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Artigo

Votação do Código Florestal: Confesso que assisti, artigo de Montserrat Martins

[Ecodebate] A gente faz coisas estranhas na vida, que não tinha planejado fazer, nem imaginava um dia confessar para os outros. Confesso que assisti a uma sessão da Câmara Federal, em tempo real pela internet, até o fim. Das coisas estranhas que vi, veio a vontade de contar para alguém. Obrigado por não ter parado de ler ainda.

Primeiro, as galerias vazias, o população não teve acesso a assistir aos debates ao vivo, portanto nem de se manifestar. Os deputados falando o tempo todo em nome do “povo”, mas eram eles mesmos – os blocos de deputados – quem se aplaudiam e se vaiavam reciprocamente. Assunto polêmico: alterações propostas no Código Florestal.

O líder do partido do governo revelou, então, que sua bancada se retiraria da votação (que ficaria adiada) porque o relator (Aldo Rebelo) havia feito alterações em algumas palavras após o acordo de líderes no texto que seria levado à votação.

Na sua vez de falar, o relator apelou para o ataque, “denunciando” que no twitter a ex-senadora Marina estaria dizendo que ele havia “fraudado” o texto; a partir daí, ele passou a fazer acusações contra o marido dela. O projeto que seria ou não votado, as alterações que foram ou não feitas após o acordo, viraram então assunto pessoal, Aldo versus Marina. Jogo de cena? Baixaria? Em horas assim lembramos porque as pessoas não gostam de política. Ou porque algumas gostam, é claro, tem gosto pra tudo.

Para fechar a noite (e aliás, já à meia-noite), o presidente da Câmara foi “ameaçado” pela oposição de que haveria “revanche” contra projetos do governo que precisassem de quorum, já que a base governista retirara o quorum (após a troca de palavras do texto, pelo relator). Como se chamaria isso, justiça, retaliação, chantagem explícita ?

Confesso que assisti a tudo isso (ainda tem alguém lendo, a essa altura?), movido por um sentimento de “dever cívico”, sabe lá o que é isso? Tipo aquele pensamento de que “as pessoas que não gostam de política são governadas pelas que gostam”. Você pode não acreditar, eu confesso que assisti mas não gostei, só suportei por um “senso de dever”. Que é saber, afinal, o que pretendem fazer com o nosso futuro – começando por assistir o que pensam nossos políticos, para depois avaliarmos o que podemos fazer com isso.

Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 13/05/2011

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7 thoughts on “Votação do Código Florestal: Confesso que assisti, artigo de Montserrat Martins

  • Que dó de vc… Deve ser bonzinho né?

  • Debora Wanderley

    Não podemos perder de vista que os nossos deputados e senadores não vieram de Vênus ou de Marte, que lamentávelmente vieram sim, de uma parte da nossa sociedade, e que muitos aprovam e aplaudem atos lastimáveis como este. Que exemplo feio para a nossa juventude, um deputado que ganha altos salários pagos pelos cofres públicos deveria ao menos dar exemplo de ética e decoro.

  • Gleice Rezende

    Meu caro Montserrat Martins, veja como tudo isso é absolutamente horrivel, detestavel. Mais terrível ainda é o fato de essas pessoas que estão lá no Congresso decidindo coisas, tiveram esse aporte a partir do voto do eleitor. Como mudar tudo isso????? como fazer com que nossos representantes políticos sejam menos ambiciosos e canalhas? Eu defendo o voto nulo como forma de pressão até aparecer um projeto de REFORMA POLÍTICA DE VERGONHA.

    A propósito, seu artigo traduz o que a maior parte do eleitorado sente: NOJO DE TUDO ISSO mas…a batalha é longa e árdua. Vamos seguindo!

  • Elaine Cristina Correia

    Infelizmente nossos governistas entendem a proposta dos ambientalistas, que são justas ao futuro do planeta, mas acontece que não querem inserir uma nova lei, por acharem que a terra é o sustento de um povo.
    Enxergamos uma mazela da população referente ao desmatamento, poluição de rios e córregos, poluição do ar, etc.
    A sede por produção agrícola é tanta que iremos ficar em falta de equilíbrio natural devido a ganância desmedida.

  • Eu discordo da Débora que nossos deputados e senadores não vieram de outros planetas, porque não é possivel que seres do planeta Terra teriam essa voracidade na tentativa de destrui-lo.

    Eu acho sim que alguns politicos são ETs. porque é dificil compreender que humanos não planejam com segurança a proteção ao meio ambiente e garantam um futuro confortavel, hospitaleiro e segurança de sobrevivencia para seus próprio filhos e a verdadeira raça humana.

    O assunto natureza nunca deveria estar no meio de tanta polêmica, ela deveria ser consenso entre todos os seres “racionais” da Terra, porque e dela que se gera a VIDA.

    Que São Francisco de Assis nos proteja e ilumine.
    (São Francisco é patrono da ecologia.)

    PAZ E BEM !

  • eu tb lembro uma sessão que assisti e foi até ás 3 da manha: quando nossas excelencias votavam a favor de si mesmas aumentando o numero de vereadores, e na platéia, claro, eles mesmos, os que já pensavam em se beneficiar da lei, para a eleição passada, e com isso, pegar uma boquinha…fico me perguntando se era isso mesmo que o povo brasileiro ia querer: aumentar o numero de parasitas, será? Por que não aumentar as possibilidades de democracia direta?

  • É preciso revolucionar o modelo de educação vigente em nosso país. As crianças e adolescentes passam pela escola e nunca têm a oportunidade de discutir política e cidadania, aliás, é extremamente combatida qualquer iniciativa de algum (a) educador(a) tratar desse tema em sala de aula… Aí o que dá é isso: sociedade reacionária, corrupta e consumista, elegendo seus “verdadeiros” representantes.

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