Práticas agrícolas são fundamentais para a defesa de ecossistemas
O futuro do planeta Terra será determinado pela forma como a comunidade mundial organizará a produção de alimentos nos próximos anos. A agricultura e a silvicultura são as maiores responsáveis pela proteção ou destruição dos ecossistemas.
O alerta, urgente, consta no relatório do Conselho Agrário Internacional (CAI – International Assesment of Agicultural Knowledge, Science and Technology of Development), de mais de duas mil páginas, assinado por 58 países, em 2008, e que aparece comentado no livro do pastor Sílvio Meincke “Quem vai alimentar o mundo?”, da Editora Oikós.
O lançamento do livro ocorreu na sexta-feira, 6, na Biblioteca Pública Municipal de São Leopoldo, e contou com a presença do prefeito da cidade, Ary Vanazzi, de colegas, amigos e interessados no tema. O relatório é claro, escreve Sílvio: não é possível continuar com os métodos atuais da agricultura, porque eles estão destruindo o planeta sem conseguir alimentar todos os seus habitantes.
Sílvio relatou aos amigos que procurou o coordenador da Fundação Agricultura do Futuro e um dos relatores do documento do CAI, o ativista alemão Benedikt Haerlin, com o pedido de que fizesse um resumo do texto.
“Fui atrás dele em Stuttgart depois em Stassburg e ele me respondeu que não tinha tempo para fazê-lo. Visitei-o em Berlim, onde trabalha, e ele me respondeu que podia escrever o resumo mediante pagamento. Argumentei que não tinha dinheiro para pagá-lo. Por fim, encontrei-o em Munique, e disse a ele que publicaria o resumo do relatório no Brasil. ‘Se for no Brasil – respondeu de imediato – faço o resumo de graça, porque o país é o maior consumidor de herbicida do mundo’. Assim consegui trazer o resumo do CAI para o meu livro”, contou Sílvio.
Numa iniciativa do Banco Mundial, o CAI reuniu mais de 500 cientistas de todas as áreas do conhecimento e continentes que, arrependidos do seu trabalho no passado, debateram, trabalharam e levaram quatro anos para redigir o relatório. O documento convida para uma mudança de paradigma na pesquisa e no conceito de desenvolvimento, valorizando o saber milenar de pequenos agricultores.
Segundo Sílvio, “o CAI desconfia da transferência da agricultura altamente tecnificada dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, porque a situação dos pobres, especialmente na área rural, apesar do aumento da produção mundial, piorou nos últimos anos.”
O irônico é que do contingente de desnutridos no mundo 70% vivem na área rural. O acesso da população aos alimentos equilibrados diminuiu de modo considerável por causa das lavouras monoculturais. Cereais como arroz, trigo, soja ocupam 85% das culturas do planeta. Recursos alimentares nativos – árvores, frutas silvestres, folhas, leguminosas, raízes, tubérculos – foram e continuam sendo destruídos pelo emprego de fungicidas, pesticidas e adubos químicos.
Produtos alimentícios industrializados, que vêm de fora, eliminam produtos tradicionais. Donas de casa marroquinas selecionavam e cultivavam suas mudas de morangos, o que reforçava o orçamento doméstico. Hoje, essa produção está ameaçada pelas milhares de caixas de papelão com morangos que o Marrocos importa da Espanha, produzidos por mão de obra barata de imigrantes… marroquinos.
O CAI defende a “soberania alimentar” – a decisão sobre o que produzir e como produzir sem as amarras de empresas multinacionais fornecedoras de sementes, que necessitam de determinados venenos e adubos químicos para se desenvolver. O CAI propugna a produção e consumo de alimentos agroecológicos, para o bem da saúde do consumidor e do planeta.
“Quem vai alimentar o mundo? – História de pessoas que produzem alimentos” é apresentado pelo teólogo luterano Roberto Zwetsch, tem 152 páginas, que reportam temas do cuidado do meio ambiente, da terra, da água e do ar trazendo histórias de empresário, assentado, sem-terra, veterinário, indígena, quilombola e outros atores sociais.
Radicado na Alemanha, Sílvio lançou, ainda, na noite de sexta, “Ser feliz e outros temas atuais”, “Horizontes e raízes – histórias de sesmarias e de picadas”, e um CD com letras sobre o cuidado da Criação.
Matéria da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), publicada pelo EcoDebate, 12/05/2011
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