Expandir reatores nucleares não é uma solução, mas fonte de problemas, artigo de José Goldemberg
Foto divulgada pela Tokyo Electric Power CO mostra dano em reator 4 de Fukushima (Foto: Reuters/G1)
[Folha de S.Paulo] O grave desastre nuclear de Fukushima reabriu o debate sobre o futuro da energia nuclear no mundo, que parecia passar por um “renascimento” após 20 anos de estagnação.
No período de 1970 a 1980, cerca de 30 novos reatores eram postos em funcionamento por ano.
Após os acidentes de Three Mile Island, nos EUA (1979), e Tchernobil (1986), apenas três por ano em média eram inaugurados.
Os motivos para tal são bem conhecidos: elevação dos custos dos reatores nucleares, sobretudo devido às medidas de segurança introduzidas e à redução do custo do gás, que compete com energia nuclear para produção de eletricidade.
O “renascimento” se deve ao fato de que aumentaram as preocupações com gases de efeito estufa.
Além disso, as lembranças da catástrofe de Tchernobil foram esquecidas, e a indústria nuclear passou a imagem de que reatores eram imunes a acidentes.
O desastre de Fukushima sepultou estas ilusões: reatores são perigosos, e os riscos decorrentes são imediatos e bem diferentes dos riscos do aquecimento global, que só vão ocorrer no futuro e os quais ainda temos tempo para prevenir.
Reabrir o debate sobre o futuro da energia nuclear significa que novas medidas de seguranças serão introduzidas, que poderiam talvez protegê-los de acidentes.
É verdade que o problema do Japão foi causado por um terremoto e um tsunami que não ocorrem em outros lugares do mundo e muito menos no Brasil.
Contudo, nada impede que outro tipo de acidente venha a ocorrer como foi o caso de Three Mile Island, onde o derretimento do núcleo foi causado por defeitos mecânicos sem terremotos ou tsunamis.
Este reator era do mesmo tipo que os existentes em Angra. Segurança absoluta não existe.
Mais segurança significa maiores custos, que podem inviabilizar energia nuclear por razões econômicas.
Por essas razões, alguns países re-examinarão o interesse em prosseguir instalando reatores e optarão por outras soluções para produzir a energia elétrica de que necessitam.
Este é o caso da Alemanha, onde a premiê Angela Merkel já suspendeu a prorrogação da vida de alguns reatores e irá estimular a produção de energia renovável para substituir a energia que eles produziriam.
Provavelmente a China seguirá o mesmo caminho.
O Brasil tem várias opções melhores que energia nuclear: hidroelétrica, biomassa no Sudeste e energia eólica no Norte e Nordeste. Expandir a construção de reatores nucleares não é solução, mas fonte de problemas.
JOSÉ GOLDEMBERG é professor da Universidade de São Paulo.
Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 21/03/2011
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