curt não disse nada de matar indios como os australianos. Foi a edição da reportagem do “60 minutes” que deu a entender isso, fazendo do caso mais um factóide conveniente a quem não concorda com Belo Monte.
Eu também não concordo com Belo Monte, mas esse debatezinho ridículo ecoidiota é característico de pessoas que inventam e acreditam na própria mentira. Você já pensou a quem você está enganando? Por que você não busca o seu interior ético (muito escondido) e reformula sua conduta profissional?
Essa historinha de plantar a discórdia é o grande motivo pelo qual o brasileiro perde a credibilidade, até para ele mesmo! Você me parece um colunista, no mínimo, irresponsável e incompetente, ajudando a fazer a ecomerda de opinião dos ecoidiotas que em nada contribuem para a proteção do ambiente.
Para matar a sua curiosidade, sou ambientalista, não sou melhor do que ninguém, mas pelo menos prezo a ética das pessoas. Não sei se o Presidente do IBAMA pensa realmente isso, mas se pensa ele não seria tão ingênuo quanto você está sendo com esse artigo.
O modelo de desenvolvimento, este sim está errado, mas dizer isso é chover no molhado, não é novidade. Por isso, faça alguma coisa VERDADEIRA para contribuir para a proteção ambiental, ou seja, um bom artigo da próxima vez!
Comentando o comentário:
1. Tenho por princípio não responder a provocações pessoais.
2. Vi o vídeo, sim. As declarações são fatos. Se algum leitor tem alguma dúvida, é só procurar o vídeo na internet.
3. Portanto, reafirmo o texto que escrevi.