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Desastre nuclear de Fukushima: Pesquisadores sugerem criação de zona de exclusão para lastro radioativo em mar do Japão

O professor Rui Carlos Botter e o doutorando Newton Nasciso Pereira, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli) da USP, publicaram, juntamente com o engenheiro naval Geert Jan Pierre, o artigo “Zona de exclusão para lastro radioativo”. A publicação tem como objetivo chamar a atenção para o risco de contaminação de navios, por conta do problema radiotivo enfrentado desde 11 de março, quando a usina de Fukushima, no Japão, foi atingida por um terremoto seguido de um tsunami.

Segundo o artigo, a comunidade marítima internacional deveria criar uma zona de exclusão para a coleta de água de lastro de navios no Mar do Japão (principalmente próximo à usina nuclear de Fukushima), até que seja controlado o despejo de água radioativa no mar.

Como consequência do desastre, houve fissão de material atômico nos núcleos dos reatores danificados, o que deu origem ao surgimento de iodo radioativo. Esse elemento, por sua vez, foi despejado no oceano nas manobras de resfriamento dos sistemas da usina, em dosagens milhares de vezes superiores ao limite aceitável para seres vivos, principalmente os humanos. “Esse material radioativo, em função das correntes marítimas, tende a se espalhar por toda a região do Oceano Pacífico, afetando a vida marinha, até sua diminuição gradativa pelo decurso de suas meias-vidas, de previsão incerta”, escrevem no artigo. “Estima-se, por exemplo, que o plutônio 239 tem uma meia-vida de pelo menos 24.000 anos e o césio de cerca de 30 anos no ambiente.”

Os autores do artigo lembram que o Japão, por sua localização, encontra-se numa das mais intensas rotas do transporte marítimo do mundo. O país possui cerca de 130 grandes portos e centenas de pequenos. Milhares de navios circulam nessa região da Ásia, atravessando o Mar do Japão para alcançar os portos localizados na Coreia do Norte e Sul, Rússia e China. Muitos deles precisam coletar água de lastro após a operação de descarga.

É aí que está o perigo. Por causa da grande quantidade de água radioativa lançada ao mar depois do acidente com a usina, há o risco de os navios captarem ela como lastro e transferirem essa contaminação para outra região do globo. Além disso, existe o problema do casco do navio, que em contato com a água radioativa poder se tornar um vetor de contaminação.

Pereira explica que atualmente, a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) sugere critérios e procedimentos para os navios por meio de uma proposição da Convenção Internacional sobre Controle e Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navio. “Foi estabelecido que os navios em viagem internacionais devem trocar no meio do oceano a água de lastro coletada nos portos de origem”, informa Pereira. “Ou seja, despeja-se a água mais doce coletada na região portuária e capta-se a água do oceano, mais salina, que depois é despejada no porto de destino.”

O objetivo dessa norma é evitar a transferência de espécies exóticas de uma região para outra do globo. “Acontece, que nem todos os navios cumprem esse procedimento e caso ele tenha coletado água de lastro na região do Mar do Japão pode transferi-la com elementos radioativos para outras localidades, como, por exemplo, o porto de Santos”, alerta Pereira. “Em 2005, foi criada pela Marinha do Brasil normas especificas para gerenciamento da água de lastro, mas se não houver uma fiscalização efetiva, o ambiente aquático brasileiro corre sérios riscos diante desse grave acidente, que já está sendo considerado tão grave quanto Chernobyl.”

Por isso, a intenção dos três autores do artigo é chamar a atenção para o problema, principalmente porque até agora não se viu nenhum movimento das autoridades internacionais a respeito do assunto. “No Brasil, saíram alguns artigos em jornais e na internet, que comentaram sucintamente o assunto, além de alguns deputados cogitarem o risco que os portos brasileiros estão sujeitos, mas mais associando apenas a questão da pesca e produtos japoneses”, diz Pereira. “O problema é que já foi confirmado que alguns navios que fizeram viagens internacionais foram contaminados com radiação tanto na parte externa do casco, como na parte interna da praça de máquinas”.

“A intenção do nosso artigo é chamar a comunidade acadêmica, portuária, ambientalistas e sociedade para uma discussão sobre o risco das regiões portuárias brasileiras.”

Reportagem da USP Online, com informações da Assessoria de Comunicação da Poli

EcoDebate, 12/07/2011

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