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Saúde de qualidade pode significar melhor desempenho escolar

Estudo da FEARP que envolveu quase 5 mil cidades brasileiras avaliou impacto da saúde sobre desempenho escolar

O desempenho escolar de uma criança pode estar diretamente ligado às condições de saúde. O economista Daniel Roland buscou evidências para confirmar esta hipótese numa pesquisa que envolveu 4.959 municípios brasileiros. O objetivo foi analisar o impacto da saúde sobre o desempenho escolar de alunos da quarta série do ensino fundamental, nos anos de 2005 e 2007, em todo o País.

“Os resultados indicaram que há sim um impacto positivo, mas apenas em alguns indicadores”, revela o economista. O estudo foi realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP, com base em dados do DATASUS — banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) — e da Prova Brasil, dos anos 2005 e 2007.

Roland ressalta que no Brasil existe uma carência de bases de dados que tenham, simultaneamente, indicadores de saúde e de desempenho escolar. “Isso dificulta as pesquisas sobre o tema. Por isso meu estudo não pode ser considerado como definitivo”, alerta o pesquisador. Segundo o economista, serão necessários ainda mais estudos, principalmente com informações mais individualizadas.

Roland utilizou dados referentes a microrregiões. “Podemos citar como exemplo de microrregião a cidade de Ribeirão Preto, cujos serviços de saúde atendem a outros municípios próximos”, descreve, ressaltando que “a unidade de observação no estudo foi a microrregião, e não o aluno”. Ao todo, a pesquisa avaliou cerca de 550 microrregiões de todo o País.

Dengue
A pesquisa de Roland também avaliou casos de dengue. Em cidades com altos índices de infecção da doença o desempenho escolar das crianças foi mais baixo. Contudo, o economista alerta que, também em relação à dengue, a pesquisa não pode ser considerada conclusiva. “Algumas cidades não possuíam informações precisas sobre a doença. Trabalhamos, então, com apenas 1.524 municípios. Quase todas as cidades da região Sul, por exemplo, ficaram fora da avaliação por terem poucos casos de dengue”, revela o pesquisador.

Mesmo com os dados que considera ainda não conclusivos, Roland cita que nas cidades que tiveram surto de dengue no período pesquisado, o desempenho dos estudantes chegou a ser até 6% pior em relação a outros municípios. “Isso considerando a média de 180 pontos da Prova Brasil”, lembra. O estudo também avaliou alguns casos de meningite, porém não houve dados suficientes para dar continuidade à pesquisa.

Métodos
Para obter os resultados em sua pesquisa, Roland aplicou técnicas básicas aplicadas em economia: a regressão linear e o propensity score matching. A regressão linear procura isolar o impacto de uma variável sobre a outra. “Medimos a qualidade dos indicadores de saúde e infraestrutura do atendimento de uma microrregião, que é uma variável, e seus impactos sobre o desempenho escolar, nossa outra variável”, descreve Roland.

Para aferir os dados em relação à dengue o pesquisador utilizou o matching. Segundo ele, trata-se de uma técnica mais aprimorada. “Procuramos comparar municípios com características muito semelhantes, com probabilidade de ter surto de dengue muito parecida, mas um município acabou tendo surto de dengue e o outro não”, conta. “Dessa maneira, as cidades não diferem entre si, exceto pelo fato de um ter tido surto e o outro não. Assim, diferenças no desempenho escolar entre municípios podem ser atribuídas inteiramente ao surto de dengue.”

A pesquisa O efeito da saúde sobre o desempenho escolar foi apresentado em fevereiro de 2010, sob orientação do professor Luiz Guilherme Scorzafave.

Reportagem de Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 10/03/2011


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