A Teoria do Caos e o Meio Ambiente, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] A gente imagina que caos é anarquia, falta de organização, algo assim. Mas a teoria do caos, conforme proposta de JAMES GLEICK (Caos, criação de uma nova ciência, Rio de Janeiro, Campus, 1989), tem outra conceituação. Os sistemas naturais apresentam mudanças significativas na maneira como funcionam mesmo quando permanecem dentro do mesmo padrão global, de forma que certas fronteiras críticas que definem este padrão não podem ser transpostas sem que este equilíbrio seja ameaçado.
Traduzindo para exemplos simples e de fácil compreensão poderíamos dizer que é a gota de água que transborda o copo, ou de como a movimentação das asas de uma borboleta em Pequim, altera a condição dos ventos em Cuiabá. Coisas que aparentemente não tem nenhum sentido, mas estão relacionadas por equilíbrios frágeis e complexos.
Tem fatos naturais que não guardam as mesmas leis de organização que estamos acostumados a saber, não tem geometria, não são passíveis de descrições por algoritmos matemáticos lineares ou logarítmicos, mas nem por isso deixam de existir. São as chamadas ordens naturais não-lineares ou fractais ou nem compreendidas.
Na análise dos impactos ambientais existem vinculações com o espaço, o tempo e a ciclicidade. Isto implica interação com o equilíbrio endógeno (interno) e exógeno (externo). É como quando alguém adoece. Uma dor de estomago atrapalha muito qualquer outra atividade e interfere no conjunto da saúde.
Nesta paisagem ocorre de forma indiscutível, a intervenção da questão política como cenário de fundo para muito, ou quase tudo que ocorre no planeta.
Existem relações ainda não completamente descritas entre várias ocorrências da civilização, com fatores de clima, condições naturais ou interferências antrópicas, que desequilibram o meio natural. Podem se citar exemplos bem prosaicos e ao nosso alcance, como as monoculturas e as ações históricas dela decorrentes. Que tornam os ecossistemas muito vulneráveis ou frágeis.
De fato, muitas das conexões demonstradas tiveram conseqüências registradas e demonstradas sobre eventos históricos, mas não é possível afirmar que a abordagem reducionista aplicada, limitando os fatores para explicar os fatos, possam resistir a análises mais completas.
Complexidade é isto, são inúmeros fatores, geralmente muito além do que a gente possa citar ou analisar e que estão envolvidos com a ocorrência. Todo mundo associa a gordura com os níveis de colesterol, e está certo. Mas não é o único fator, tem sedentarismo, e vários outros itens que a medicina cita.
Conseguir vincular todos os itens relevantes e as relações entre eles numa análise de impacto ambiental é um grande desafio, bastante difícil de atingir mesmo que se tenha extrema boa vontade.
Na visão de mundo apresentada por várias religiões orientais antigas, é destacada a experiência de viver a unidade em um corpo integrado física e mentalmente, vale dizer emocionalmente. O mesmo pode ser dito para a maioria das intervenções antrópicas sobre o meio natural. Deve resguardar sua unidade tanto fisiológica quanto funcional.
Para estas escolas do pensamento humano, enquanto a sociedade humana viver dicotomias que precipitam comportamentos desintegrados, a vida será entendida como um processo de aquisições sem compromisso. E sabemos que não é assim, talvez nossa maior festividade seja o compromisso celebrado quando um homem e uma mulher casam. Talvez tenha que ser assim com o mundo um dia.
Apenas a sensação de integração entre a vida e os sentimentos que são criados ou propagados pelas vivências é que poderão transformar o prazer de ter no prazer de ser, conforme já amplamente demonstrado por CRISTOPHER LASCH em 1986, no seu livro “The minimal self” (O mínimo eu).
O aprofundamento desta discussão talvez possa ser resumido na conscientização de que novos paradigmas geram novas formas de visão e abordagem. Deste processo resultam novos valores éticos e humanos que vão se tornar relevantes em todas as dimensões da vida.
Dr. Roberto Naime, colunista do Ecodebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 09/06/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
só queria dizer que há um equívoco enorme nessa afirmação do Roberto Naime,
“que caos é anarquia, falta de organização, algo assim.”
anarquia, no caso seria ausência de governo, e não uma “falta de organização, algo assim” . Constitui -se numa organização social e política em que a ordem se dá de forma natural a partir da construção coletiva, sem necessariamente a presenta de governo.
e vai por ai, mas não vou me prolongar mais…
atenciosamente
Chico Bigotto
Nota do EcoDebate: Prezado Chico Bigotto, observe o contexto do artigo, conforme expresso pelo autor.
Anarquia no seu sentido mais comum, de acordo com os dicionários, pode ser definida como: Desordem, confusão: uma instituição onde reina a anarquia; a anarquia dos espíritos.
Anarquia, quando conceituada enquanto conceito político [Anarquismo] pode ser definida como: Sistema político e social segundo o qual o indivíduo deve ser emancipado de qualquer tutela governamental.
Não há portanto um equívoco enorme, porque a definição usada é adequada ao contexto do artigo.
Caos e Anarquia são sinonimos,o que o homen esta producindo na natureza consciente ou inconscientemente e uma anarquia sem precedentes historicos-antropologicos.