Mídia, fôrma mental, artigo de Maurício Gomide Martins
[EcoDebate] Nós, os ambientalistas brasileiros, somos uma expressiva minoria que labuta na inglória tarefa de trombetear para a humanidade que um perigo mortal se avizinha. Nossa única arma é a palavra – preponderantemente a escrita – lançada sobre as cabeças humanas sob as formas de artigos, comentários e livros. Nosso intuito – sem influência econômica nenhuma – é esclarecer a grande massa de viventes de que urge providências urgentes em defesa da Vida no planeta. Pedimos-lhes que se incorporem ao nosso núcleo para que, com mais substância representativa, possamos sensibilizar os responsáveis pela governança social. São diversos intelectuais empenhados em tão nobre e desprendida missão. No entanto… no entanto, devemos dar uma paradinha nesse afã para melhor proceder a algumas análises e críticas dos fatores que constroem a realidade presente.
Primeiro obstáculo, a quantidade enorme de humanos a quem intentamos convencer, dizendo-lhes que as ações devem ser urgentes, porque o planeta já está mostrando sua prostração. Para isso – conscientizar as pessoas –, não há mais tempo, além de que a oportunidade fica impedida pelo motivo a seguir abordado.
Entre outras diversas barreiras, devemos salientar a maior e mais significativa delas, porque se interpõe em nosso caminho, afinada que está em sua função-cúmplice de servir exclusivamente ao seu senhor, o sistema econômico. Referimo-nos à mídia, em seu sentido geral, profissional, empresarial, representativo. Não podemos esquecer que as ações midiáticas se assentam na manipulação criminosa dos conhecimentos obtidos na área da psicologia.
Atemo-nos ao espaço em que vivemos e conhecemos: o Brasil. Só aqui, segundo informes estatísticos oficiais, 80% dos brasileiros não lêem. Mesmo sabendo, não lêem. O máximo que fazem é ler as manchetes de jornais sensacionalistas, julgando-se então aptos a opinar sobre tudo. Afinal, “ler é muito chato” no dizer de um governante próximo de nós. Não sabe ele que ler estimula a capacidade mental; instiga o pensamento e as idéias; faz-nos enxergar, perceber, sentir, conhecer, provoca a reflexão, aclarando a distinção entre o bem e o mal.
Mas o pior é a seguinte circunstância: os 80% que não lêem, mais uns 10% que lêem apenas o que lhes convém, no total de 90%, são diariamente informados, enformados (pôr na fôrma) e formatados – diariamente, repetimos – de tudo o que lhes é transmitida pelos veículos “informativos” servis, por meio de seus programas inteiramente deseducativos, fúteis, infantis (para crianças e adultos), imorais, tendenciosos, parciais, capciosos e, por isso mesmo, alienantes.
Só nos resta gritar, para os 10% restantes, que estamos vivendo um período histórico decisivo para a continuidade de vida no planeta, mas que ainda há tempo – muito pouco, esclareça-se – para mudarmos o rumo desta civilização suicida. Juntos, os abnegados ambientalistas, despendem seu tempo de descanso e outros afazeres para, com o poder da escrita, atenderem ao clamor íntimo de sua consciência e redigir textos esclarecedores que norteiam a todos nós para um tomada de posição correta.
A mídia, por força de seus instrumentos tecnológicos, pujança financeira e sustento logístico do sistema, se contrapõe à pregação sadia dos ambientalistas, sem despender esforços; basta arrebanhar as mentes comodistas dos 90% de espectadores.
Definição de espetáculo, modo de ação preferencial das emissoras de televisão: tudo o que prende a atenção dos ausentes mentais. Em outras palavras: paralisação ou anestesia do pensamento lógico. É como se fosse um outro tipo de religião. Enquanto esta se alicerça apenas na opressão e esperança de proteção da alma, aquela se firma na valorização de bens materiais. Essa atividade, garantidora do êxito da máquina estrutural do sistema, envolve praticamente todos os paises. A mídia é a linha de frente do que hoje é chamado de globalização, pois seus tentáculos se estendem e envolvem percentual expressivo da população mundial.
É contra esse Golias que nós os ambientalistas temos que lutar.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
EcoDebate, 14/10/2010
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Muito boa análise e reflexão. Somos realmente manipulados pela grande mídia chapa-branca e uma minoria privilegiada se ainda soubermos extrair fatos de entrelinhas ou páginas de menor destaque, onde o jornalismo investigativo ainda tenta trabalhar sem atrair a ira dos governantes e donos do Brasil.
Ainda dá tempo de mudarmos essa situação no segundo turno.