O meio ambiente e a percepção ambiental, artigo de Roberto Naime
Prof. Roberto Naime
[EcoDebate] Os seres humanos e a humanidade por extensão, costumam despertar para uma realidade quando submetidos a situações-limite.
O acidente da Baia de Minamata, no Japão (epidemia que ocorreu nesta baia do Japão, há mais de 50 anos, onde alguns milhares de pessoas ingeriram peixes contaminados por mercúrio e desenvolveram doenças neurológicas graves com seqüelas por várias gerações, com danos irreversíveis no organismo e doenças teratogênicas), despertou a consciência humana para a compreensão de que nós fazemos parte e estamos integrados em um mundo natural.
Este despertar que se denomina percepção ambiental. É a forma que perceberemos e valoramos o meio ambiente no qual estamos inseridos. Sobre qualquer aspecto ambiental, desde recursos hídricos, eficiência energética, tratamento de esgotos ou efluentes industriais, gestão de resíduos sólidos, monitoramentos atmosféricos, ecodesign e ações de responsabilidade socioambiental. Sem desnecessárias definições acadêmicas com expressões sofisticadas.
Este mundo natural do qual fazemos parte, tem uma potencialidade infinita, representada por sua biodiversidade. Ao mesmo tempo tem suscetibilidades próprias e muito delicadas, conforme comprovam os acidentes com poluição de águas, que são uma das faces mais visíveis da exposição ambiental.
O meio ambiente no qual vivemos é integrado por três compartimentos: o meio físico, constituídos de rochas, solos, águas superficiais, águas subterrâneas, geomorfologia e climas; o meio biológico, constituído de flora e fauna e o meio antrópico ou socioeconômico, correspondente a todas as atividades humanas e suas relações com o meio físico e biológico.
Portanto para se ter condições de perceber o meio ambiente, é interessante que o indíviduo possua um conhecimento básicos dos meios físico e biológico, para poder avaliar suas inter-relações com o meio antrópico, socioeconômico, ou todas as atividades humanas.
As próprias resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que orientam os trabalhos a serem efetuados na área ambiental tem conceitos que obrigam a compreensão integrada e sistêmica, com ampla influência da Teoria Geral dos Sistemas, do biólogo alemão do século XIX Ludwig Von Bertallanfy. E a mesma Teoria Geral dos Sistemas que muito influenciou o desenvolvimento da informática.
O conceito de impacto ambiental, Art 1 da Resolução 001/86 do CONAMA, de 23 de janeiro de 1986, considera “impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia (e aqui esta a influência de Bertallanfy), resultante das atividades humanas (e apenas geradas pelo homem, vulcões, terremotos e maremotos não são produzidos pelo homem e embora causem efeitos sobre a humanidade, não são impactos ambientais) que, direta ou indiretamente, afetam:
I.a saúde, a segurança e o bem estar da população;
II.as atividades sociais e econômicas;
III.a biota;
IV.as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V.a qualidade dos recursos ambientais.
O Artigo 6 da mesma Resolução define que o estudo de impacto ambiental desenvolverá trabalhos nas áreas dos meios físico, biológico e antrópico ou socioeconômico.
A influência dos conceitos sistêmicos é tão evidente quanto a natureza antropocêntrica dos conceitos.
Um sistema é um conjunto de elementos e das relações entre eles e seus atributos (HALL e FAGEN, 1956). Assim, o corpo humano é formado por vários sistemas (sistema digestivo, sistema respiratório, etc.). E o meio ambiente é formado por ecossistemas: marinho, lagunar, eólico, etc. E por biomas que são ecossistemas específicos, hierarquizados em conjuntos de relações entre os meios físico (rochas, solos, águas, geomorfologia e climas) e biológicos (flora e fauna), cujo exemplo de fácil compreensão no centro oeste é o cerrado ou o pantanal.
O cerrado ou o pantanal são conjuntos hierarquizados de relações entre os 3 meios, cujos resultados são específicos e inimitáveis, só ocorrem nas condições da combinação hierarquizada.
Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS.
EcoDebate, 18/11/2010
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Prezado Professor, nas minhas anotações divido as pessoas em dois grandes grupos: aquelas que percebem o meio ambiente em um ou mais compartimentos e suas relações, e aquelas que não conseguem perceber que a própria casa é um “meio ambiente” que merece tantos cuidados quanto o próprio planeta, visto que é receptora de todos os serviços oriundos dos três compartimentos. O segundo grupo (maior) é o grande dificultador das ações do primeiro (menor), vez que tem necessidades que exigem satisfação em curtíssimo prazo.
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUE PRECISAMOS NO SÉCULO XXI
Uma frase ouvida recentemente de um ativista ambiental – “atuamos sobre os efeitos e não sobre as causas” – sintetiza a tendência de, para simplificar a discussão, optamos por não assumir a plenitude do discussão, relegando a uma posição menor a necessidade de encontrar soluções. Ou seja, “é melhor conviver com o problema do que gerar as soluções”.
Acredito que as duas frases é que definem, em relação à Educação Ambiental, a real necessidade de uma reflexão de alguma de suas bases.
Este contexto não é diferente em outros países (tomamos como base pesquisa que o NEPA realizou para a Associação Portuguesa de Educação Ambiental / ASPEA, comparando os resultados com pesquisa realizada para o MEC.
A proposta não está baseada em opiniões pessoais – em EA este tipo de postura vale muito, pois se admite “ter longa experiência na área” o que, em muitos casos, sem ter uma componente de “avaliação de resultados, fica restrita a “pensar que tudo vai bem, e não pode ficar melhor”.
A iniciativa do NEPA em “induzir uma reflexão sobre a EA do século passado e aquela que precisamos para o século XXI” tem nos revelado algumas resistências daqueles que partem do princípio que esta reflexão é um “processo de identificar e reconhecer falhas” e, deste modo, não tem interesse que isso ocorra. Entende-se esta “postura reativa”, mas a postura do NEPA deve ser entendida como de “aprimorar pontos” até hoje adotamos como paradigmas..
.
Nosso grupo adota a postura de “sustentar posições” tendo como base dados pesquisados, e respeita as opiniões dos demais (não poderia ser diferente para quem pretende uma reflexão conjunta), mas que estas outras opiniões venham também lastreadas em fatos, de modo que seja possível comparar experiências em diferentes contextos.
Essa é uma postura que a sociedade não pode se negar a fazer sob pena de estar assumindo a idéia de que o princípio da prevenção não tem espaço no âmbito da Educação Ambiental.
Observando os valores financeiros alocados a Programas de Educação Ambiental ver-se – á que são valores altamente significativos, aportados pelos diferentes segmentos sociais, públicos e privados. Porém se, em contrapartida, tentamos identificar quantos destes programas tem propostas de avaliação de sua eficácia junto à comunidade ao qual o programa foi aplicado, teremos uma (também) significativa frustração.
Analisando pelos extremos, ou não há necessidade de “avaliar resultados de Programas de EA” ou está faltando que este aspecto seja obrigatório no processo de aprovação de tais programas.
Concordamos que os resultados de um programa dessa natureza só podem ser mensurados em um horizonte muito amplo de acompanhamento (gerações), mas não podemos aceitar que não se possa lançar mão de “avaliações em curto prazo” onde se tente mensurar a diferença – certamente positivo – entre o nível de percepção ambiental do segmento que irá receber o programa e aquele avaliado após sua conclusão.
Como, quase sempre, “o ótimo é o inimigo do bom”, não se aceita um encaminhamento “bom”, pois estamos à procura do encaminhamento “ótimo”, não se justifica..
.
Vivemos tempos de um novo século, contexto que nos permite e exige a abertura das mentes para novas reflexões.
Já evoluímos muito na área da conscientização ambiental da sociedade, fato que se deve unicamente aos resultados da Educação Ambiental adotada no século XX, mas não há como prescindir da necessidade de reavaliar premissas, através de ações (boas e ótimas) que permitam estruturar um processo de avaliação contínua de resultados.
Roosevelt S. Fernandes
Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
roosevelt@ebrnet.com.br