De Chernobyl até hoje, a tecnologia melhorou, mas os riscos continuam
As instalações nucleares são seguras? Pode-se responder a essa pergunta de dois modos: com uma análise técnica ou com um simples teste psicológico. Tomemos o teste. Dizem-lhe que uma refinaria explodiu a 40 quilômetros de casa. Você estende um doloroso pensamento às dezenas de vítimas da bola de fogo e volta para se ocupar com os seus afazeres. Dizem-lhe, ao contrário, que explodiu uma central nuclear do outro lado do mundo, no Japão. Você se apressa para fechar as janelas e retira leite e verduras da despensa.
A reportagem é de Maurizo Ricci, publicada no jornal La Repubblica, 13-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Existem 400 centrais nucleares no mundo, e o número de acidentes relatados é baixo. Mas, embora improvável, o risco, como se viu no Japão, existe. E, se o improvável acidente se verifica, as consequências são enormes: potencialmente, todo acidente nuclear é um desastre mundial, que coloca em perigo qualquer ser vivo e cujos efeitos se prolongam – como em Chernobyl – por décadas.
Quanto mais um reator é novo e moderno, mais é seguro, asseguram os técnicos. Na realidade, os progressos no campo da segurança referem-se sobretudo à introdução de um interruptor automático, que interrompe a fissão quando criam-se situações de perigo. Mas nem isso, no entanto, foi conquistado: os trabalhos de construção das centrais de Olkiluoto e Flamanville (onde funcionaram reatores idênticos aos previstos para a Itália) foram bloqueados pelas autoridades de vigilância, justamente por dúvidas sobre a eficiência do software que constitui o interruptor.
Em todo o caso, o problema japonês, em Fukushima, não se refere ao reator e ao seu apagamento. Não conta que se tratem de reatores de água leve, embora pressurizada (como os que serão importados da França para a Itália), nem que o reator japonês já tenha 40 anos. O reator parou disciplinadamente. O problema é que, depois, porém, é preciso esfriá-lo rapidamente. O drama japonês está aqui. É um problema de tubos, bombas, torneiras. Velhas tecnologias com um forte componente humano.
No incidente de Fukushima, há uma inquietante concatenação de casualidades, banais e nada remotas. O terremoto interrompeu a eletricidade: é preciso bombear água para esfriar as barras. Mas o motor a diesel da bomba de emergência se bloqueia. Enquanto isso, as barras de urânio continuam aquecendo-se, aproximando-se perigosamente do nível de mais de 500 graus, quando correm o risco de começar a se fundir e escoar para baixo. E a temperatura faz explodir (provavelmente) um dos tubos que levam a água, fazendo ruir o teto do edifício. O que explodiu exatamente?
“Explodiu o reservatório do reator”, explica Paddy Regan, físico nuclear inglês. “É fundamentalmente o que aconteceu em Chernobyl, e o vazamento de radioatividade é enorme”. Se, ao contrário, o dano está limitado à estrutura externa, “enquanto o reservatório interno de aço permanecer intacto – diz Robin Grimes, professor do Imperial College de Londres – a maior parte das radiações será contida”. Mas há uma terceira e angustiante possibilidade, que até agora jamais ocorreu: que o terremoto ou a explosão tenham danificado o pavimento do reservatório do reator e que o combustível fundido se propague pelo terreno, onde se tornaria impossível contê-lo ou recuperá-lo.
Mais do que Chernobyl, portanto, Fukushima lembraria Three Mile Island (zero vítimas). Mas o incidente revela quanto os eventos externos e incontroláveis podem ser determinantes. Em uma visita à central de Olkiluoto, na Finlândia, o diretor dos trabalhos, Martin Landtman, disse que o reator será protegido por uma dupla camada de cimento (contra ataques aéreos tipo 11 de setembro) e por um tanque de aço para evitar que, em caso de fusão, o combustível acabe no terreno.
“Naturalmente – acrescenta –, preparamo-nos para os eventos que podemos prever”. Mas a natureza oferece muitas vezes eventos imprevisíveis. A velha central de Trino Vercellese, por exemplo, está na beira do rio Po, sete metros acima do nível normal da água. Jamais houve no Po uma cheia superior a sete metros. Se, porém, houvesse uma de oito metros, a água poderia penetrar na central e levar embora consigo as sobras radiativas.
O outro exemplo é oferecido por Fukushima. Todas as centrais são construídas para resistir a um certo nível de abalo sísmico. Fukushima foi pensada para resistir a abalos de seis graus da escala Richter. Na sexta-feira, ela sofreu tremores mil vezes mais fortes. Se as estruturas principais permaneceram firmes, significa que os critérios de construção podem permitir que se superem eventos externos, até superiores ao previsível. Mas não as consequências. Se tudo vai bem, sempre é possível se resignar, como os habitantes de Fukushima, a uma dieta de iodo.
(Ecodebate, 15/03/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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