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Artigo

Conhecimento, Energia e Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, artigo de Mayron Régis

[EcoDebate] Que rumo se pressente para o Baixo Parnaiba maranhense? Haveria várias hipóteses para o futuro dessa região. Conta-se com o futuro, com certo desconto, é claro, para que ele arranje energia em grandes prestações a perder de vista. Em que lugar se acharia uma fita métrica capaz de medir os quilômetros gastos por alguém no intuito de apressar o futuro e restringir o passado?

Os conhecimentos disponíveis para conjecturar a respeito do mundo foram devidamente neutralizados, esvaziados ou deportados pelas forças maiores do avanço da técnica sobre a vida social. Que técnica é essa? Haveria alguma semelhança entre a técnica do trabalho artesanal que predominava no começo do capitalismo para a técnica do trabalho massificado da crise do sistema capitalista?

Em um pouco mais de dois séculos, entre o final do século XVIII e o começo do século XXI, a humanidade se notabilizou por vários qualificativos que associavam e ainda associam técnica e civilização. A cidade de Paris, que no começo do século XIX, era mal-vista, anos mais tarde ficou conhecida como a cidade das luzes por causa dos investimentos em iluminação pública. Uma sociedade iluminada é uma sociedade que luta contra seus preconceitos mais arraigados e, portanto, é uma sociedade esclarecida.

Depois de um tempo, essa sucessão de sentidos extrapola para os demais semblantes da sociedade. Se iluminação e esclarecimento são correlatos, a sociedade precisaria gerar energia constante e gerar conhecimento em profusão para que permanecesse iluminada e esclarecida pelo futuro que resta. Tanto quanto a imensa epistemologia de epítetos que agraciaram a sociedade moderna como a mais iluminada e a mais esclarecida, os últimos séculos carregam consigo os feitos de que nunca antes se gerou tanta energia e gerou-se tanto conhecimento. E para onde foram essa energia e esse conhecimento? Nos países subdesenvolvidos, para replicar o sistema capitalista em núcleos que erigiriam estruturas similares às originais dos países capitalistas centrais. Essas estruturas propenderiam à extenuação rápida.

O conhecimento técnico dificilmente adverte e quando o faz, só o faz depois de o caldo entornar. A destruição do Cerrado leste maranhense, como do Cerrado sul-maranhense, só foi possível com as pesquisas da Embrapa para facilitar os plantios de soja e outras culturas em forma de monocultura. Os plantadores de soja jogaram tanto entulho em forma de conhecimento e de energia que já impermeabilizaram centenas de hectares em todo o Maranhão. O que fizeram em Brejo, Anapurus, Buriti de Inácia Vaz, Mata Roma, Milagres e Chapadinha pretendem continuar em Santa Quitéria, Barreirinhas, Paulino Neves e Tutóia.

O Programa “Territórios Livres Baixo Parnaiba”, programa que envolve o Fórum Carajás, SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaiba, financiado pela agência de cooperação ICCO, nesses mais de dois anos de existência discute com as comunidades tradicionais o desentulhar das suas áreas de extrativismo e de agricultura desse conhecimento e dessa energia que logo se esgotam a medida que mais conhecimento e mais energia se despendem para tornar possível o sonho das monoculturas próprias.

Mayron Régis, jornalista, é Assessor do Fórum Carajás e colaborador do EcoDebate.

EcoDebate, 17/11/2010


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