Independente do ‘vale-tudo’, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Se tivesse viajado para fora do país após o primeiro turno e alguém me contasse o nível da troca de acusações em que caiu o segundo turno, eu não acreditaria, tantos são agora os ataques pessoais nas propagandas de TV, num combate maniqueísta, do “bem” contra o “mal”. Não sei o que você tem ouvido por aí, mas vejo dois tipos de reações a isso. O primeiro, das pessoas engajadas na disputa, “demonizando” o outro lado, com argumentos do tipo “olha só o que eles fizeram” ou “olha o que tão fazendo na campanha”.
O segundo tipo de reação é o de decepção com este rebaixamento do debate. Em contraste com a situação atual, há referências à participação da Marina e também do Plínio pelo humor elegante deste – e nesse mesmo tom, ouvi uma pessoa pressionada a escolher entre Dilma e Serra dizer que “no segundo turno eu vou votar no Plínio”.
Ao final de outubro teremos na Presidência do Brasil alguém que deveria ser escolhido por suas virtudes, pelo seu projeto, não pelo atual clima de “vale-tudo” para chegar ao poder. Neste sentido, a decisão de Marina pela “independência” entre os dois candidatos, foi a única opção coerente com tudo que ela passou toda a campanha pregando, a lógica do debate ao invés do embate. Se houvesse possibilidade de se manifestar por um dos dois projetos deste segundo turno, isso não poderia significar a adesão à tese de que o outro lado é a encarnação do “mal”, numa eleição em que as preferências dos brasileiros se dividem quase ao meio. Como desprezar como se fosse do “mal” uma candidatura que representa cerca da metade dos milhões de brasileiros ?
Observe você mesmo, nas palavras da Marina, como esse “maniqueísmo” recíproco entre Dilma e Serra a empurrou para a posição de independência: “Quero afirmar que o fato de não ter optado por um alinhamento neste momento não significa neutralidade em relação aos rumos da campanha. Creio mesmo que uma posição de independência, reafirmando ideias e propostas, é a melhor forma de contribuir com o povo brasileiro. Agora, o mergulho desses partidos no pragmatismo da antiga lógica empobrece o horizonte da inadiável mudança política que o país reclama.
A agressividade de seu confronto pelo poder sufoca a construção de uma cultura política de paz e o debate de projetos capazes de reconhecer e absorver com naturalidade as diferentes visões, conquistas e contribuições dos diferentes segmentos da sociedade, em nome do bem-comum. Arma-se o eterno embate das realizações factuais, da guerra de números e estatísticas, da reivindicação exclusivista de autoria quase sempre sustentada em interpretações reducionistas da história. Na armadilha, prende-se a sociedade brasileira, constrangida a ser apenas torcida quando deveria ser protagonista, a optar por pacotes políticos prontos que pregam a mútua aniquilação.”
Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do EcoDebate
EcoDebate, 26/10/2010
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Entendo que o povo brasileiro tem que se educar melhor para assistir esta “baixaria” e simplismente “dar de ombros” e: primeiro não ligar seu aparelho como forma de repudio; segundo amadurecer está fase de deturpação e “estupro” mental ao qual nos deparamos.
Mais importante do que desprezar as calúnias e desconfiar das falas e promessas é analisar o histórico, os fatos e atos de cada candidato.