Energia: Fontes renováveis e não-renováveis, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Muitos autores, como Braga et al, 2004, resumem a crise ambiental como resumida em “três aspectos básicos: crescimento populacional, demanda de energia e de matérias primas e geração de resíduos, ou seja, poluição” (Braga et al, 2004).
A principal fonte de energia da terra são as radiações eletromagnéticas provenientes do sol. A maior parte da energia térmica utilizada pelos ecossistemas provém desta fonte.
Os recursos energéticos primários são classificados em renováveis e não-renováveis.
As fontes renováveis provêm direta ou indiretamente das fontes solares, que cada vez mais são implementadas como produtoras diretas de energia. Podem ser citadas:
- Energia dos Mares: energia obtida pela variação do nível do mar nos oceanos (energia potencial) para obtenção de energia mecânica;
- Energia Geotérmica: é a energia gerada a partir de fontes magmáticas, vulcânicas ou plutônicas, produzida partir do decaimento dos elementos radioativos;
- Energia Solar: é a energia radiante do sol que pode ser aproveitada diretamente para o aquecimento de água ou para a geração de energia elétrica por meio de células fotoelétricas;
- Biogás: é a energia obtida com o gás natural resultante da decomposição anaeróbica de compostos orgânicos, através da queima e utilização do calor da combustão;
- Biocombustível líquido: é o material obtido pela fermentação e decomposição em condições anaeróbicas de vários tipos de biomassa como, por exemplo, cana de açúcar e lixo orgânico, através do aproveitamento pela queima;
- Gás Hidrogênio: fonte energética gasosa produzida por procedimentos eletroquímicos, a partir da eletrólise da água, com aproveitamento através da queima do gás.
As fontes de combustível não-renováveis podem ser resumidas da seguinte maneira:
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- Combustíveis fósseis: são depósitos naturais de carvão, gás natural e petróleo, que na verdade se tratam de combustíveis que representam energia solar armazenada na forma de energia química, em depósitos geológicos antigos, resultantes da decomposição de vegetais e animais, submetidos aos processos já descritos de diagênese e metamorfismo;
- Derivados de combustíveis fósseis: são produtos obtidos a partir do fracionamento dos combustíveis fósseis, particularmente o petróleo, como gasolina, óleo diesel, nafta, querosene e outros;
- Derivados sintéticos: óleo cru sintético e gás natural sintético, produzidos por gaseificação “in situ” ou não, de carvão mineral;
- Óleos pesados não-convencionais: são depósitos geológicos de óleos de consistência asfáltica, que podem ser explorados por métodos de recuperação forçada a partir de folhelhos betuminosos e depósitos arenosos com reservas de alcatrão, que podem servir para a produção de óleo;
- Gás natural não-convencional: é o gás que se encontra presente em depósitos subterrâneos profundos, tendo como rochas hospedeiras litotipos sedimentares psamíticos, ou se encontram dissolvidos em depósitos profundos de águas salgadas, a altas temperaturas e pressões (denominadas zonas geopressurizadas);
- Combustíveis nucleares: são elementos radioativos que podem sofrer fissão nuclear, com liberação da energia presente no núcleo dos materiais físseis, utilizada para a geração de vapor em alta pressão, que aciona turbinas acopladas a geradores elétricos;
- Fusão nuclear: processo no qual os átomos de elementos leves se unem produzindo um elemento mais pesado num processo que necessita energia para ser produzido, mas posteriormente libera quantidade muito maior podendo ser utilizada para a geração de energia elétrica;
- Depósitos geotérmicos confinados: são fontes caloríficas de baixa temperatura em zonas subterrâneas de vapor seco, água quente ou misturas de ambos, sendo o calor liberado por substâncias radioativas encontradas no manto ou em fontes magmáticas;
- Fontes de origem vegetal diversas como óleos de mamona, álcool produzido de cana de açúcar e outras.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 30/06/2011
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Energia hidrelétrica UHE e PCH não é uma fonte de energia renovável?
Represas hidrelétricas tem uma vida útil limitada, devido ao eventual assoreamento – sedimentação da represa por processos erosivos naturais e antrópicos á montante (rio acima), que levam ao eventual assoreamento da uma represa por sedimentação. Estes processos erosivos naturais são agravados pela mecanização agrícola, urbanização, etc. á montante. Muitas vezes órgãos ambientais buscam limitar atividades impactantes rio acima, mas com pouco êxito na prática. Apenas micro sistemas hidrelétricas (‘MSHs’) poderiam ser renováveis – sustentáveis (caso a caso)..
Dependendo das condições da bacia hídrica, uma represa hidrelétrica (PCH ou UHE) pode ter vida útil mais curta, entre 70 ou 100 anos ou podem durar séculos, até a represa ficar sedimentada, assoreada por detritos erosivos naturais e por atividades antrópicas à montante. O desmatamento e atividades agrícolas à montante, acima da represa, contribuem para a limitação da vida útil da PCH – UHE.
Com o tempo a reserva de agua do reservatório diminui, na medida que decantam e acumulam os sedimentos carregados pelos rios até preencherem boa parte da represa. Numa represa assoreada ao longo do tempo, acaba restando apenas uma fina lâmina de água superficial, não tendo mais reserva hídrica para a geração de energia contínua.
Devido ao imenso volume de detritos acumulados em uma represa assoreada, seria pela logística quase impraticável o ‘desassoreamento’ de uma represa PCH – UHE.
Não se inclui um programa ou Plano de Recuperação Ambiental (PRA), detalhando a logística de encerramento de um projeto hidrelétrico após o fim da sua vida útil. Seria muito custoso e quase impossível remover milhões ou bilhões de toneladas de sedimento; e onde seriam depositados?
Os impactos ambientais e sócio econômicos mais definitivos aparecem no final da vida útil do empreendimento, muitas gerações após a implantação, quando assoreados, não geram mais a renda da energia gerada; o rio que antes fluía com vida, correnteza e com sazonalidade, represada fica modificado, sem peixes, sem navegabilidade, criando situação de desemprego, colapso econômico, etc.
Nos temos, como Humanos, a obrigação de planejar as nossas intervenções no mundo natural contemplando as dezenas, centenas de gerações futuras dos nossos descendentes. Temos a responsabilidade de que as gerações seguintes tenham a suas condições de sustentabilidade garantidas, mantidas.
É preciso que sejam analisadas estas questões no sentido de um esclarecimento ao público em geral, que represas hidrelétricas (UHEs e PCHs) não são fontes de energia ‘renovável’ ou ‘sustentável’ ao longo das futuras gerações.
PCHs e UHEs causarem danos ambientais permanentes, principalmente aos sistemas biológicos que sustentam a diversidade biológica da bacia hídrica e especialmente na relação biológica (intercâmbio genético) entre as populações de espécies das diversas bacias hídricas na região maior.
A extinção local ou regional de espécies é acumulativo e silencioso. Os efeitos das intervenções são posteriores, discretos e paulatinos. Os impactos biológicos de diminuição de populações de espécies e da variabilidade genética entre grupos remanescentes de espécies levam à extinção local de populações de espécies, afetando em cadeia, populações de espécies simbióticos, interdependentes.
Deve haver uma análise mais aprofundada sobre este tema para corrigir as informações sobre hidrelétricas como sendo ‘fontes de energia renovável ou sustentável’.
Nossas atuais ações devem contemplar o direito ambiental, constitucional das futuras gerações (20, 50, 100+ gerações futuras); deixar para as futuras gerações se resolverem é atitude ‘des-humana’.