Fazendo de conta que os licenciamentos ambientais são de verdade, por Henrique Cortez
[EcoDebate] O título deste texto é menos absurdo do que pode parecer à primeira vista. Nos últimos anos, estão cada vez mais freqüentes as denúncias de EIA-RIMAs tecnicamente inconsistentes ou fraudulentamente produzidos. E isto é um problema extremamente sério.
Já é evidente que surgiu uma indústria de EIA-RIMAs pré-fabricados apenas e tão somente para atender às exigências legais mínimas. A cada dia surgem novos questionamentos sobre a veracidade destes estudos.
Neste sentido os casos das hidrelétricas de Barra Grande, no rio Madeira, de Belo Monte, da usina nuclear deAngra 3 e outros casos escandalosos. No EcoDebate a tag “licenciamento ambiental” é rica em detalhes deste problema que se agrava.
As ambientalistas Ana Echevenguá (Eco&Ação) e Telma Monteiro (Blog Telma Monteiro) são figuras importantes nas denúncias dos licenciamentos de mentirinha, tão do agrado dos grandes interesses econômicos e do governo desenvolvimentista de plantão. Em seus sítios/blogues discutem, denunciam e expõe esta “linha de montagem” de licenciamentos, com clareza e profundidade.
Este governo não consegue compreender que o processo de licenciamento ambiental é “ligeiramente” diferente da concessão de um mero alvará e por isto não suporta a idéia de que as licenças não sejam concedidas automaticamente, como se fossem meros detalhes burocráticos.
Se dependesse do voluntarismo governamental teríamos ampla e irrestrita concessão de licenças ambientais, para quaisquer atividades, sem qualquer consideração para com as questões socioambientais.
Diversos membros do primeiro círculo do poder já afirmaram que a grande fase do desenvolvimento do Brasil se deu durante os governos militares, coincidentemente uma época em que as preocupações sociais e ambientais das grandes obras simplesmente inexistiam.
Aliás, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva não cansou de elogiar os projetos dos governos militares, quando a agenda desenvolvimentista era imposta na marra.
O governo, desde o governo Lula, reclama dos ambientalistas, dos índios, dos quilombolas, dos ribeirinhos, do ministério público, do poder judiciário, dos movimentos sociais e de todos os que não concordam com esta opção pseudodesenvolvimentista. E reclama com razão, porque estes segmentos da sociedade não aceitam este modelo de desenvolvimento a qualquer custo.
Enquanto isto, a tragédia dos licenciamentos de mentirinha se agrava. Os erros e inconsistências são de tal monta que os órgãos ambientais, em muitos casos, chegam a exigir tantas condicionantes que praticamente equivalem a outro EIA.
Isto, em princípio, não seria um problema se os órgãos ambientais não estivessem sucateados, sem funcionários técnicos e com uma inadequada estrutura técnica e administrativa.
A fragilização estrutural, a falta de funcionários capacitados e corretamente qualificados e a falta de suporte de adequadas políticas públicas dificultam a avaliação técnica dos licenciamentos e abre portas aos oportunistas. Isto é um problema com mais de 10 anos e continua a se agravar.
Outra questão que está sempre presente é o abandono dos compromissos de mitigação e compensação exigidos na Licença Prévia. Os empreendedores sabem que os órgãos ambientais não conseguirão fiscalizar o cumprimento das condicionantes antes da Licença de Operação (LO) e, neste momento, não terão apoio político para revogar o licenciamento.
Aliás, nada obriga que um empreendimento seja licenciado. Diante dos impactos socioambientais o órgão licenciador pode e deve negar o licenciamento. Ok, pode e deve em tese, porque isto não acontece, nem que o governo tenha que substituir o dirigente, tal como recentemente aconteceu com um ex-presidente do Ibama em relação ao licenciamento ‘provisório’ da UHE de Belo Monte.
E a indústria de EIA-RIMAs pré-fabricados apenas piora o problema. Bem, mas o que fazer?
Já foi um grande avanço quando o IBAMA suspendeu a licença ambiental para Hidrelétrica do Baixo Iguaçu (PR) , em razão de uma ação civil pública. O empreendimento seria construído nos municípios de Capanema e Capitão Leônidas Marques, a cerca de 500 metros do Parque Nacional do Iguaçu. A ação afirma que o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) têm lacunas e omissões que impedem o dimensionamento adequado dos impactos que a construção provocaria.
Em primeiro lugar, é evidente que o licenciamento existe para ser rigorosamente observado. E não existe a obrigatoriedade de licenciar toda e qualquer obra, só porque uma empresa e/ou o governo querem que assim seja.
Para isto, os órgãos ambientais, na medida do possível, já estão fazendo o que devem – analisando com rigor e critério. Ao empreendedor cabe o risco de ter a análise tão demorada quanto o EIA-RIMA for impreciso ou inconsistente. E, se for o caso, ter o licenciamento negado.
Em segundo, no caso federal, excluir do Cadastro Técnico Federal todas as empresas que tenham “produzido” estudos sem qualidade técnica. No caso de fraude ela deve ser tratada como realmente é: como crime. E , aos empreendedores, co-responsáveis no EIA-RIMA fraudulento, ficará o ônus do licenciamento negado.
E, por fim, os Conselhos Regionais, dos profissionais que subscrevem os EIA-RIMAs inconsistentes ou fraudulentos, devem apurar as responsabilidades profissionais e, definidas as responsabilidades em processos administrativos, aplicar as penalidades previstas em lei, inclusive a cassação do registro profissional.
Esta crise só terminará quando acabar a impunidade e é isto que devemos exigir.
Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br
coordenador editorial do Portal EcoDebate
EcoDebate, 27/04/2011
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Isso mesmo, os licenciamentos acaba, sendo de mentirinha, nos nossos tristes trópicos. Na verdade, por mais que os servidores se esforcem, do IBAMA ou de outros órgãos licenciadores, quem emite e assina a licença é o presidente. Ou seja, sempre emite !!! a Res. CONAMA n. 001 de 1986 é ótima e preconiza que um empreendimento pode e deve sim ter alternativas locacionais e tecnológicas de vulto, ou seja, ele pode ser impedido de ser construído SIM se apresentar impactos ambientais insuportáveis. Mas infelizmente isto nunca acontece. Nós ficamos dependentes totalmente dos MPEs, MPFs e TCU, que se não fossem eles, nada da legislação ambiental seria obedecida. Só que, quando chega no STJ ou STF, novamente os projetos obedecem ao(à) presidente do Brasil, todo-poderoso(a). O tamanho do sucateamento do IBAMA e etc. é absurdo, como eu escrevi aqui em 18 de abril útlimo. O IBAMA está parado, sim, está parado !!! Nunca foi tão ruim, a presidente realmente não quer vê-lo funcionar. Nosso presidente mandou um solícito memorando em que manda nós pararmos tudo o que custa dinheiro, pois só serão autorizadas “emergências”… E pode crer que, certamente, as inúmeras e importantíssimas condicionantes dos licenciamentos não são consideradas emergências !! Grata, att, Roberta Graf, servidora do IBAMA / Acre.
Muito grato, Henrique! … pingo no ‘i’!
É sério, seríssimo! O Governo, em nome do PAC está burlando, ignorando não apenas a legislação de proteção ambiental, mas o futuro das gerações atuais e futuras.
A nossa legislação ambiental inteligente, bonita, e bem fundamentada, para a proteção de tod@s Brasileir@s. É feita para a proteção da Saúde e do Bem Estar desta e das futuras gerações. Não podemos abrir mão disso.
A situação que entramos é a pior imaginável, quando um Governo, à revelia da Leis e dos interesses Nacionais (das atuais e futuras famílias Brasileiras), libera a degradação dos nossos Rios e cabeceiras, a espolia os nossos Minérios, destruindo os meios de sobrevivência de tantas comunidades sertanejas e indígenas… a ainda, empresas transnacionais estrangeiras cheios de poder subjugan trabalhadores à tratamento degradante, etc, etc.
Isso é um pesadelo, um grande paradoxo à resolver.
Como? Temos cabeças pensantes, sinceras, honestas – como a do próprio Henrique Cortez, entre tantas outras.
É preciso uma Pausa, para avaliar os poréns do PAC. Acelerar para onde, Cre$cimento para quem?
Qual o motivo de acelerar, quando o momento planetário, humano é de cautela e receio?
Nesta descida Acelerada, em reta para uma Crise (Colapso, Calamidade) Ambiental, precisamos pôr a mão no freio, ter cautela, resgatar a governança humanista, adequada, democrática, em benefício à toda a população – principalmente aos segmentos mais fragilizados, sofridos e vulneráveis.
Lembrando que a qualidade de vida de uma sociedade, de um país não se mede pela média ou pelo mais alto, mais pelos segmentos mais pobres, sofridos e excluídos.
A felicidade e o bem estar de poucos não pode ser à custa de muitos.
É como se estivéssimos entrando em uma nova Idade Média, entre eras, onde se perdem valores e se vive em luta, cada um por sí. Porém, temos tudo para Avançar para um mundo humanitáro, com qualidade de vida boa, livre e boa para tod@s. Temos que almejar isso.
Por um novo PAC: Programa de Amor e Carinho para tod@s!
Peter
É verdade, basta ver o RIMA do emissário submarino do COMPERJ, totalmente fora das normas.
Trabalho em um departamento de meio ambiente, dentro da secretaria da agricultura. Sou estagiária, acadêmica do curso de ciências biológicas.
O que vem acontecendo por aqui é o seguinte..
Se você nega, se você não faz, se você coloca os riscos futuros.. Não interessa.
Quer dizer, moro em cidade pequena, com grande área rural. Corte de araucária (nossa espécie nativa daqui) para substituição por pinus é alarmante!
O departamento é pequeno, e trabalham juntos educação ambiental, fiscalização ambiental e licenciamento ambiental. O problema é que somos em poucas pessoas, trabalhando o tempo todo, para sempre ter nosso trabalho considerado nada.. Por que? Porque o poder público é quem sempre dá as cartas no final.
Não interessa se a gente não permite.. Se você for na prefeitura, conhecido de alguém.. você faz qualquer coisa.
E isso é uma vergonha.