COP-10: Conferência sobre Biodiversidade alerta sobre necessidade da preservação das espécies
Metas estabelecidas há 10 anos não foram cumpridas e especialistas acreditam que grau de degradação ameaça a humanidade
“O homem está acabando com a vida na Terra.” Foi com esse alerta que o diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, abriu a 10ª Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-10). No encontro, que vai até o próximo dia 29, em Nagoya, no Japão, devem ser traçadas novas metas para a preservação das espécies de seres vivos do planeta, depois de nenhuma nação ter conseguido cumprir o que foi acordado 10 anos atrás, na COP-6, em Cartagena, na Colômbia. “Este é o único planeta no Universo em que sabemos que existe vida como a nossa e estamos destruindo as bases que a sustenta”, disse Steiner.
A cobrança de ações mais concretas dominou os discursos do primeiro dia de debates. A razão é o medo de que se repita o que ocorreu a partir da reunião de 2000 — muito foi combinado no encontro, mas pouco foi cumprido na década seguinte. “Chegou a hora de passar à ação e é preciso fazer isso aqui”, pediu Ahmed Djoghlaf, secretário executivo da convenção. “Vamos discutir sinceramente o futuro da Terra para encontrar uma solução”, acrescentou o ministro japonês do Meio Ambiente, Ryu Matsumoto, durante seu discurso de abertura. “Hoje, infelizmente, a vida humana é um problema para a natureza. Temos de ter coragem de olhar nos olhos das nossas crianças e admitir que nós falhamos, individualmente e coletivamente, no cumprimento das metas prometidas (anteriormente)”, completou. Reportagem de Max Milliano Melo, no Correio Braziliense.
O ministro ressaltou o papel preponderante que as demais espécies têm para a existência humana. “Toda a vida na Terra existe graças aos benefícios da biodiversidade, na forma de terra fértil e água e ar limpos. Mas estamos agora próximos de perder o controle se não fizemos grandes esforços para conservar a biodiversidade”, disse.
Pessimismo
O tom mais realista, e muitas vezes pessimista dos participantes da COP-10 — alguns especialistas compararam a atual onda de extinções à que levou ao desaparecimento dos dinossauros —, combina com o que vários analistas internacionais vêm defendendo nos últimos meses. Para muitos, as metas até agora estipuladas não foram atingidas por serem excessivamente complexas e vagas. “Essas metas são irreais”, acredita Charles Perrings, da Universidade do Arizona, um dos autores de artigo sobre o tema publicado recentemente na revista científica Science.
Perrings faz parte de um grupo de pesquisadores de Estados Unidos, Argentina, Suécia, Chile, Japão, Inglaterra, França e Alemanha que defende os chamados “objetivos inteligentes”, ou seja, metas que sejam “específicas, mensuráveis, ambiciosas, realísticas e comprometidas”. Como exemplo de como alguns dos compromissos de 2000 que não preenchem esses requisitos, ele cita a manutenção da substentabilidade na agricultura, na psicultura e no manejo florestal. “O texto baseia-se na ideia de que isso é o suficiente para a conservação da biodiversidade. As evidências científicas não dão suporte a essa teoria”, dizem os autores.
Apesar das críticas, o grupo de pesquisadores acredita que, se as metas forem mais realistas, a reunião pode criar outro paradigma sobre preservação ambiental e da biodiversidade. “Nagoya poderá ser um ponto de virada para a Convenção sobre Biodiversidade (o documento criado em 2000 e posto em vigor em 2002). O desenvolvimento de um planto estratégico baseado em metas, indicadores e ações é um passo positivo”, afirma Perrings.
Outro ponto indicado como essencial para evitar que o acordo que será discutido nas próximas duas semanas se torne apenas um protocolo de boas intenções é a criação de um Painel Internacional da Biodiversidade, semelhante ao Painel de Mudanças Climáticas, que já existe na ONU. A autarquia poderia ajudar os países a nortearem suas políticas sobre biodiversidade. “Proteger as florestas preserva as espécies, mas também ajuda a absorver as emissões de dióxido de carbono que provocam as mudanças climáticas”, compara Ahmed Djoghlaf.
Prejuízo
Para Helena Paverse, coordenadora regional do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Pnuma no Brasil, um acordo pode ser fechado se as nações se convencerem dos altos custos do desaparecimento de espécies. “Vários estudos já apontaram que é economicamente caro perder espécies, então, além de toda a questão biológica, existe também um problema social, que pode ser mitigado com a proteção da vida animal e vegetal”, afirma.
O pesquisador Willian Darwall, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) — organização internacional responsável pela elaboração da principal lista de animais e plantas em risco de extinção —, concorda com Helena. Ele aponta os rios e os lagos de água doce como exemplos da conexão entre as questões sociais e ambientais. Ele lembra que as espécies de água doce têm um papel importante na regulação da qualidade da água utilizada para o consumo humano. “Legitimar rios, lagos e outros habitats de água doce é uma forma de proteger tanto as espécies quanto as pessoas que dependem dessa água, além de assegurar progresso econômico mais equilibrado”, explica ao Correio.
Para ele, as metas para a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas de águas doce devem ser especificamente incluídos nos objetivos para 2020. “Talvez tenhamos que aceitar a perda de algumas espécies, mas o nível de risco para muitas delas já é inaceitavelmente elevado. Não podemos nos dar ao luxo de jogar fora uma variedade na esperança de que aqueles que sobreviverem serão suficientes para as nossas necessidades”, completa.
PROTEÇÃO
O relatório A economia dos ecossistemas e da biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês), lançado em setembro passado com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), traçou números concretos de quanto pode ser poupado com a preservação da natureza. As estimativas são de que a perda da biodiversidade custa ao mundo entre R$ 3,2 trilhões e R$ 8 trilhões por ano, principalmente para as partes mais pobres do planeta. “Autoridades locais de Canberra, na Austrália, melhoraram a qualidade de vida da população plantando cerca de 400 mil árvores. Além de deixar a cidade mais verde e regular o clima, a redução do uso de energia com ar-condicionado e a diminuição dos problemas respiratórios da população trouxeram uma economia entre US$ 20 milhões e US$ 65 milhões”, exemplifica o relatório.
Colaborou Paloma Oliveto
EcoDebate, 20/10/2010
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