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Artigo

O Tiririca não sabe o que um Deputado Federal faz. Será que todos nós sabemos? artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá

Tiririca
Foto: Jornal de Negócios Online

[EcoDebate] A primeira vez que eu vi o Tiririca, foi na televisão. Ele estava cantando Florentina. Eu ri bastante, pois pareceu uma figura exótica, apresentando uma musica sem pé, nem cabeça e com uma roupa horrorosa. Um verdadeiro palhaço. Eu pensei com os meus botões: De onde veio essa figura? Mais tarde descobri que tinha vindo do Ceará, terra dos grandes comediantes. O Chico Anísio está aí para comprovar e, na sua pessoa, homenageio todos os demais.

Assim se passaram aproximadamente 13 anos daquele dia. Como os programas humorísticos perderam a graça pra mim, nunca mais assisti o Tiririca, embora continuasse a ouvir comentários sobre a sua pessoa. Imagino que ao sair do nordeste, nunca tenha passado pela sua cabeça se candidatar a uma vaga para o congresso nacional, muito menos ser eleito Deputado Federal por São Paulo. Só que em Provérbios 16 vs 1 diz que “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem dos lábios do Senhor” e, como “os humilhados serão exaltados”, quem sabe Deus não está exaltando esse nordestino que, pela aparência e história de vida, deve ter sofrido bastante com a seca nordestina?

Tiririca saiu de Itapipoca, Ceará, para vencer em São Paulo, como tantos outros nordestinos e agora é motivo de uma ação do Ministério Público, por haver dúvida quanto a sua alfabetização, além de ter virado piada nacional, na Europa e nos Estados Unidos, como a noticia no site MSNBC, dos EUA, “No Joke: Clown triumphs in election” (“Não é piada. Palhaço triunfa em eleição”).

Descobriram que o candidato Tiririca não é alfabetizado, somente após o resultado das urnas. Porque não contestaram esse fato no momento do registro da sua candidatura? Porque não é exigível, para candidatar-se, a qualquer cargo eletivo, o diploma de no mínimo o ensino fundamental? Porque os analfabetos podem votar, mas não podem ser votados? Porque alguns “fichas sujas” podem e o Tiririca não pode? Porque não mudamos as leis e definimos critérios mais claros e objetivos, cujas exigências sejam comprovadas no ato do pedido de registro? Porque convidaram o Tiririca para se candidatar? São tantos os porquês sem respostas que me motivam a apresentar alterações na legislação eleitoral, quem sabe via Tiririca?

Constatamos que 1.348.295 eleitores de São Paulo decidiram transformar, não o palhaço, mas Francisco Everaldo Oliveira Silva, em seu representante em Brasília. Eu sei que o humorista deve estar sorrindo e, na sua ingenuidade, fazendo piada de si próprio, mas o Francisco esta sonhando com o Congresso Nacional. Quem o elegeu, principalmente o seu partido, tem a obrigação de ajudá-lo nessa empreitada, porque os demais hão de cobrar as promessas de campanha. O futuro de uma nação com 192.304.735 habitantes (Fonte: IBGE 2010) não deve ser tratado como piada.

Como já estamos acostumados com diversos “tipos” de deputados (anões do orçamento, aloprados, etc.), alguns inclusive, nunca apresentaram nenhum projeto de lei, o que é um absurdo, além de ser uma traição com os seus eleitores, quem sabe “um palhaço” de verdade, não seja a solução para fazer a “diferença”com que tanto sonhamos?

Eu lembro do Cacique Juruna, que, também era uma figura folclórica, com um gravador sempre em mãos, apresentar projetos que beneficiam até hoje a comunidade indígena, inclusive garantindo direitos na Constituição de 1988. Ele também foi motivo de piada e teve que brigar para derrubar o veto do governo que impedia a sua saída do país para a Holanda, em 1980, onde iria presidir o 4o Tribunal Bertrand Russel, de Direitos Humanos. Apesar do pouco tempo ele plantou uma semente, além de incentivar outros índios a seguir carreia política. Não consegui identificar nas Eleições 2010, quantos e quais índios conseguiram se eleger para algum cargo eletivo.

Eu espero que não faça sentido o Slogan: “Vote Tiririca, pior que tá não fica”, mas os nossos legisladores precisam honrar os votos recebidos e mostrar aos brasileiros que é hora de mudanças e que a “esperança por mudanças” não seja tão somente “esperança”, a partir de fevereiro de 2011. Que a esperança seja a “certeza” de que teremos uma melhor qualidade de vida, isto é, que as melhorias na saúde, na educação e na segurança, direitos de todos os brasileiros, não tenham sido apenas promessas de campanha, mas uma grande realidade. É ISSO QUE ALMEJAMOS DOS NOSSOS LEGISLADORES E GOVERNANTES.

Quando eu ouvi o Tiririca dizer “O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”, eu achei um absurdo, fiquei pasma. Agora, no entanto,ao escrever este artigo, confesso que eu também gostaria de saber. Eu conheço quais são as atribuições de um Deputado Federal, mas grande parte dos brasileiros não sabem o que eles realmente fazem. Existem inúmeros projetos de leis que estão, há anos, percorrendo as comissões e sem prenúncio de quando será votado e outros, que já deveriam ter virado lei, como a reforma tributária, nem saíram do papel.

O Tiririca não deixa de ter razão e vamos aguardar a sua posse (se a justiça deixar), pois só assim saberemos, de fato, o que um Deputado Federal faz. Eu gostaria que ele me respondesse, por exemplo, porque alguns deputados chegam a Brasília somente nas terças-feiras e vão embora na quinta-feira? Será que ele vai cumprir o horário do Congresso Nacional, ou vai agir da mesma forma? Vou esperá-lo tomar posse para poder questioná-lo.

Espero que “o humorista” fique em São Paulo, levando alegria para as pessoas e que o Deputado Francisco Everaldo Oliveira Silva possa se fazer presente em Brasília, entender como funciona toda essa engrenagem, que é a câmara dos deputados, e apresentar projetos que visem o bem coletivo para todos os brasileiros, além dos nordestinos.

Descobri que é muito mais difícil fazer alguém rir do que chorar e que o palhaço tem o dom de trazer alegria para as pessoas, usando da criatividade, do humor e da perpiscacia.

Foi dada a largada rumo ao congresso. Estamos torcendo para que o Tiririca aproveite essa oportunidade, que pode ser única em sua vida, e utilize o seu talento para fazer a diferença no Planalto Central e ajudar o Brasil a se desenvolver.

Finalmente, que ele não se deixe seduzir, nem se corromper, pelo poder e que a única sedução irresistível continue sendo a Florentina, porque o poder é passageiro.

Lélia Barbosa de Sousa Sá, paraense, engenheira civil e ex-presidente do CREA-DF.

EcoDebate, 19/11/2010

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3 thoughts on “O Tiririca não sabe o que um Deputado Federal faz. Será que todos nós sabemos? artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá

  • Lélia.
    Concordo com suas colocações – me fez repensar artigo que coloquei dia 15último num dos meus blogs: http://menganaquegosto.blogspot.com
    Esperamos que o Sr. Everardo não perca nem a ingenuidade nem a pureza muito rapidamente em Brasília.
    Paz e luz.

  • Quando eu ouvi o Tiririca dizer “O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”, eu achei um absurdo, fiquei pasma. Agora, no entanto,ao escrever este artigo, confesso que eu também gostaria de saber

    Eu sei…
    Eles reúnem um amontoado de parlamentares (não sei porque este nome) e votam no que for conveniente.

  • joão carlos cariry

    Parabéns admiro muito seus artigos !!!

Fechado para comentários.